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Pacheco deve vencer no 1º turno eleição com Simone Tebet rifada pelo MDB

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) em conversa com o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) - Geraldo Magela/Agência Senado
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) em conversa com o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Natália Lázaro e Luciana Amaral

Colaboração para o UOL e do UOL, em Brasília

01/02/2021 04h00

A eleição à Presidência do Senado tem como franco favorito o candidato Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e até por partidos de oposição, como o PT. A expectativa da maioria dos senadores ouvidos pela reportagem é que Pacheco vença já no primeiro turno, com ao menos 53 votos.

Até mesmo aliados de sua principal rival, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que derreteu ao longo das últimas semanas, não estão otimistas em conseguir uma nova rodada de votação. O Senado é composto por 81 senadores.

A eleição que vai definir o comando do Senado pelo próximo biênio foi marcada por um crescimento sólido de apoios a Pacheco por meio da articulação de Alcolumbre, alianças entre partidos de diferentes ideologias e acusações de interferência do Palácio do Planalto.

Depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) acabou com a esperança de Alcolumbre se recandidatar, o atual presidente da Casa precisou de um plano B em busca de manter alguma relevância na política. Resolveu apadrinhar um colega de sigla.

Para tanto, Alcolumbre investiu em manejar cargos importantes do Senado nas mãos dos principais apoiadores de sua gestão, segundo relatos de senadores ao UOL. Parte de parlamentares que não se juntaram a Pacheco alega que o Planalto também age nos bastidores oferecendo cargos na administração pública e a operacionalização de recursos.

Pacheco tem ao seu lado parte do MDB e a maioria dos demais partidos na Casa - inclusive parte da oposição -, como PSD, PL, PP, Republicanos, PDT, DEM, PT, PSC, Rede e Pros. Ele conta ainda com o apoio de cerca de sete dissidentes no PSDB e no Podemos.

O senador teve algum destaque quando deputado federal ao comandar a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados durante o processo de cassação de Eduardo Cunha. Mas, no Senado, ele tem tido uma atuação discreta, com foco nos bastidores.

Simone Tebet optou por uma campanha mais voltada à opinião pública, apostando que a marca governista de Pacheco enfraqueceria o adversário, e começou com perspectivas de construir um bloco robusto em torno de si. Como eventual primeira mulher a comandar o Senado, ela também investiu em um discurso feminista.

No entanto, após apoios esperados não vingarem - a totalidade de votos do Podemos e do PSDB era um dos alvos principais -, foi abandonada pelo próprio MDB. Nem o grupo "Muda, Senado", de cunho lavajatista, embarcou em peso em sua candidatura. A expectativa de senadores é que Simone consiga, no máximo, 22 votos como "candidata independente", em suas palavras.

Os caciques do MDB decidiram se juntar a Pacheco e Alcolumbre para assegurar mais espaços importantes na Casa. Eles negam um "toma lá, dá cá", e afirmam terem sido procurados em busca de "consenso" e "respeito à proporcionalidade" por terem a maior bancada do Senado.

Também são candidatos à Presidência do Senado o Major Olímpio (PSL-SP), Lasier Martins (Podemos-RS) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). Os três não devem receber mais do que oito votos, juntos.

Com Simone escanteada pelo MDB, Kajuru disse que se mantém na disputa, mas vai votar na colega. O parlamentar alegou que só vai seguir com a candidatura para usar o espaço de fala contra Pacheco. Ele contou que ligou para os 12 colegas da Casa que prometeram voto a ele pedindo que apoiem Simone.

Lasier afirma que sua candidatura não é por "vaidade ou interesse pessoal", mas em defesa do Senado, porque a Casa "está sendo muito aviltada". A reportagem apurou que ele deve desistir do pleito de última hora e votar em Simone.

Apoios não são mais tanto por ideologia, diz cientista político

Para o cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Sérgio Praça, o Congresso Nacional tem-se configurado de maneira que os parlamentares não se lançam mais tanto por ideologias, mas, sim, em busca de voos pessoais maiores. "Os congressistas se vendem pelas suas ambições pessoais e articulações partidárias", afirma. Segundo o pesquisador, foi isso que levou Pacheco e Alcolumbre a trabalharem juntos.

Pacheco estava de férias em Brasília quando o atual presidente do Senado lhe telefonou falando que o levaria para um encontro com Jair Bolsonaro - na véspera de Natal, 24 de dezembro, em almoço no Palácio da Alvorada.

Interlocutores relataram que o senador de Minas Gerais não tinha interesse em passar parte da data em Brasília com o presidente da República, mas, como seu nome estava então cambaleando entre as opções do Executivo, aceitou a oportunidade de aproximação visualizada por Alcolumbre.

"Sempre vai haver um alinhamento de um candidato com o presidente, isso é normal. Mas quando um senador chama o candidato para passar o Natal com o presidente, juntos, isso deixa claro que se trata de um posicionamento pessoal, e não partidário", falou Praça.

Na avaliação de Sérgio Praça, a dinâmica de filiações e apoios no Congresso se dá pela falta de organização interna das legendas. Quando o próprio presidente da República não tem um partido político, qualquer um que discorde dos seus argumentos se torna oposição, não necessariamente sendo de legendas tradicionalmente de esquerda, argumenta.

Sobre a aliança do PT com o candidato de Bolsonaro, o cientista político afirmou que em um jogo de disputa pelas presidências no Congresso é normal que "não se tenha nada de ideológico".

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que a decisão de o PT apoiar Pacheco se deu com base na trajetória do candidato e nas conversas com ele. Segundo o petista, Pacheco afirmou ter o compromisso em defender a Constituição, a independência do Legislativo e com a retomada de uma forma de ajuda emergencial à população mais pobre durante a pandemia do coronavírus.

Costa defende que Pacheco é um candidato "indireto" de Bolsonaro, pois o presidente da República ficou "sem alternativa" ao ver os senadores líderes do governo não deslancharem nas pré-candidaturas.

Se não apoiasse Pacheco, o PT conseguiria o comando de somente uma comissão. Se Pacheco ganhar, vai conseguir duas: meio ambiente e direitos humanos. O PT também não quer que Simone se eleja pelo fato de ela ser a favor da Operação Lava Jato, criticada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.