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'Sabia que precisava ser preso para provar minha inocência', diz Lula

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre condenações anuladas, candidatura para 2022, e faz críticas ao governo Bolsonaro - Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre condenações anuladas, candidatura para 2022, e faz críticas ao governo Bolsonaro Imagem: Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo

Colaboração para o UOL

15/04/2021 11h10Atualizada em 15/04/2021 12h09

Os 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) voltam a se reunir hoje, às 14h, para julgar a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Corte vai avaliar se mantém ou não a decisão do ministro Edson Fachin, que tirou os processos da Operação Lava Jato contra Lula do Paraná e os enviou para o Distrito Federal.

Em entrevista à rádio O Povo CBN na manhã de hoje, o ex-presidente comentou que já esperava o desfecho da prisão desde o início do processo comandado por Sérgio Moro.

"Eu sabia que esse processo havia sido feito para chegar em mim, para evitar que eu fosse candidato a presidente em 2018. Foram mentiras atrás de mentiras. 'Você está condenado a me condenar. Deixaram a mentira longe demais', eu disse para o Moro no meu primeiro depoimento a ele. Muitas pessoas falaram para eu não aceitar a prisão, para ir para outras fronteiras, mas eu não queria aparecer para o Brasil como um foragido. Eu sabia que eu precisava ser preso para provar a minha inocência no futuro", disse.

Lula também falou sobre as expectativas para a decisão do STF quanto as condenações anuladas.

"Não tirou meu sono pois estou tranquilo. Estou tranquilo desde quando fui para a Polícia Federal, pois eu tinha o objetivo de provar que o Moro colocou uma quadrilha para atuar no meu caso. Agora estamos provando todas as mentiras que foram contadas ao meu respeito. O julgamento foi baseado na falta de provas e de motivos para acusações. Nós já prevíamos esse cenário em 2016, quando percebemos que queriam me deixar não elegível. Mas estou feliz com a decisão do Fachin. Nós queríamos um julgamento justo, nada além disso. Um julgamento sem interferências. E eu estou muito tranquilo pois não há provas contra mim, eu tenho tanta consciência da minha inocência", declarou.

580 dias na prisão

Questionado se ainda confia na justiça após passar 580 dias preso, Lula disse que o fato não abalou sua confiança na justiça brasileira.

"Se um ser humano que teve a trajetória de vida que eu tive parar de acreditar no processo democrático, eu preciso parar de fazer política. Temos que brigar para consertar e lutar para ajustar a democracia, para evitar condenações injustas. A democracia é isso, uma convivência permanente nos rumos da humanidade", declarou.

O político relatou os piores momentos que viveu dentro da prisão: "A morte do meu irmão foi um acontecimento pesado. Não queriam deixar eu ir ao enterro. Queriam levá-lo até onde eu estava. A primeira vez que um morto visita um vivo, ao invés do contrário. E a morte do meu neto, de uma criança saudável, também foi difícil. Depois me permitiram que eu viesse a São Bernardo do Campo para o enterro".

Foram momentos difíceis, mas eu fiquei firme, pois eu tinha certeza que o Moro dormia pior do que eu porque sabia que tinha contado uma mentira e planejado uma armação para me prender. Estou tranquilo, quero seguir em frente de cabeça erguida. Vou continuar lutando para ver se a gente consegue recuperar o Brasil.
Lula

Governo Bolsonaro

Durante a entrevista Lula fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro diante do combate à pandemia no Brasil.

"O problema do Bolsonaro é que ele desrespeita sistematicamente a democracia. Ele ofende a sociedade. Ele fez tudo diferente do que a ciência pede desde o início do vírus no mundo. Esse cidadão deixou de comprar 700 milhões de vacinas, ele recusou. Chamou a doença de gripezinha, zombou do uso de máscaras... Bolsonaro deveria chamar os governadores do nordeste e conversar com eles, para aprender a dialogar e a humanizar a relação dele com a sociedade", disse.

O ex-presidente avaliou que o Brasil "piorou muito", "em nível interno, internacional, empresarial, de renda e de emprego", desde que o PT deixou a Presidência da República, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. "Minha briga agora é para tentar consertar o Brasil. Eu nunca vi tanta fome como eu estou vendo agora em São Paulo, na periferia e no centro de São Paulo. No centro de Fortaleza, no interior do Ceará e no Interior de Pernambuco porque há um desrespeito total com o pobre neste país. Me parece que as pessoas têm ódio quando o pobre sobe um degrau na ascensão social neste país. Eu fico muito irritado porque nós tínhamos acabado com a fome, a ONU reconheceu, e bastou derrubar a Dilma para 'melhorar o Brasil', segundo nossos adversários", declarou Lula.

"Impossível comparar a trajetória do Lula com a do Bolsonaro. Eu nunca fui chamado do mito, porque isso é coisa de miliciano e de fascista. Ele nem sabe que mito. No sentido literal da palavra, significa 'mentira'. Bolsonaro foi eleito por uma idolatria miliciana. E o ódio ao PT só nasceu porque o PT colocou o pobre dentro do orçamento da União", completou.

Candidatura em 2022

O ex-presidente foi questionado sobre sua possível candidatura à presidência da república em 2022, mas optou por não se posicionar.

Eu não quero discutir eleições em 2021. Quero discutir a vacina para o povo brasileiro, o auxílio emergencial para quem está passando fome, para os comerciantes que precisam pagar os aluguéis e que geram empregos, para reativar a economia brasileira.

Sobre a relação com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), Lula criticou os discursos que ele tem feito, mas afirma ainda ter "esperanças" no político.

"Tenho um carinho pelo Ciro, tenho respeito, ele foi leal em termos de governo comigo Muitas pessoas falam para eu ter raiva dele, mas eu não tenho. Atualmente ele está fazendo uma leitura errada, se colocando contra a esquerda política. Ele quer agradar quem? O setor da direita? O setor da direita está fechado com o Bolsonaro. Eu acredito que ele pode mudar e ainda espero o Ciro afável com a esquerda. Ele tem momentos de grandezas, mas ele tem rompantes de ódio", disse.

De acordo com o petista, os governadores do Nordeste brasileiro, em especial o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), fizeram um "trabalho extraordinário".

"Vamos ver se eu vou ser candidato, o que vou ser em 2022, está tudo incerto ainda. Camilo Santana pode ser presidente, ele tem potencial", completou Lula.