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Mandetta diz que Bolsonaro tinha 'aconselhamento paralelo' dos filhos

Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, afirmou na CPI que os filhos de Bolsonaro aconselhavam governo federal Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

04/05/2021 13h01Atualizada em 04/05/2021 17h30

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tomou decisões sobre a contenção da pandemia "aconselhado" pelos filhos, afirmou nesta terça-feira (4) o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante depoimento à CPI da Covid do Senado.

As perguntas iniciais da sessão foram feitas pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é o relator da comissão parlamentar de inquérito. Uma delas versava sobre uma entrevista concedida por Mandetta na qual alegava que o presidente recebia aconselhamentos sobre a contenção da pandemia por pessoas fora do Ministério da Saúde. Nesse momento, o ex-ministro citou o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos).

Várias vezes na reunião do Ministério, o filho do presidente, que é vereador no Rio de Janeiro, estava sentado atrás, tomando as notas na reunião. Eles tinham constantemente reuniões com esses grupos dentro da presidência"
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde

De acordo com a versão do ex-ministro, os aconselhamentos de grupos paralelos eram constantes na gestão de Bolsonaro. Mandetta chegou a narrar um momento em que foi informado que a reunião aconteceria no terceiro andar do ministério, junto com médicos e vários ministros.

Esse teria sido o dia em que o ex-ministro teria ouvido falar sobre a "cloroquina", medicamento sem eficácia comprovada recomendado pelo presidente para combater a covid-19.

Fui informado, após uma reunião, que era para subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos. Vinha propor esse negócio de cloroquina que nunca eu havia conhecido, porque ele [Bolsonaro] tinha um assessoramento paralelo nesse dia"
Luiz Henrique Mandetta

Sem citar nomes, um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), reagiu nas redes sociais logo depois da fala do ex-ministro da Saúde na comissão dizendo que havia um "festival de mentiras" e um "circo boçal de narrativas".

"Festival de mentiras. Circo boçal de narrativas. Se a lei valesse de verdade, um sujeito que se preza mentir descaradamente onde a lei diz que não deveria, sair preso desse local era o esperado em um país sério! Mas vivemos no Brasil onde tudo acontece ao contrário!", escreveu ele.

Mandetta diz que não deixaria cargo na pandemia

Mandetta ocupou o cargo de ministro da Saúde entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Na CPI da Covid, o ex-ministro disse que "jamais" pediria para sair da gestão durante a pandemia e disse que um médico não pode "abandonar seus pacientes".

Eu não pediria jamais demissão do cargo, fui nomeado para ser Ministro da Saúde do Brasil pelo presidente. O cargo de ministro de saúde, ele é, em situação de pandemia, eu tinha um paciente doente, eu tinha que ficar com meu paciente a revelia de tudo e de todos baseado no que eu tivesse de melhor
Luiz Henrique Mandetta

Quando ele foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, a média móvel de mortes por covid-19 no país era de 142 óbitos por dia. Hoje, a mesma média é de 2.375 mortes. Mais de 407 mil pessoas morreram no país em decorrência da doença.

Mandetta chegou a dizer que a sensação que tinha era de ser o "mensageiro da má notícia" ao orientar o presidente Jair Bolsonaro sobre o que deveria ser feito para evitar o colapso da saúde.

Em diversos momentos da oitiva, Mandetta afirmou que pautou suas decisões enquanto ministro com base "no estudo e na ciência" e que sua relação com o presidente Jair Bolsonaro foi se distanciando por conta de divergências sobre como lidar com a contenção da pandemia.

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A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.


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