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'É legal, mas não acho ético', diz Mourão sobre remunerações acima do teto

Andreia Martins, Ana Carla Bermúdez, Gabriel Toueg e Letícia Lázaro

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL

10/05/2021 10h41Atualizada em 10/05/2021 14h33

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), afirmou que, apesar de "legal", "não acha ético" a remuneração acima do teto constitucional que ele passará a receber.

"A decisão não foi do presidente, foi do Ministério da Economia. Isso é uma questão legal. O STF [Supremo Tribunal Federal] já criou a jurisprudência em relação a esse assunto, que é o camarada que é aposentado e possui um cargo no governo. Eu continuo com a mesma posição. É legal, mas eu não considero ético no momento que isso aconteça", afirmou Mourão durante o UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral, apresentadora do UOL, e pelos colunistas Carla Araújo e Josias de Souza.

Ele disse estar "pensando no que vou fazer". "Não sei se vou doar para uma instituição, para o meu partido. Vou pensar no que vou fazer. Quando eu receber, por enquanto não pingou nada na minha conta, quando aparecer, eu vejo o que vou fazer."

O Ministério da Economia publicou uma portaria que permitirá a reservistas e servidores públicos aposentados que exercem também determinados cargos públicos receber acima do teto constitucional, atualmente em R$ 39,2 mil.

Com a nova regra, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), por exemplo, deverá ter um "aumento" de R$ 2.300 por mês, e Mourão, de R$ 24 mil mensais.

A portaria é assinada pelo secretário de Gestão e Desempenho do Ministério da Economia, Leonardo José Mattos Sultani. Segundo o ministério, o impacto estimado para este ano é de R$ 181,32 milhões. A pasta afirmou que a portaria terá efeito já na folha de maio, sem pagamentos retroativos.

Vacinas

Ao falar sobre as vacinas contra a covid-19, o vice-presidente disse que "o mundo inteiro está se debatendo com isso". "Acho que estamos sofrendo uma crítica talvez um pouco além daquilo que é a realidade", disse Mourão. "A União Europeia está com problemas, não consegue avançar numa velocidade de vacinação, tanto que hoje nós temos a notícia da ruptura do contrato com a AstraZeneca, porque ela não cumpriu os prazos."

Segundo o militar, "quem vacinou para valer mesmo são os Estados Unidos, donos da vacina". "Não julgo que o governo lavou as mãos nessa questão da vacina, ele buscou aquilo que se julgou importante naquele momento".

"A maior discussão que pode ser colocada em relação a essa questão da vacina é o termo dos contatos com a Pfizer", disse Mourão. "Desde agosto do ano passado se buscou negociar, e julgo eu que a gente poderia ter buscado isso antes."

Mesmo com a crítica, o vice disse acreditar que o país terminará 2021 com 160 milhões de brasileiros vacinados. "Naquilo que a gente espera, eu julgo plenamente [possível] que nós chegaremos ao final do ano com 150, 160 milhões de pessoas vacinadas aqui no Brasil, e consequentemente atingindo aqueles grupos todos que são prioritários e são necessários que sejam vacinados", afirmou.

CPI da Covid

Mourão comentou ainda o esperado depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, adiado por ele ter supostamente tido contato com dois assessores contaminados. Segundo o vice-presidente, será o depoimento mais difícil.

"Esse depoimento dele será o mais difícil, é óbvio, ele tem que se preparar porque vão fazer um interrogatório bem duro em cima das ações que ele fez ou deixou de fazer", disse. "Ele terá que ter dados bem consistentes para apresentar."

Operação no Jacarezinho

Na semana passada, após operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, Mourão se referiu aos mortos como "tudo bandido". Hoje, ao falar do assunto, o vice-presidente manteve a narrativa. "Os dados que eu tenho [mostram] que a polícia se preparou para aquilo ali. No primeiro minuto um policial é abatido com um tiro na cabeça, que não é um tiro aleatório, é um tiro de um camarada que estava muito bem posicionado", afirmou.

"É uma situação complicada", avaliou. Para Mourão, a polícia "tinha duas linhas de ação ali: a partir do momento em que houve o enfrentamento, ou ela caía fora ou agia como polícia". O vice reconheceu, entretanto, que o combate ao crime organizado no Rio "não passa única e exclusivamente pela repressão". "Enquanto não encaramos a situação das favelas, colocar rua, esgoto, casa com número, escola decente, atendimento de saúde decente, estaremos nesse combate eterno", afirmou.

O estado brasileiro não pode permitir que áreas de uma cidade estejam dominadas por facções criminosas, sejam narcoguerrilhas ou milícias. Hamilton Mourão, vice-presidente da República