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Exercite a paciência, diz embaixador chinês enquanto CPI ouvia Ernesto

Yang Wanming, embaixador da China - Adriano Machado/Reuters
Yang Wanming, embaixador da China Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colaboração para o UOL, em Alagoas

18/05/2021 14h56

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, falou em exercitar a paciência em seu perfil nas redes sociais, durante o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo na CPI da Covid hoje.

"Minha foto: algumas espécies de cactos demoram anos para florir. Exercite a paciência, pois as coisas boas fazem qualquer espera valer a pena", escreveu Yang, que já entrou em atrito com o ex-ministro durante a passagem de Ernesto Araújo pela pasta.

Atritos com a China

Desde o início da pandemia do novo coronavírus em março do ano passado, a atuação do ex-ministro Ernesto Araújo foi vista como um empecilho na busca de insumos da China para as vacinas, haja vista a relação conturbada entre o então chanceler e o país asiático, embora agora Ernesto negue que tenha promovido qualquer atrito com a China "seja antes, seja durante a pandemia".

Entretanto, em março de 2020, depois de o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) responsabilizar o país pela disseminação global do coronavírus, a diplomacia de Pequim reagiu com ataques ao parlamentar, e o Itamaraty cobrou retratação da China, provocando a interrupção por quase um ano o diálogo entre o ex-ministro e a embaixada chinesa no Brasil.

Durante depoimento na CPI, o ex-chanceler afirmou que Yang Wanming cometeu um "erro" ao criticar a família do presidente Jair Bolsonaro, e que o Itamaraty se posicionou sobre isso, sem concordar com as declarações de Eduardo.

"Na nota que eu fiz e publiquei como chanceler eu disse que o governo brasileiro não endossava as declarações de Eduardo Bolsonaro. No entanto, o embaixador da China tinha se excedido ao republicar uma publicação do Twitter que dizia que a família Bolsonaro é o veneno do Brasil. Procurei chamar a atenção para isso", declarou o ex-ministro.

Em abril de 2020, em seu blog pessoal, Ernesto Araújo publicou um artigo usando o termo "comunavírus" e afirmando que o coronavírus seria uma "imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista" que seria, por sua vez, "o novo caminho do comunismo". No depoimento de hoje, ele negou que o termo "comunavírus" tenha sido feito em referência à China, mas, sim, em alusão a um texto do autor Slavoj Zizek.

Já em janeiro deste ano, Araújo afirmou que o Brasil deveria se unir aos Estados Unidos para barrar o que chamou de "tecnototalitarismo", em uma referência velada à China.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil e o exportador essencial de insumos para a produção de imunizantes contra a covid-19. O ex-chanceler, no entanto, insistiu na CPI que nenhuma declaração sua foi ofensiva e que as relações com o governo chinês não foram afetadas.

O depoimento de Ernesto Araújo na CPI da Covid é considerado como um dos mais importantes pela oposição, por entender que o então chanceler não acionou o Itamaraty da forma como deveria para pedir ajuda a outros países, a fim de evitar que o Brasil enfrentasse uma crise de proporções tão grandes como a vivenciada hoje.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.