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Líder do centrão: Temos mais identificação com Bolsonaro do que com Lula

Carolina Marins, Douglas Porto, Felipe Oliveira e Thaís Augusto

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2021 15h51

Um dos principais líderes do centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse hoje que os partidos de centro se identificam mais com projetos do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que com as propostas do PT.

"Não mudamos de dois anos para cá, só temos uma identificação muito maior com o projeto do presidente Bolsonaro do que tínhamos com o PT, que apoiamos no passado", disse ele ao UOL Entrevista, conduzido pelo chefe da sucursal do UOL em Brasília, Tales Faria, e pela repórter Luciana Amaral.

Esses partidos de centro viram na sua relação com governo federal que não tem mais aquela história de receber ministério de porteira fechada. Nós evoluímos nisso, passamos a apoiar esse governo muito antes de termos quadro técnicos escolhidos pelo presidente.
Senador Ciro Nogueira (PP-PI)

"Acho que seria um retrocesso muito grande ao país a volta do presidente Lula", afirmou o senador. "Se eu disser que não tenho uma admiração pelo que ele fez no passado, eu estaria mentindo, mas seria um retrocesso muito grande para o país voltarmos ao comando do Partido dos Trabalhadores. O país está no caminho certo e vamos superar este momento da pandemia, vamos ter uma retomada econômica."

Nogueira ainda defendeu a atuação do centrão. "Bolsonaro foi eleito com o discurso de que não ia fazer aliança e ele viu que não tem como. O que já foi aprovado nesse país desde a redemocratização que não tenha o papel decisivo e a coragem dos partidos de centro? Nada. Nas últimas eleições, os partidos de centro tiveram o aval da população. É fruto de um trabalho que foi reconhecido pela população."

O chamado centrão é um grupo informal de partidos que compõe hoje a base aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso Nacional.

Ainda pensando em 2022, o líder do centrão comentou sobre a possibilidade de o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro concorrer nas eleições. Para ele, falta "apelo político" para o ex-juiz da Lava Jato.

"Não acredito no Sergio, [a possível candidatura dele] é uma situação criada pelo momento político importante da Lava Jato, mas não tem apelo eleitoral nenhum. Se for candidato, é a deputado ou senador", disse Nogueira.

O senador ainda comparou a falta de apelo eleitoral de Moro com a popularidade de Lula e Bolsonaro:

Já o presidente Lula (PT) foi um bom presidente por oito anos e cometeu um erro na sua sucessão, mas é um homem que tem história e apelo eleitoral importante. Se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ele forem para a eleição, não tenho dúvida que os dois estarão no segundo turno.
Senador Ciro Nogueira (PP-PI)

O cenário previsto pelos parlamentares é de polarização entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se este realmente puder se candidatar, com a presença de um candidato de terceira via.

Condução da pandemia

Segundo o senador, todos os membros do Congresso Nacional têm uma parcela de culpa no agravamento da pandemia do novo coronavírus.

"A situação que estamos vivendo não tem inocentes, inclusive eu, o Congresso Nacional... Só na semana passada viemos a aprovar um Orçamento que deveria ser aprovado desde o ano passado, não fomos capazes de votar aquele orçamento", afirmou Nogueira.

"O presidente da República [Jair Bolsonaro] pode ter cometido alguns erros, não concordei com alguns posicionamentos dele, mas os governadores também tiveram um erro do tamanho do mundo. Receberam recursos como nunca na História e usaram para sanar suas contas públicas em vez de ter hospitais funcionando", criticou ele.

Temos que ter soluções. Temos 300 mil mortes e podemos chegar a 500 mil, é coisa de uma catástrofe sem precedentes na história do mundo, mas temos que enfrentar, dar a nossa contribuição. É o momento dos homens públicos assumirem, seja presidente, Congresso, Judiciário, prefeitos. governadores, a sociedade como um todo, para salvarmos vidas e sairmos dessa situação.
Senador Ciro Nogueira (PP-PI)

O líder do centrão elogiou o trabalho do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde. "Fui defensor do ministro da Saúde, general Pazuello, no passado. Ele foi muito importante naquele momento, muito melhor que o ministro [Luiz Henrique] Mandetta, que passava o dia dando entrevista e não tinha operacionalidade nenhuma."

Após críticas e até investigação pela forma como conduziu a pandemia, Pazuello deixou o cargo no último dia 15 e foi substituído pelo médico Marcelo Queiroga.

Agora tínhamos que ter outro ministro. Estou feliz com o trabalho do novo ministro, um homem que defende uma série de situações, tem a coragem de defender o uso de máscara, distanciamento social.
Senador Ciro Nogueira (PP-PI)

O senador disse que apoia a criação de um novo imposto, uma nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), para bancar o auxílio emergencial.

"Se acharmos a fonte [podemos aumentar o valor do auxílio emergencial]. Temos que ter responsabilidade e não fazer propostas absurdas. Uma quantidade de parlamentares veio dizer que '[o auxílio] tem que ser R$ 1.000'. Sim, mas quem vai pagar? Vamos tirar de onde? Se fizermos uma reforma administrativa, [criar] o teto do funcionalismo, aí teremos fonte. Vamos botar uma CPMF para o auxílio, eu defendo isso."