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'Exporia o presidente', diz Nise em mensagem sobre decreto para mudar bula

01.jun.2021 - Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) - Adriano Machado/Reuters
01.jun.2021 - Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) Imagem: Adriano Machado/Reuters

Lucas Valença

Do UOL, em Brasília

01/06/2021 16h00Atualizada em 01/06/2021 16h08

Ao depor na CPI da Covid, a médica Nise Yamaguchi entregou um documento registrado no 16º Tabelião de Notas de São Paulo em que registra uma troca de mensagens pelo WhatsApp com o tenente da Marinha Luciano Dias Azevedo.

O médico anestesista tem sido apontado por senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito como o responsável pela autoria do decreto que visava modificar a bula da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19 até o momento.

Ambos os médicos seriam integrantes, segundo avalia o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), do chamado "gabinete paralelo", que assessorava informalmente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A minuta que alteraria as informações disponibilizadas pelo remédio sem a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi revelada pela primeira vez pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Na ocasião de seu depoimento à CPI, o ex-parlamentar também afirmou que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) participava de reuniões estratégicas no Palácio do Planalto.

Troca de mensagens - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O documento entregue ao colegiado por Nise, porém, mostra que a médica chegou a receber o texto da minuta que tratava sobre a distribuição de cápsulas de 250mg de cloroquina, 400 mg de hidroxicloroquina e 500 mg de azitromicina pelo governo federal para o tratamento "experimental" da covid-19.

Em seu parágrafo 2º, a minuta advertia que a adesão ao tratamento "ora em estudo da covid-19" deveria ser acordado entre o médico e o paciente que aderissem "voluntariamente e de livre e espontânea vontade" ao tratamento precoce.

Ao observar problemas na elaboração do texto, a médica alertou o integrante da Marinha que o documento "exporia muito o presidente", mas não questionou as intenções do governo na distribuição dos medicamentos às unidades de saúde do país.

"Oi Luciano. Este decreto não pode ser feito assim, porque não é assim que regulamenta a pesquisa clínica. Tem normas próprias. Exporia muito o presidente", afirmou.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.