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'Sou Lula', disse em 2018 Ciro Nogueira, hoje na 'tropa de choque' da CPI

Do UOL, em São Paulo

05/05/2021 21h01

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) hoje tem a missão de tentar defender os interesses do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na CPI da Covid. Em 2018, porém, ele usou o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para se reeleger ao Senado.

Integrante da chamada "tropa de choque" de Bolsonaro —como classificou o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, senador Renan Calheiros (MDB-AL)— Ciro Nogueira não tem sido unanimidade entre bolsonaristas sobre sua atuação na CPI, que tem como objetivo principal investigar as ações e possíveis omissões do governo federal na condução da pandemia de covid-19.

Na tentativa de questionar a lealdade do senador a Bolsonaro, foi resgatado entre apoiadores do presidente um vídeo de setembro de 2018, época da campanha eleitoral ao Senado e também à presidência da República. Nele, Ciro Nogueira repete por várias vezes a expressão "sou Lula", que é o mote da peça publicitária (veja no vídeo acima).

"Sou um dos milhões de brasileiros que são Lula. Sou Lula por reconhecimento e gratidão por tudo que ele fez pelo Nordeste e pelo Piauí em especial", diz o senador. "E para mim o Piauí está acima de tudo, meu amor por minha terra é maior que qualquer questão", completa Ciro.

dsa - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Campanha de Ciro Nogueira ao Senado em 2018
Imagem: Reprodução/YouTube

O senador então narra vários feitos do ex-presidente petista, que promete ser o grande rival de Bolsonaro na provável tentativa de reeleição no ano que vem. Ciro Nogueira cita programas sociais criados por Lula, como o Minha Casa Minha Vida.

"Sou Lula pela sua capacidade de ampliar as oportunidades, missão que também tenho", diz o senador em outro momento do vídeo. "Sou Lula pela crença que é possível, sim, construir um Brasil melhor e mais justo", acrescenta depois.

À época, Ciro Nogueira era aliado de Lula e tentava a reeleição no Senado se colocando ao lado do também petista Wellington Dias, hoje governador do Piauí. Durante o governo Bolsonaro, o senador se aproximou da base de apoio do presidente no Congresso e hoje é uma das principais vozes governistas na CPI da Covid.

Ao lado de Ciro estão os senadores Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE), que chegaram a tentar impedir a escolha de Renan como relator da CPI em recurso feito ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Bate-boca com bancada feminina

Hoje, Ciro Nogueira foi um dos senadores envolvidos em um bate-boca com a bancada feminina que tem marcado presença na CPI, mesmo não havendo mulheres entre os membros da Comissão. A discussão provocou a suspensão da sessão enquanto a CPI ouvia o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich.

Após a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) usar a palavra durante a sessão, Ciro demonstrou insatisfação com a participação, mesmo afirmando que o PP respeita as mulheres.

"Ninguém mais do que meu partido respeita o papel das mulheres. Agora se foi um erro das lideranças não indicar as mulheres, a culpa não é nossa", disse o senador.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.