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Witzel se diz perseguido por Bolsonaro e cogita pedir asilo no Canadá

Wilson Witzel disse que ainda sonha em ser presidente: "Minha missão na política está apenas começando" - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
Wilson Witzel disse que ainda sonha em ser presidente: "Minha missão na política está apenas começando" Imagem: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

28/10/2020 10h28Atualizada em 28/10/2020 10h49

O governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), diz que se sente perseguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e cogita pedir asilo político no Canadá. As declarações foram concedidas em entrevista à Revista Veja.

Alvo de um processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Witzel ainda disse que "consegue emprego em qualquer lugar do mundo" e não desistiu do sonho de ser presidente da República. Ele diz que esse plano, aliás, foi um dos motivos para Bolsonaro se afastar.

"Minha missão na política está apenas começando. Tenho ainda o sentimento patriótico de ser presidente", disse, colocando o asilo como um plano B caso seja afastado definitivamente. "Se perceber que há perseguição política e cooptação das instituições contra mim e a minha família, pretendo pedir asilo político no Canadá. Consigo emprego em qualquer lugar do mundo."

Witzel está afastado do governo do RJ desde 28 de agosto por determinação judicial após denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República) de suposta participação em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele nega as acusações.

Interesse em ser presidente

Em sua avaliação, o afastamento tem como pano de fundo os atritos com Jair Bolsonaro. Na entrevista, Witzel relembrou que o relacionamento com o presidente sofreu abalos depois que ele anunciou que pretendia concorrer à presidência em 2020.

O governador afastado disse se arrepender de ter avisado o próprio Bolsonaro sobre a sua intenção.

"Dei motivo para ele criar uma narrativa contra mim. Para o eleitor do Bolsonaro, sou o traidor número 1. Foi um ato de inexperiência política", disse. "O presidente só pensa na reeleição de 2022 e pôs na cabeça que todos os seus adversários precisam ser abatidos".

"Nenhuma maldade" contra filhos

Segundo Witzel, a relação também se deteriorou depois de uma conversa particular na qual o governador afastado alega ter recebido um pedido inusitado de Bolsonaro.

Teve um dia em que esbarrei com o presidente na festa de aniversário de um ministro do TCU. Ele me chamou no canto e pediu: "Governador, não faça nada contra os meus filhos." Perguntei: "Mas fazer o quê?" E ele: "Nenhuma maldade". Ele achava que eu plantaria provas contra os filhos dele, o Carlos, o Flávio
Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio de Janeiro

Witzel ainda afirmou que "não é exagero dizer que a República gira hoje em torno da proteção a Flávio Bolsonaro" e que "o Ministério Público Federal foi cooptado parcialmente e faz aquilo que é de interesse do governo". "E A Polícia Federal também", completou.

Desde julho de 2018, Flávio Bolsonaro é investigado pelo MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) por suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A investigação começou a partir de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

O trabalho identificou "movimentações financeiras atípicas" de 75 assessores ou ex-assessores de deputados estaduais do Rio. Fabrício Queiroz, assessor de Flávio quando o filho do presidente era deputado estadual fluminense, foi um dos citados. Ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A quantia era incompatível com a renda dele.

O MP suspeita que Queiroz operava, a mando de Flávio, um esquema de "rachadinha". Ou seja, ele recolheria a maior parte dos salários dos colegas de gabinete, para repassá-lo ao filho do presidente. A defesa de Flávio Bolsonaro nega as acusações.

"Fui vítima de uma farsa"

Na entrevista, Wilson Witzel ainda disse que foi vítima de uma farsa e que voltará ao governo. "Fui vítima de uma farsa que será desconstruída juridicamente. O tribunal misto tem que julgar de acordo com as provas dos autos do processo, de forma técnica. Se não o fizer, o julgamento pode, inclusive, ser anulado", afirmou.

No dia 28 de agosto, o ministro do STJ Benedito Gonçalves afastou Witzel por 180 dias em decisão monocrática após receber denúncia da PGR. Em 2 de setembro, a Corte Especial do STJ confirmou o afastamento por 14 votos a 1. Nesse julgamento, os ministros apontaram a gravidade dos indícios apontados na investigação, como o pagamento de contas em dinheiro vivo.

O encaminhamento do processo de impeachment ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) foi aprovado pela Alerj de forma unânime em 23 de setembro. Foram 69 votos favoráveis à continuidade do processo que pode levá-lo a deixar o cargo de forma definitiva.

Depois que o TJ acolher o documento, Witzel passará a ficar "duplamente afastado" — considerando a determinação do STJ em agosto. Ele terá até seis meses para fornecer suas alegações a um tribunal misto — composto por cinco deputados e cinco desembargadores — que poderá decidir ou não pelo impeachment.