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Mídia internacional destaca crise no Brasil e Bolsonaro sob pressão

Para a CNN americana, turbulência política no Brasil tem ofuscado a crise sanitária causada pelo novo coronavírus - Raul Spinassé/Folhapress
Para a CNN americana, turbulência política no Brasil tem ofuscado a crise sanitária causada pelo novo coronavírus Imagem: Raul Spinassé/Folhapress

Do UOL, em São Paulo*

01/04/2021 10h15

Veículos de comunicação de diversos países, como Estados Unidos e Inglaterra, destacam hoje o que chamam de crise política no Brasil depois das mudanças de Jair Bolsonaro (sem partido) promovidas nos ministérios e nas Forças Armadas.

A emissora americana CNN publicou uma extensa reportagem em seu site dizendo que a turbulência política no Brasil tem ofuscado a crise sanitária causada pelo novo coronavírus. Ontem, o país registrou quase 4 mil mortes provocadas pela doença em 24 horas.

"Os brasileiros estão cada vez mais descontando sua raiva em Bolsonaro, que minimizou o vírus desde o início", diz a emissora, que ainda destacou a queda de popularidade do presidente.

A CNN destaca que, em meio a este clima desfavorável, promoveu mudanças em seis ministérios, tendo como objetivo "aumentar o apoio (do Centrão), dando cargos ministeriais a esses partidos e substituindo o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo".

Entre essas mudanças, a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e a consequente saída dos três comandantes das Forças Armadas foi a que mais teve repercussão.

"A relação ficou tensa nas últimas semanas e em sua carta de demissão, Azevedo e Silva disse claramente que preservou as Forças Armadas como instituições de Estado", diz a emissora.

Bolsonaro sob pressão

O jornal britânico The Guardian, por sua vez, disse que a crise política e sanitária do país aumentou a pressão em cima de Bolsonaro, com políticos da oposição pedindo o impeachment do presidente.

A publicação ainda destaca declarações de parlamentares brasileiros, como a do líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon. "Há uma tentativa aqui do presidente de conseguir um golpe - já está em andamento - e é por isso que estamos reagindo", disse o deputado.

Com a avaliação de especialistas, o jornal diz que os motivos "da súbita e dramática fissura entre o presidente de extrema direita do Brasil e os militares que ajudaram a levá-lo ao poder em 2018" ainda precisa ser explicada.

"O que quer que tenha acontecido, poucos duvidam que o drama da semana representa um momento crucial e potencialmente perigoso na história moderna de um país que só emergiu de duas décadas de ditadura em 1985", diz o texto.

Confronto inédito com as Forças Armadas

"Bolsonaro tenta reprimir as Forças Armadas" é manchete no jornal conservador Le Figaro de hoje. Para o correspondente do diário em São Paulo, Michel Leclercq, a atitude do presidente brasileiro é o início de uma crise inédita com essa instituição que, apesar de hoje respeitar a ordem democrática, é marcada pelas práticas na época da ditadura militar no país.

Le Figaro destaca que a decisão de Bolsonaro de demitir o ministro da Defesa, dizem rumores, porque Fernando Azevedo e Silva teria proibido as Forças Armadas de interferirem em questões políticas, suscitou um forte mal-estar entre os militares e uma grande preocupação por parte da oposição.

Para o cientista político Octavio Amorim Neto, especialista em questões militares, entrevistado pelo Figaro, a ruptura das Forças Armadas com Bolsonaro é uma derrota política do presidente. O futuro desta relação é incerto, afirma a matéria, lembrando que não se sabe até o momento se o novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto, pode aceitar orientações mais radicais de Bolsonaro, o que levaria à politização das Forças Armadas.

Lula como outro polo

Já o jornal católico francês La Croix publica uma reportagem, assinada por sua correspondente em São Paulo, Marie Naudascher, sobre a guerra aberta entre Bolsonaro e o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Bolsonaro e Lula calibram suas armas em um Brasil em crise" é manchete do diário.

La Croix publica que, diante da situação da epidemia de Covid-19 no país, a tensão aumenta entre o atual chefe de Estado e o ex-presidente, antecipando um provável duelo nas eleições presidenciais de 2022.

A reportagem afirma que o retorno de Lula à política surpreendeu Bolsonaro, o que o incitou a adotar gestos inéditos durante a crise sanitária. "Bolsonaro, que exibe frequentemente seu 'coronaceticismo' resolveu até usar máscara em público durante uma missa, antes de se aglomerar, novamente, com uma multidão", diz o jornal.

No entanto, o presidente brasileiro continua condenando as decisões dos governadores e prefeitos que decretam lockdowns para tentar frear as contaminações. Para Bolsonaro, o desemprego e a falência de empresas são consequências diretas das medidas sanitárias, reitera La Croix.

*Com informações da agência RTI

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.