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Deputada Flordelis revela que filha mandou matar pastor Anderson

Flordelis chora e nega acusações em depoimento no Conselho de Ética da Câmara  - Flickr/Senado Federal
Flordelis chora e nega acusações em depoimento no Conselho de Ética da Câmara Imagem: Flickr/Senado Federal

Do UOL, em São Paulo

25/03/2021 20h44

A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) disse que uma das filhas, Simone, foi a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros no dia 16 de junho de 2019 na casa da família em Niterói, região metropolitana do Rio.

A declaração foi feita pela parlamentar hoje, durante entrevista ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo, após o questionamento do apresentador a respeito de quem ela considerava ser mandante do crime.

"Infelizmente, com muita dor, é difícil pra mim... Eu não fiquei presente no depoimento da minha filha, na confissão. Eu vou carregar uma culpa pro resto da minha vida. Culpa por amar demais um homem e ter ficado cega ao ponto de não ver o que estava acontecendo dentro da minha própria casa, com a minha filha, especialmente quando ela estava com câncer", contou Flordelis, emocionada e segurando as lágrimas.

Momentos antes, Pedro Bial explicou ao público que, de acordo com o inquérito, Simone fez buscas na internet relacionadas a cometer um assassinato ("envenenamento", "matador de aluguel", "veneno pra matar pessoa que seja letal e fácil de comprar") e confessou a justiça que a ideia do crime partiu dela.

Flordelis revelou ao apresentador que Simone estava doente e era assediada por Anderson. "Além de estar com câncer, sofrendo com câncer, ela carregava isso sozinha, em silêncio, esses assédios, esses estupros. Ela carregava sozinha, Bial. Não estou defendendo ela, porque não concordo com o que ela fez. Eu discordo 100%. Ela não podia ter feito isso, não é matando que resolvemos os problemas", afirmou a parlamentar, contando ainda que foi a confissão que a fez tomar remédios e ir parar no hospital, há alguns meses.

"Não esperava o depoimento da minha filha. Veio como um terremoto. Naquele momento fui pro meu quarto de oração e queria apagar. Queria dormir. Esquecer por um momento pra aliviar a dor que eu estava sentindo.", contou Flordelis, chorando.

A última noite

Questionada por Bial, Flordelis descreveu a última noite que passou ao lado de Anderson como uma "noite romântica". A pastora disse que chegou em casa com o marido e subiu as escadas, enquanto ele ficou no carro.

"De repente, eu ouvi barulhos de tiro. Naquele momento, eu não me assustei muito, porque aqui a gente tem o hábito de ouvir porque tem uma favela na rua de baixo. Mas a minha filha Taiane entrou correndo dentro do quarto, meu filho Flávio começou a me gritar, subiu as escadas, aí me assustei. E eu não vi meu marido. Quando eu não vi, eu comecei a gritar o nome dele", descreveu a parlamentar, contando que um dos filhos afirmou que Anderson foi baleado e havia sido levado para o hospital.

"Me levaram pro hospital, fui medicada, sedada. E aí depois me contaram que ele tinha ido a óbito. Aí minha casa desabou. Minha vida desabou", contou Flordelis.

A deputada também negou que tenha entrado em contradição em seus argumentos. "Eu não caí em contradição. Eu acreditava que ele tinha sofrido um assalto e sido assassinado". A pastora falou ainda que não "tentou decorar uma versão do crime", como Bial sugeriu que tenha ficado a impressão.

Mensagens apagadas e motivação

O apresentador questionou a deputada sobre a acusação de ter apagado mensagens do seu celular, relacionadas ao crime. Flordelis foi direta em sua resposta. "Houve uma trama antes da morte do meu marido, feita no meu celular. Meu filho Lucas veio me mostrar uma mensagem que tinha sido mandada do meu celular pela Marzy (outra filha) para matar o meu marido. O meu marido sabia disso, eu levei isso a ele". A pastora afirmou ainda que não levou o caso à polícia para evitar a exposição e que Anderson foi quem sugeriu isso.

Flordelis também negou, veementemente, que tenha mandado matar Anderson por poder e dinheiro. "Eu não tinha por que querer a morte dele. Metade de mim foi embora com ele. Nós tínhamos uma parceria." Segundo a deputada, os filhos que a acusam o fazem por questões financeiras.

"Bial, sumiu muito dinheiro. O meu dinheiro, do meu trabalho, quem guardava era o meu marido, com meu filho afetivo. (...) No dia do velório do meu marido, o meu filho afetivo pegou todos os computadores e levou embora. Cadê o dinheiro do meu trabalho? Eu trabalhei a vida inteira pra estar como eu estou agora", questionou a parlamentar.

"Tudo que está acontecendo na minha vida é revoltante. Já está claro que há uma trama armada pelos meus filhos. Mãe nenhuma tem que pagar pelos erros dos filhos. Eu não tinha noção nenhuma do que estava acontecendo dentro da minha casa com a minha filha. Eu não sabia, Bial", desabafou Flordelis, emocionada, ao fim do programa. A deputada ainda agradeceu ao apresentador pelo espaço e pela oportunidade.

O caso

A deputada é acusada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) por "arquitetar o homicídio" de seu marido, "arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime sob a simulação de ter ocorrido um latrocínio" e também "financiar a compra da arma e avisar da chegada da vítima no local em que foi executada".

Simone dos Santos Rodrigues é acusada de participação no crime ao lado de Lucas Cézar dos Santos e Flávio dos Santos Rodrigues, outros dois filhos de Flordelis. Em depoimento à polícia, feito em janeiro, Simone admitiu que pagou R$ 5 mil para matar o pastor Anderson. O dinheiro teria sido entregue para sua irmã, Marzy Teixeira.

Em fevereiro, o Conselho de Ética da Câmara instaurou um processo disciplinar contra a deputada federal Flordelis. Ela só não foi presa devido à imunidade parlamentar. Atualmente, a parlamentar é monitorada por meio do uso de uma tornozeleira eletrônica.

A decisão da Mesa Diretora de oferecer uma representação contra Flordelis foi tomada com base em parecer do corregedor da Câmara, deputado Paulo Bengtson (PTB-PA). Segundo Bengtson, ela defendeu ser inocente, mas não apresentou provas que vão na linha de depoimentos de seus filhos que a inocentam, por exemplo.

Também em fevereiro, a Justiça do Rio decidiu suspender Flordelis do exercício das suas funções públicas. Os desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro acompanharam por unanimidade o voto do relator Celso Ferreira Filho, em julgamento por videoconferência. A decisão será encaminhada em um prazo de 24 horas à Câmara dos Deputados, em Brasília.

"Sou inocente"

Em entrevista concedida ao SBT, no ano passado, Flordelis alegou ser inocente e disse não estar preparada para a prisão.

"E não vou ser [presa], porque eu sou inocente e tenho certeza que a minha inocência será provada nos próximos dias", disse ela. "Eu não matei. Eu não fiz isso do que estão me acusando. Eu não fiz. Não é real, não é verdade. É uma injustiça".

Na ocasião, Flordelis também chorou e disse amar o marido assassinado. "Eu preciso saber quem mandou matar o meu marido. Eu não sei [quem mandou matá-lo]. Se eu soubesse, eu falaria aqui, agora. Quem mandou matar o meu marido está desgraçando com a minha vida."