Topo

Crise na saúde: Bolsonaro é o responsável e "vive de show", diz Santos Cruz

Do UOL, em Brasília

04/03/2021 16h50Atualizada em 04/03/2021 17h01

O ex-ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz atribui ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a responsabilidade pelo que chamou de desastre na condução do combate à pandemia de coronavirus no país, que enfrenta alta de mortes, colapso de hospitais e escassez de vacinas. O militar também afirmou que as Forças Armadas perdem com militarização do governo e diz que o presidente vive de fazer "show todo dia".

"Não sei se é uma estratégia pensada ou se é medo da responsabilidade. Porque, ou faz isso sem um raciocínio estratégico, mas faz por característica pessoal. Sempre tem um responsável pelas coisas. O responsável é o presidente", disse Santa Cruz, em entrevista à plataforma Headline Brasil, divulgada hoje (4).

Na avaliação de Santos Cruz, que ficou seis meses no governo em 2019 e desde que saiu se tornou um crítico da gestão Bolsonaro, o presidente só "briga" em vez de assumir o comando neste período de crise sanitária e econômica.

"O governo, o presidente da República, tem que, nessas horas de desafio, assumir a liderança, a coordenação, ele é que tem que pegar a bola, colocar embaixo do braço e dizer 'esse pênalti, quem vai bater sou eu'", disse.

O ex-ministro também afirmou que com as falas de Bolsonaro "tentando todos os dias desmoralizar a política de saúde pública" não há como criar uma política pública para combater a pandemia da covid.

"Até onde vai a responsabilidade do [ministra da Saúde, Eduardo] Pazuello por esse desastre que é a administração da pandemia? Porque você tem uma autoridade que todo o dia tenta desmoralizar a vacina", disse.

No fim do ano passado, Santos Cruz já havia chamado a condução do governo na crise sanitária de "fanfarronice, politização, despreparo".

Em evento em Goiás nesta quinta-feira, dia seguinte ao recorde de 1.840 mortes registradas em 24 horas, Bolsonaro voltou a criticar medidas sanitárias para controle da pandemia.

"Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas", afirmou Bolsonaro.

Sobre nomeações de militares no governo, Santos Cruz disse na entrevista divulgada hoje que as indicações parecem ser uma tentativa de o presidente transferir o prestígio das Forças Armadas para sua gestão.

"Você comprometer as Forças Armadas com as práticas de governo não é bom. Queira ou não queira, a sociedade tem a percepção —e é isso que importa- -, de que as instituições estão vinculadas à prática de governo. Eu vejo que as Forças Armadas estão perdendo com isso", afirmou.

A prática de governo não tem nada de admirável. Uma prática de governo que tem crise todo dia. Não é nem crise; que tem show todo dia. Não é bom você confundir isso com as Forças Armadas"
Santos Cruz, general e ex-ministro de Bolsonaro

Um dos "shows" protagonizados por Bolsonaro, segundo o ex-auxiliar do presidente, foi a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, no ano passado, por discordâncias na forma de conduzir a gestão de combate à covid.

"A saída do primeiro ministro da saúde [depois de Mandetta, Nelson Teich deixou o cargo pelo mesmo motivo] foi um show de um mês. Não há necessidade nenhuma disso. O presidente tem todo o direito de substituir o ministro por qualquer razão. Não precisa show, mas foi show de um mês. Todo mundo assistindo a um show, quando a preocupação era o coronavírus", disse.