Topo

Esse conteúdo é antigo

Fabio Wajngarten diz não lembrar autoria de campanha contra isolamento

Rayanne Albuquerque, Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral*

Do UOL, em São Paulo

12/05/2021 14h53Atualizada em 12/05/2021 17h00

O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten declarou hoje, em depoimento à CPI da Covid, no Senado, que não recorda quem foi o autor da campanha "O Brasil não pode parar", produzida contra o isolamento social. O publicitário alegou que, na época em que a mídia foi veiculada, estava em recuperação após ser diagnosticado com coronavírus.

"O Brasil não pode parar", eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Eu não sei se ele foi feito dentro da estrutura ou por algum... E circulou de forma orgânica. Eu não tenho essa certeza, posso confirmar para o senhor
Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro

A resposta de Wajngarten foi dada diante de um questionamento feito pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), citando o vídeo foi proibido pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O parlamentar alegou que a campanha incentivava as pessoas a irem para as ruas e retomarem os negócios, "contrariando as instruções de todas as instituições mundiais de prevenção à pandemia".

Ou foi produzido pela Secom, ou havia um grupo de comunicação paralelo do Governo distribuindo esse tipo de vídeo aos seus ministros, porque ele foi difundido pelos ministros do Governo Bolsonaro. Então, eu queria que fosse isso bem esclarecido
Senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)

Após as declarações de Wajngarten, o senador Humberto Costa (PT-PE) o apontou como culpado pela campanha categorizada como "negacionista". Na visão do petista, a propaganda do governo federal tem responsabilidade sobre o avanço do número de mortos pela doença no país.

Portanto, assumiu a responsabilidade por aquela campanha negativista, negacionista, defensora da imunidade de rebanho, que já nos causou aí 425 mil mortes
Senador Humberto Costa (PT-PE)

Ao ser questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre uma reportagem da revista Época que afirma que o ex-secretário apresentou o material ao filho do presidente da República e vereador do Rio, Carlos Bolsonaro (Republicanos), e a assessores do chamado "gabinete do ódio", com o martelo sendo batido por Carlos, Wajngarten negou que a informação seja verídica.

Indagado novamente se a concepção da campanha, "em tese", não foi elaborada por ele, Wajngarten disse: "E nunca teve aprovação de ninguém. Nunca teve contato com ninguém."

Campanha do Planalto

Em março de 2020, no início da pandemia da covid-19, o governo federal lançou a campanha publicitária "O Brasil não pode parar", que defendia a flexibilização do isolamento social, medida de peso para evitar a disseminação do vírus.

O valor da campanha não foi divulgado à época, mas a peça circulou nas redes oficiais do governo, divulgadas pela gestão de Bolsonaro.

Na altura, o governo afirmava que vítimas do coronavírus eram algo "raro" e por essa razão, fazia o incentivo da retomada das atividades econômicas e sociais. Hoje, pouco mais de um ano da publicação, o número de internação entre jovens já é superior ao de pessoas com mais idade.

STF arquiva ações contra campanha do governo

Em maio de 2020, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, extinguiu duas ações contra a campanha publicitária do governo federal, promovidas pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação).

A decisão de Barroso seguiu o entendimento do procurador-geral da República, Augusto Aras, que rejeitou a ação após dizer que não havia a comprovação da existência da campanha, uma vez que as peças publicitárias haviam sido removidas das redes oficiais do governo Bolsonaro.

* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.