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Bolsonaro nunca escondeu projeto golpista, diz presidente da OAB

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Andréia Martins, Lucas Borges Teixeira e Rai Aquino

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

30/03/2021 11h41Atualizada em 30/03/2021 17h26

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), afirmou hoje que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "nunca escondeu projeto golpista" e "só não entende quem não quer ver". Para o advogado, o atual governo ficará marcado como pior do que os da ditadura militar (1964-1985).

No UOL Entrevista nesta manhã, além de criticar duramente a gestão Bolsonaro, o presidente da Ordem chamou ainda a atenção para as mudanças ministeriais feitas ontem (29), que poderiam indicar maior "aparelhamento" do governo e da Polícia Federal, afirmou que o ex-juiz Sergio Moro "corrompeu" a Operação Lava Jato e não quis comentar uma possível candidatura em 2022.

Esse projeto golpista do Bolsonaro... se as pessoas não entenderam isso, realmente não querem ver. Ou elas são a favor da ditadura que o Bolsonaro pretende estabelecer, ou vão ter que pagar no futuro o preço da omissão, de uma profunda ingenuidade. Me parece que esse projeto ontem se fragilizou um pouco.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, comentando a saída de alguns militares do governo por não aceitar pedidos diretos de Bolsonaro

Para o advogado, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, colunista do UOL, a gestão de Bolsonaro "vai ficar abaixo" dos governos de Arthur da Costa e Silva (1967-1969) e Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), responsáveis pelos anos mais duros da ditadura militar.

Até os que foram assassinos diretos [como os ditadores] vão ter lugar na história superior ao dele. Porque sempre tem quem defenda o crescimento econômico... Esse [governo] é o conjunto de todos os malefícios da vida política brasileira, é um acidente histórico. Vamos levar muito tempo para superar o erro cometido.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Bolsonaro aparelha governo e PF

O presidente da OAB disse olhar com preocupação as mudanças feitas ontem (29) por Bolsonaro em sua cúpula ministerial, com trocas em seis ministérios, e o acusou de "confundir público e privado".

Temos que ter atenção total, porque há mais do que indícios de aparelhamento de setores da Polícia Federal. Cabe à própria Polícia Federal resistir a esse processo, como aparentemente em boa hora estão fazendo as Forças Armadas. O presidente nunca escondeu que ele vê a Polícia Federal quase como uma extensão da casa dele, um anexo da atuação de seus familiares.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Santa Cruz afirmou que é preciso "acompanhar as mudanças que vão ocorrer nos comandos militares e continuar vigilante que esses militares legalistas, constitucionalistas, que são a maioria, sigam resistindo a esse ímpeto golpista do presidente e de setores do seu entorno".

O advogado apontou em especial a nomeação do delegado federal Anderson Torres para o Ministério da Justiça e Segurança Pública e lembrou ainda as acusações de influência de Bolsonaro na Polícia Federal, denunciadas pelo ex-ministro Sergio Moro, para supostamente tentar proteger o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho mais velho.

O advogado chamou as denúncias contra Flávio por lavagem de dinheiro de "gravíssimas" e com provas "aparentemente sólidas".

É direito do senador e do próprio presidente de defesa. O que não cabe é usar o prestígio dos seus cargos atuais para tentar impedir [as investigações] --e isso aparentemente está sendo feito. A própria advogada do senador amarrou que houve reuniões com Abin [Agência Brasileira de Inteligência], com secretarias estratégicas do governo pra tratar da defesa. Essa confusão entre público e privado não pode existir.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Ele citou ainda o episódio envolvendo um policial militar em Salvador que atirou aleatoriamente em meio a um surto e acabou morto por policiais. O advogado chamou de "gravíssima" a atitude da deputada Bia Kicis (PSL-DF), aliada de Bolsonaro e presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que "vem publicamente incentivando levante de policiais militares".

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Moro e Dallagnol corromperam Lava Jato

Para o presidente da Ordem, o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol "corromperam" a Operação Lava Jato e "são responsáveis" pelo destino da investigação.

O processo corrompido é corrupto tanto quanto. Eles corromperam o processo. Basta ouvir as declarações esdrúxulas, como: 'Ah, os advogados despacham com os juízes'. Qualquer advogado que tivesse tido aquele nível de produção de provas, de antecipação de audiências, consolidado numa comunicação já teria sido excluído da OAB.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Para Santa Cruz, os diálogos hackeados e vazados entre os integrantes da força-tarefa em Curitiba comprometeram os procuradores envolvidos nos processo.

"Esse processo desestrutura o próprio sistema judicial. Recuperar o sistema judicial e a sua legitimidade é fundamental para a democracia, porque não há como acreditar em Estado Democrático de Direito com uma Justiça que faz justiça com as próprias mãos às margens da lei", afirmou o advogado.

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Candidatura em 2022

Santa Cruz não quis comentar uma possibilidade de lançar uma candidatura nas eleições de 2022 pelo Rio de Janeiro. Ele se disse "lisonjeado" pelas especulações veiculadas pelo Democratas, mas disse ser "hora de falar de pandemia".

Acho que o momento é para tratar de pandemia, pandemia e pandemia. Falar de política eleitoral agora é fazer parte dessa irresponsabilidade que está aí. Aliás, é só o que o presidente tem feito o dia inteiro. Só pensa em eleição, não pensa em quem morreu naquele dia. Fico lisonjeado, acho que é muito mais um reconhecimento do que a OAB vem fazendo hoje em dia do que à minha pessoa.
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado na primeira versão, CCJ é a sigla de Comissão de Constituição e Justiça, e não da Comissão de Cidadania e Justiça. A informação foi corrigida.