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'Falar m... dessa?', diz Aziz após Do Val chamar Luana de 'dona da verdade'

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

02/06/2021 15h44Atualizada em 02/06/2021 18h06

Presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) chamou de "m..." o discurso de seu colega de Casa, Marcos do Val (Podemos-ES), sobre a médica infectologista Luana Araújo, que depõe hoje na comissão. A crítica veio após do Val discordar do posicionamento de Araújo com relação aos médicos que defendem um suposto "tratamento precoce" contra a covid-19 — coisa que, segundo a médica, não existe.

"Depois de horas da mulher falando, um cabra desses vem falar uma m... dessas?", reclamou Aziz, em áudio vazado durante a sessão.

Pouco antes, Marcos do Val havia chamado Luana Araújo de "dona da verdade" e a acusou de "canibalismo" pelas críticas feitas a outros médicos que acreditam no tratamento precoce e, em especial, na hidroxocloroquina e na cloroquina — ainda que esses medicamentos sejam comprovadamente ineficazes contra a covid-19.

"Eu achava que canibalismo só existia aqui no Parlamento, mas estou vendo que na área médica infelizmente isso também ocorre. Na minha família, boa parte são médicos, [tenho] muitos amigos médicos. Grande parte está me mandando mensagens muito indignadas com a forma com que a senhora se coloca como dona da verdade", afirmou Do Val sobre Araújo.

Até admiro a forma como você fala, com tanta segurança, porque a gente se convence, a gente tem certeza que você tem certeza que é isso que você acredita. Mas aqui eu tenho aprendido a ouvir o contraditório. Tenho aprendido aqui no Senado a ser amigo de pessoas que pensam completamente diferente de mim, mas isso não me dá o poder de desmerecer o outro, de dizer que eles são irresponsáveis, inconsequentes e não sei o quê. (...) Acho que a gente tem que ter união, principalmente entre vocês, médicos."
Marcos do Val (Podemos-ES), na CPI da Covid

"Falta de informação"

Luana Araújo - Waldemir Barreto/Agência Senado - Waldemir Barreto/Agência Senado
Imagem: Waldemir Barreto/Agência Senado

Na CPI, Luana Araújo se posicionou firmemente — e mais de uma vez — contra o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento da covid-19. A médica reconheceu o sacrifício de todos os seus colegas de profissão, mas disse ver uma "falta de informação" por parte daqueles que ainda insistem em defender e prescrever esses medicamentos, uma vez que estudos já provaram sua ineficácia.

"Ninguém está deixando de analisar uma saída. As pessoas estão buscando soluções dentro de tudo que é possível, porque todos os países do mundo sofreram terrivelmente, tanto em termos de população quanto em termos de economia. Todo mundo quer uma saída. Infelizmente, com muita dor, devo dizer que meus colegas não estão com embasamento correto para responder sobre isso [tratamento precoce]", argumentou.

Ela ainda minimizou as críticas à OMS (Organização Mundial da Saúde) — que, inclusive, contraindica o uso de hidroxicloroquina e cloroquina —, dizendo ser natural a demora apresentada pela entidade para uniformizar as informações no decorrer da pandemia, uma vez que elas precisam valer "para todo mundo, em todos os setores".

"Se o senhor [senador Eduardo Girão (Podemos-CE)] não quiser levar a OMS em consideração, é de direito, mas aí a gente vai precisar ignorar o NHS, que é o serviço de saúde britânico; a gente vai precisar ignorar o CDC, que é o Centro de Controle e Prevenção de Doenças; a gente vai precisar ignorar o FDA, o EMA, a IDSA. Porque todas essas instituições têm exatamente a mesma posição sobre o tratamento precoce", finalizou.

Com todo respeito que devo aos meus colegas, infelizmente a gente precisa entender a ciência como uma coisa muito além das nossas limitações pessoais. Preciso aprender com o que as pessoas estão dizendo e ter criticidade [sic] para entender isso.
Luana Araújo, médica infectologista

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.