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Deixei claro que não deixaria clínica, diz Nise sobre Ministério da Saúde

Rayanne Albuquerque, Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/06/2021 13h55Atualizada em 01/06/2021 15h34

Em depoimento à CPI da Covid no Senado, a imunologista Nise Yamaguchi disse ter deixado claro ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que não deixaria sua clínica para assumir o Ministério da Saúde. As declarações foram ditas em resposta aos questionamentos do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que a questionava sobre o que ela faria de diferente caso fosse a gerente da pasta.

A médica chegou a ser cogitada para assumir o Ministério da Saúde após a saída de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), em abril do ano passado. O cargo acabou sendo assumido pelo oncologista Nelson Teich.

Talvez eu não tenha sido convidada para ser ministra porque, no primeiro momento em que cheguei para a reunião com o presidente, deixei bem claro que tenho uma clínica muito extensa. Tenho mais de 15 mil pacientes que dependem de mim."
Nise Yamaguchi

Em entrevista ao UOL em maio de 2020, a oncologista disse, contudo, que aceitaria o cargo: "Não é simples, mas eu aceitaria sim (assumir o ministério), porque não acho que depende da minha pessoa. É o chamado de um povo que está sofrendo por direcionamentos errados", afirmou naquela ocasião.

Algum tempo depois, a senadora foi questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre um vídeo em que dizia falar "sempre" com o presidente Bolsonaro. "'Sempre' é uma expressão", afirmou a médica.

O senador citou, ainda, uma mensagem em que a média afirma "ele me conhece, a gente se fala o tempo todo". Ao que Nise respondeu:

Essa mensagem não foi uma mensagem direta. Essa mensagem eu passei para pessoas que estavam me sondando, falando assim: 'Você quer ser ministra? Você quer?' Falei que não, se ele quiser, ele me pergunta. Tanto é que ele nunca me perguntou."
Nise Yamaguchi

Mais cedo, a médica alegou que fazia parte de um "conselho científico independente" que contava com a participação do empresário Carlos Wizard. Yamaguchi disse ainda que ter se reunido com Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Segundo afirmou a médica, Arthur e ela se reuniram em uma reunião da Presidência da República e participou de outras cerimônias que discutiram a prescrição de cloroquina por médicos.

Diante do colegiado, a imunologista negou que tenha sido a responsável pela proposição das mudanças na bula da cloroquina para indicar o medicamento, sem eficácia comprovada, para os pacientes diagnosticados com coronavírus.

A declaração nega a versão dada pelo presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Antonio Barra Torres e do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Não fiz nenhuma minuta, inclusive não conhecia esse papel. Essa é a reunião a que ele se refere, no dia 6 de abril de 2020, que ocorreu no Planalto com a presença do almirante Barra [Torres], do ex-ministro [Luiz Henrique]
Mandetta Nise Yamaguchi

Yamaguchi é defensora do "tratamento precoce" para a covid-19, alinhada ao que o presidente Jair Bolsonaro indica. Entre as medicações que compõem o "kit covid", indicado para combater os primeiros sintomas da doença, inclui a cloroquina, azitromicina e a ivermectina. Nenhum desses medicamentos tem eficácia comprovada para combater o coronavírus.

* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.