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Ato sobre assédio e caso Isa Penna na Alesp é atacado com pornô e nazismo

Arthur Stabile, Clarice Cardoso e Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

02/02/2021 22h36Atualizada em 03/02/2021 08h08

Uma sessão solene da Procuradoria Especial da Mulher da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), transmitida ao vivo pela Rede Alesp às 18 h de hoje, foi invadida por usuários que interromperam as falas das deputadas e suas convidadas com sons de "gemidos sexuais", imagens nazistas e pornográficas.

O evento visava educar a respeito da violência de gênero em meio a ataques contra parlamentares e um processo no Conselho de Ética sobre assédio sexual. Também abordaria o assédio sofrido pela deputada Isa Penna (PSOL), apalpada em plenário pelo deputado Fernando Cury (Cidadania), conforme divulgado pelo UOL. O caso deve ser julgado ainda este mês pelo Comitê de Ética da Casa. Ontem, o conselho deu início ao processo contra Cury.

Quem acompanhava pelo aplicativo Zoom conseguiu ver os ataques. No entanto, as imagens não apareceram para quem estava fisicamente presente na Alesp.

"Mulheres devem ser estupradas"

Segundo assessores parlamentares dos mandatos das mulheres que participavam da sessão solene, a invasão ocorreu já no início do ato, atrapalhando o planejamento, e também interrompendo a fala de deputadas. As imagens ofensivas incluíam símbolos nazistas e acompanharam legendas como "mulheres devem ser estupradas" e "morte às mulheres".

O vídeo, a que o UOL teve acesso na íntegra, foi retirado do YouTube pouco após o ocorrido. Segundo assessor do presidente da Casa, a decisão foi tomada pelo deputado Cauê Macris (PSDB), que a comunicou à deputada psolista Erica Malunguinho. Seguindo decisão coletiva de todas as procuradoras, a sugestão foi acatada.

Procurado pela reportagem, um assessor técnico da Alesp que pediu para ter a identidade preservada afirmou: "Tivemos atos obscenos. Até para não largar em redes da casa, o material foi retirado. Foi por isso. Não foi unilateral".

Em declaração enviada à reportagem, Macris negou que tenha havido ataques ou invasão ao sistema da Assembleia e responsabilizou a moderação — que aceita, ou não, a entrada de participantes — pelo ocorrido. "Se qualquer pessoa puder participar, acaba permitindo que alguém entre e tome medidas que não são aquilo que a gente de fato permite."

Vamos envolver Polícia Civil, a tecnologia da informação e a administração da Casa. Em relação aos IPs, vamos atrás para tentar culpar. Vamos buscar uma maneira de tentar impedir isso, mas, de antemão, digo que não foi nenhum ataque hacker a nenhum sistema do poder legislativo, mas, sim abertura das audiências acabam fazendo com que pessoas indesejáveis entrem e façam esse tipo de coisa. Vamos tomar as providências necessárias."
Cauê Macris (PSDB)

Com "gemidão", desenho foi exibido por usuário que atacou sessão de mulheres na Alesp - Reprodução - Reprodução
Com "gemidão", desenho foi exibido por usuário que atacou sessão de mulheres na Alesp
Imagem: Reprodução

O que me preocupa é o intervalo de tempo e a quantidade de ataques. É melhor prevenir do que remediar. Acho que temos todas que registrar como ameaça porque invadiram um canal institucional."
Isa Penna (PSOL)

Isa se refere ao fato de, na última semana, três parlamentares do PSOL sofreram ameaças e atentados a bala em São Paulo: a vereadora Érika Hilton e as covereadoras Samara Sosthenes e Carolina Iara.

Isso que acaba de acontecer é crime. Querem nos silenciar, essa tentativa de invasão, de coerção, parecida com o que aconteceu com as covereadoras trans e travestis na última semana. Há um movimento politico dirigido contra a luta das mulheres. Cabe a nós, além de fazer uma denúncia, descobrir se ataques parecidos já aconteceram em sessões solenes da Alesp. Porque me parece muito específico um ataque a uma sessão sobre a violência contra a mulher."
Erica Malunguinho (PSOL)

Penna e Malunguinho anunciaram que registrarão um boletim de ocorrência para pedir apuração sobre a procedência dos ataques e se há ligação entre eles e a investigação em torno das ações de Cury no ano passado.

Durante a invasão, participantes que estavam na plataforma tentando acompanhar o evento foram removidos e usuários supostamente responsáveis pelas ofensas foram adicionados se utilizando de nomes de parlamentares como Ênio Tatto (PT) e Carlos Giannazi(PSOL), que não participavam da sessão solene.

Procurada pelo UOL, a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), presidente do Conselho de Ética, afirmou não ter visto o ocorrido e disse que se informaria sobre o que aconteceu.