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Não vejo preocupação de Nunes com mudança partidária, diz Milton Leite

Do UOL, em São Paulo

20/05/2021 10h58Atualizada em 20/05/2021 11h48

O vereador Milton Leite (DEM), presidente da Câmara Municipal de São Paulo, disse não ver "preocupação do prefeito" de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), com "mudança partidária nesse momento". Nunes assumiu o cargo no último domingo, após a morte do prefeito Bruno Covas (PSDB), em decorrência de um câncer.

"Acho que traria algum problema, até de composições nacionais futuras, a mudança de um prefeito que acabou de assumir a prefeitura. Acho que nesse momento não seria de bom ritmo fazermos essa mudança. Acho que devemos discutir em outro momento. Entendo que nós devemos nos manter na administração municipal e procurar entregar para a população aquilo que nos comprometemos nas eleições", disse Leite ao participar do UOL Entrevista.

Segundo bastidores, o PSDB estaria tentando trazer Nunes para o partido já de olho no cenário eleitoral de 2022. Leite afirmou que a gestão de São Paulo deve se "manter distante" da discussão da eleição nacional neste momento.

"Temos o ano de 2021 para atravessar, temos problemas para resolver e ainda temos 2022 com vacinação prevista, uma nova retomada, a vacina dura por um ano. Não dá para ficarmos preocupados com eleição nacional, transformar isso em palanque, isso vamos descartar. Faremos todos os esforços para ficarmos apartados desse cenário", completou.

Sobre a condução da prefeitura, Leite também defende que Nunes siga o programa de Covas e não espera que o novo prefeito faça grandes mudanças no secretariado.

"A priori, não estou vendo um cenário neste momento, de uma mudança no quadro, que é o que importa, de secretariado. É natural que o prefeito traga alguns assessores, dele, para complementar o quadro que se faz necessário. Fora isso, no secretariado, não vejo mudança", disse Leite.

"Nos tínhamos uma proposta (...) e resultou de um programa eleitoral do qual nos ofertamos à população de São Paulo. Nós temos que cumprir. Se estava funcionando com o Bruno, que tanto prestigiamos, por que mudar neste momento? Não vejo motivo para mudança neste momento", completou.

Leite também descartou a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) por parte do PT para investigar os hospitais de campanha contra a covid na cidade.

"Não há nenhuma denúncia concreta que leve, com todo respeito ao vereador Donato [Antônio Donato, vereador do PT que pediu a CPI], mas não será a Câmara palco para isso. Se houver fato concreto a ser apontado, nós avaliaremos pelas comissões permanentes, que podem, com requerimento, serem levados a frente", diz Leite.

Desfalque no DEM

Sobre a ida do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, do DEM para o PSDB, Leite lamentou a mudança, já que segundo ele, Garcia "tinha tudo para, estando no DEM, ser eleito governador".

"Entendo que o governador João Doria levou o Rodrigo Garcia para fechar as portas para Geraldo Alckmin e quem sabe resolver um problema nacional dele. Obviamente eu sou contrário a isso. (...) Acho que ele [Garcia] deveria ficar. Mas já que ele foi, nós vamos lutar por uma vaga na chapa majoritária, para que possamos participar de uma eventual aliança [com o PSDB]", afirmou Leite.

Ele também comentou sobre a possibilidade de concorrer a senador. "Temos dificuldades grandes para sacramentar meu nome porque há outros que pleiteiam a vaga e não querem abrir mão, tanto para vice-governador quanto senador. Vamos disputar essa vaga sim", declarou.

Plano Diretor

Uma das prioridades da Câmara de São Paulo é a realização do novo Plano Diretor da cidade. A expectativa do vereador é de levar a discussão a plenário entre final de novembro e começo de dezembro. A oposição acha que a votação deve ser adiada para a Câmara focar no combate à pandemia de covid e depois realizar mais audiências públicas para definir o plano. Mas Leite mantém a postura de fechar neste ano.

"É o ano previsto em lei. Não há prejuízo nos debates porque as audiências públicas, que tanto a oposição fala que não participa, temos participação média de 2 mil pessoas. Fisicamente eu terei 300 no máximo, que é o salão nobre que tenho na Câmara. Com isso não quer dizer que eu esteja descartando as audiências públicas, presenciais. (...) Vamos levar a voto, nós temos que trabalhar. Não dá para ficar esperando", disse.

Covid e negacionismo de Bolsonaro

Leite também descreveu para o repórter Lucas Borges Teixeira e o colunista Leonardo Sakamoto a sua experiência ao contrair covid duas vezes. "A primeira eu passei praticamente assintomático, imagino que segundo os médicos [foi devido a] uma baixa carga viral, e essa segunda foi um terror. Passar praticamente 30 dias numa UTI... aos que estão assistindo, peço a Deus que não os atinja. Eu cheguei a ficar desenganado pelos médicos."

No mesmo tom, fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela forma como conduziu e tratou a pandemia de covid desde o ano passado.

É triste ver um presidente da república com uma política dessa, negacionista, que ele tem. Um presidente que negou uma compra de 70 milhões de doses de vacina. Imaginemos a população de São Paulo e do país se nós tivéssemos comprado 70 milhões e mais 100 milhões de doses da Pfizer, que seriam aplicadas na pior das hipóteses em janeiro. Na melhor das hipóteses, 35 milhões de pessoas teriam sido salvas

Para Leite, Bolsonaro terá o ônus pelas suas ações na condução da pandemia. "Essa política dele, ele vai pagar no ano que vem. O Trump pagou lá, ele vai pagar aqui. Não tenho dúvida. É inaceitável essa política do governo do Brasil. Veja o que o Biden fez. Pegou o país em uma situação e inverteu totalmente. (...) É preciso que o governo central pare de atrapalhar o país", disse.