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Marco Aurélio elogia Mendonça, mas diz que STF não é para relações públicas

Marco Aurélio Mello, que se aposentará em julho do STF, e o ministro André Mendonça (Justiça), cotado para sua vaga - Rosinei Coutinho/SCO/STF/Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Marco Aurélio Mello, que se aposentará em julho do STF, e o ministro André Mendonça (Justiça), cotado para sua vaga Imagem: Rosinei Coutinho/SCO/STF/Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

18/03/2021 04h00

O decano do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio de Mello, deu um alerta ao ministro André Mendonça, forte candidato a assumir sua vaga, em julho quando atingirá a idade da aposentaria compulsória na corte: "A cadeira do Supremo não é para relações públicas".

Ao UOL o ministro do Supremo, que completará 75 anos em 12 de julho, disse considerar Mendonça um "bom nome", mas afirmou que a vaga no Supremo é de uma "envergadura" maior do que o comando na pasta da Justiça.

"O presidente [Jair Bolsonaro] já sinalizou que indicará o atual ministro da Justiça, André Mendonça, para minha vaga. É um bom nome, iniludivelmente, e só espero que ele perceba que a coragem é a síntese de todas as virtudes. E que a cadeira que virá a ocupar tem uma envergadura maior, não é cadeira voltada a relações púbicas", disse Marco Aurélio.

O ministro acredita que haverá aceitação entre os colegas do Supremo quando Mendonça for indicado por Bolsonaro. O nome do chefe da Justiça já foi testado ano passado, quando o presidente preferiu Kassio Nunes Marques para a vaga de Celso de Mello.

No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente afirmam que Mendonça é hoje a primeira opção de Bolsonaro, mas não descartam um nome surpresa, como foi o caso de Nunes Marques.

Para um dos auxiliares do presidente ouvidos pela reportagem, no entanto, "será a vez do André", que, nas suas palavras, "tem todas as credenciais para vestir a toga". O ministro é apontado como preparado e leal a Bolsonaro.

Outro nome que corre por fora para obter a bênção do Planalto é o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, mas o tema é tratado com discrição no núcleo do PGR.

Terrivelmente Evangélico

Quando cogitou o nome de Mendonça pela primeira, ainda antes de se torná-lo ministro da Justiça, Bolsonaro disse que ele se encaixava no perfil "terrivelmente evangélico" que ele buscava — num aceno a uma parte fiel de ser eleitorado. Então advogado-geral da União, Mendonça assumiu a cadeira na Justiça após a queda do ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, em abril do ano passado.

Ao longo de sua gestão, o ministro se envolveu em polêmicas. Uma delas foi revelada pelo colunista do UOL Rubens Valente, quando indicou que o Ministério da Justiça produziu uma investigação sigilosa contra professores e policiais.

Em janeiro, o ministro determinou a abertura de Inquérito Policial para apurar a conduta de jornalistas que criticaram o presidente Bolsonaro e considerou que "apenas pessoas irresponsáveis cometem esse crime contra chefes de Estados". Na ocasião, Ruy Castro e Ricardo Noblat sugeriram o suicídio ao presidente Bolsonaro.

O ministro tem evitado confrontos com o Supremo e ao longo dos anos que atua em Brasília manteve tratamento cordial com membros das cortes superiores. Funcionário de carreira da AGU (Advocacia-Geral da União) desde 2000, ele assumiu o comando da pasta em 2019. Na capital, é ligado À Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, e tem uma vida discreta com a família.