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Deputados e vereadores ignoram covid-19 e se reúnem em pelada no Maracanã

Deputados e vereadores posam em aglomeração após jogo festivo no Maracanã - Reprodução/ Facebook
Deputados e vereadores posam em aglomeração após jogo festivo no Maracanã Imagem: Reprodução/ Facebook

Igor Mello, Amanda Rossi e Cleber Souza

Do UOL, no Rio e em São Paulo

30/12/2020 21h14

Quase duas dezenas de políticos do Rio de Janeiro ignoraram o crescimento das mortes por covid-19 na cidade e participaram de uma pelada comemorativa de fim de ano no Maracanã, nesta terça-feira (29).

Nas imagens do evento —publicadas nas redes sociais pelos deputados estaduais Rodrigo Amorim, Gustavo Schmidt e Marcio Gualberto, todos do PSL— é possível contar aproximadamente 50 pessoas aglomeradas e sem máscara no local. É possível ver que os times contaram até mesmo com uniformes personalizados e fotos com qualidade profissional.

Nesta quarta-feira (30), a cidade do Rio de Janeiro chegou a 14.743 mortos por covid-19. Diante da alta de casos e da lotação das unidades de saúde desde novembro, a prefeitura anunciou nesta semana medidas de restrição para a comemoração do Ano-Novo, só permitindo o acesso à orla da zona sul a moradores e turistas hospedados nas imediações.

Após aglomeração, políticos falam em respeito às normas sanitárias

Por meio das imagens, o UOL identificou a presença de ao menos 16 políticos, vários deles acompanhados por assessores. Entre eles estavam André Ceciliano (PT), presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio); Rodrigo Amorim (PSL), deputado estadual que quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco; e Carlo Caiado (DEM), um dos principais aliados do prefeito eleito Eduardo Paes (DEM); além de Gustavo Tutuca (MDB), deputado estadual recentemente nomeado secretário estadual de Turismo.

Deputados estaduais posam para foto durante jogo no Maracanã em meio à pandemia - Reprodução/ Facebook - Reprodução/ Facebook
Deputados estaduais posam para foto durante jogo no Maracanã em meio à pandemia
Imagem: Reprodução/ Facebook

Procurados pelo UOL, grande parte dos políticos afirmaram que a prática de esportes coletivos é permitida pela legislação estadual e que as medidas sanitárias foram respeitadas —apesar das fotografias mostrarem dezenas de pessoas, incluindo idosos e crianças, aglomeradas sem máscara.

Ceciliano afirmou em nota que não a Alerj não foi a organizadora do evento, "que acontece todos os anos". Segundo a Alerj, "a participação dele ocorreu dentro dos protocolos sanitários exigidos nas partidas de futebol, não houve público, somente as autoridades convidadas, que posaram para uma foto ao fim do evento".

Alguns deputados minimizam os riscos de contaminação. Alexandre Freitas (NOVO), afirmou que "as pessoas são livres para assumirem os riscos que entendem convenientes, inclusive durante uma pandemia".

Já Marcio Gualberto (PSL) acusou a equipe de reportagem de "desinformar a população e usar o jornalismo para fazer política rasteira, ideológica e barata". Ele ainda ironizou: "Virou crime jogar futebol uma única vez durante o ano? Ou você acha que por termos jogado futebol, estamos insensíveis ao que está acontecendo?".

Veja abaixo as justificativas dos deputados e vereadores presentes ao evento.

Deputados estaduais:

  • André Ceciliano (PT), presidente da Alerj - O presidente foi convidado para uma partida com vereadores que acontece todos os anos. Não foi organizador nem a Alerj. A participação dele ocorreu dentro dos protocolos sanitários exigidos nas partidas de futebol, não houve público, somente as autoridades convidadas, que posaram para uma foto ao fim do evento.
  • Rodrigo Amorim (PSL) - "Participei de uma atividade ao ar livre, uma prática esportiva, que não está proibida -- desde que sem público. Não houve absolutamente nenhuma infração a protocolos sanitários. E ao contrário do Felipe Neto, postei nas minhas redes porque não sou hipócrita, cínico, de pregar lockdown enquanto jogo bola com os amigos".
  • Delegado Carlos Augusto (PSD) - Eu só fui mesmo pra dar um abraço no pessoal do fim do ano. Eu já tive covid. Não aglomero em lugar nenhum. Fiquei traumatizado. Fui internado. Eu fui lá, botei o tênis, dei um abraço em cada um e fui embora.
  • Gustavo Tutuca (MDB), secretário estadual de Ciência e Tecnologia - Não respondeu.
  • Alexandre Freitas (NOVO) - "Fui convidado, não faço a menor ideia quem organizou e acho que as pessoas são livres para assumirem os riscos que entendem convenientes, inclusive durante uma pandemia"
  • Gustavo Schmidt (PSL) - "O deputado Gustavo Schmidt foi convidado para o evento e se certificou de que todas as medidas sanitárias para a realização de partidas no Maracanã foram adotadas".
  • Dr. Deodalto (DEM) - Não respondeu.
  • Marcelo do Seu Dino (PSL) - Não respondeu.
  • Marcio Gualberto (PSL) - Você considera adequado desinformar a população e usar o jornalismo para fazer política rasteira, ideológica e barata dentro de um contexto de circulação de um vírus? Além disso, virou crime jogar futebol uma única vez durante o ano? Ou você acha que por termos jogado futebol, estamos insensíveis ao que está acontecendo? Trabalhamos muito no combate à covid-19 e continuaremos fazendo isso até vencermos essa praga".
  • Rosenverg Reis (MDB) - Afirmou ter apenas passado rapidamente pelo evento, sem disputar o jogo.
  • Marcio Canella (MDB) - Fui convidado para participar de uma partida de futebol, onde foram seguidos todos os protocolos exigidos para tal evento. Não houve público, nem aglomerações. Somente as autoridades convidadas participaram da partida. Assim que terminou, todos saíram do estádio"
  • Coronel Salema (PSD) - A prática do esporte está autorizada, Copa Libertadores, Brasileiro, todos os esportes estão bombando aí. [Foi] Uma forma de confraternização das duas casas. Local aberto, infelizmente não tinha público. Os jogadores, pouca gente, não teve aglomeração, depois cada um foi pro seu canto.

Vereadores:

  • Carlo Caiado (DEM) - Não respondeu
  • Thiago K. Ribeiro (DEM) - "Eu só fui informado que teria o jogo, não sei quem organizou e nem como se deu qualquer tipo de negociação"
  • Felipe Michel (PP) - "O jogo de futebol é uma atividade física, essencial para a saúde principalmente num momento de pandemia. Como ex-atleta, tenho plena consciência disso, tanto que a lei que reconhece a atividade física como essencial, sancionada em novembro deste ano, é de minha autoria. O futebol foi realizado com poucas pessoas, os participantes nem puderam levar acompanhantes. Apesar de já ter tido covid, assim como minha família, continuo tomando todos os cuidados."
  • Marcelino D'Almeida (PP) - Não respondeu