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"Paes vai ser preso", "Fala com a Márcia": veja as polêmicas de Crivella

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

22/12/2020 10h12

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), preso hoje em uma operação policial que investiga casos de propina, chega a 9 dias do fim do mandato com uma administração pública repleta de denúncias e polêmicas.

Ele disputou neste ano a reeleição para o cargo, mas perdeu para o ex-prefeito Eduardo Paes (Democratas). Na campanha, Crivella disse por diversas vezes que seu adversário político seria preso se fosse eleito.

No último debate, na TV Globo, Crivella chegou a destacar que Paes teria o mesmo fim que Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão - ex-governadores do Rio de Janeiro.

"Eduardo Paes vai ser preso, e digo isso com o coração partido. E vai porque cometeu os mesmos erros de Cabral e Pezão. Ele vai ser preso", disse na ocasião.

Crivella foi preso na manhã de hoje em decorrência de uma investigação do Ministério Público do Rio sobre a existência de um "QG da Propina" dentro da prefeitura.

Segundo as investigações, empresas que desejavam fechar contratos com o governo municipal ou tinham recursos a receber do município eram obrigadas a pagar propina ao grupo de Crivella.

No debate, em resposta à Crivella, Paes chegou a citar Rafael Alves - empresário suspeito de receber os recursos ilegais que também foi preso hoje.

"E ele morre de medo de ser preso quando aquele Rafael Alves, do QG da Propina, começar a falar", rebateu.

A denúncia sobre o "QG" instalado na prefeitura chegou a motivar um pedido de impeachment contra Marcelo Crivella. No entanto, a Câmara de Vereadores rejeitou a solicitação em votação ocorrida no mês de setembro. Foram 24 votos a 20.

Zé Pilintra

Ainda durante a campanha, Crivella foi alvo de críticas ao dizer que o ex-prefeito Eduardo Paes, não via a hora de colocar o "chapéu de Zé Pilintra (uma entidade da umbanda) e ir desfilar no Carnaval. A declaração foi vista como um ato de intolerância religiosa. No dia das eleições, em protesto, eleitores foram votar com o adereço na cabeça como crítica ao atual prefeito.

"Fala com a Márcia"

Além das denúncias sobre o "QG da Propina", no ano passado, Crivella se viu diante de uma suspeita de facilitar o atendimento de fiéis que precisavam de cirurgia de catarata e varizes. Em uma reunião secreta no Palácio da Cidade, em Botafogo, na zona sul do Rio, o prefeito ainda ofereceu ajuda à líderes de igreja que estivessem com problemas de IPTU. O encontro foi divulgado pelo jornal O Globo.

"Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui a uma semana ou duas eles estão operando" teria dito o prefeito durante a reunião.

Na ocasião, a prefeitura negou irregularidades. A reunião virou alvo de uma CPI instalada na Câmara dos Vereadores e a Procuradora Regional Eleitoral (PRE) pediu a inelegibilidade do prefeito até 2026 por abuso de poder político e religioso no episódio que ficou conhecido como "Fala com a Márcia".

Inelegibilidade suspensa

Crivella chegou a ser condenado em setembro por abuso de poder político e conduta vedada tornando-se inelegível até 2026 em uma ação que entendeu que o prefeito usou funcionários da Comlurb (companhia de limpeza urbana da cidade) para promover um evento de campanha do filho Marcelo Hodge que tentou se eleger deputado federal em 2018. Alessandro Duarte, candidato a deputado estadual naquela ocasião, também teria sido beneficiado. No entanto o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concedeu efeito suspensivo à medida e reverteu os efeitos da condenação na Justiça que o tornava inelegível.

Relembre o caso

Funcionários da Comlurb foram convocados, em setembro do ano passado, para um encontro na quadra da escola de samba Estácio de Sá com o prefeito Marcelo Crivella e correligionários que eram candidatos nas eleições anteriores. O encontro passou a ser investigado pelo Ministério Público e por uma CPI na Câmara dos Vereadores para saber se houve uso da máquina pública para campanha dos apoiadores de Crivella.

Dados de GPS indicam que, na hora do evento, 45 veículos da companhia de limpeza estavam fora da região de atuação. Eles estavam estacionados no bairro do Estácio, próximos à quadra da escola de samba. Em depoimento na Câmara de Vereadores, um funcionário da Comlurb relatou distribuição de "santinhos" de Marcelo Hodge, em reunião de servidores da companhia convocada pela prefeitura.

Motoristas confirmaram à CPI que usaram micro-ônibus da companhia para levar funcionários. E que as ordens partiram dos próprios chefes.

Guardiões do Crivella

Outro caso polêmico envolvendo a gestão de Crivella foi divulgado neste ano, em uma reportagem da Tv Globo. Funcionários da Prefeitura do Rio eram pagos com dinheiro público para dar plantões na porta de hospitais municipais para atrapalhar reportagens e impedir denúncias de problemas na Saúde. O esquema era combinado em grupos de aplicativos de mensagens. Um deles foi denominado "Guardiões do Crivella". A cúpula do governo municipal fazia parte desse grupo. O telefone do prefeito constava na relação de integrantes. Crivella chegou a admitir que estava no grupo, mas que nunca participou dele. No entanto, uma testemunha contou que o prefeito enviava mensagens parabenizando as ações.

Um pedido de impeachment também foi aberto contra o prefeito em decorrência da denúncia. No entanto, os vereadores rejeitaram a abertura do processo por 25 votos a 23.

A "esculhambação" do Rio

Já no seu terceiro ano de mandato, Crivella fez um discurso polêmico para uma plateia de 80 servidores e afirmou que o Rio é "uma esculhambação completa". A afirmação foi feita em março do ano passado. Ele chegou a dizer que PMs sobem o morro para pegar arrego, o que chamou de "o troco da cocaína".

A declaração gerou uma crise com a Polícia Militar. Em nota, o secretário de Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda, afirmou que é "lamentável e inacreditável que o prefeito do município do Rio de Janeiro - uma cidade com problemas tão sérios a resolver — seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública."

O então governador Wilson Witzel chegou a anunciar a retirada da escolta do prefeito, que era feita por 27 PMs, mas voltou atrás depois de uma conversa.


Blindagem para escolas

Após uma estudante morrer baleada dentro de uma escola municipal na zona norte do Rio, o prefeito Marcelo Crivella sugeriu que as unidades fossem blindadas como medida de segurança. A declaração foi dada em 2017, após a morte da estudante Maria Eduarda.

Em abril daquele ano, a prefeitura chegou a informar que a argamassa seria importada de uma companhia nos Estados Unidos, supostamente a única do mundo a fornecer o material. Duas empresas nacionais, contudo, também estariam aptas a produzi-lo dentro das especificações estabelecidas pelos testes, o que baratearia a fabricação. A ideia do prefeito era aplicar o material nos muros das escolas. Nenhuma escola recebeu a proteção.

Chuvas no Rio

Em março deste ano, em uma reunião após uma forte chuva na cidade deixar mortos e feridos, o prefeito da cidade afirmou que os cariocas gostam de morar perto de áreas de risco para "se verem livres dos esgotos e gastarem menos tubos para colocar cocô e xixi".

"Todas as encostas lá são perigosas, mas onde descem as águas, predominantemente chamado talvegues, as pessoas gostam de morar ali perto porque gastam menos tubo para colocar cocô e xixi e ficar livre daquilo, essas áreas são muito perigosas", disse Crivella em reunião que ocorreu no Centro de Operações da Prefeitura (COR).