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Quem é Luana Araújo, médica infectologista que depôs na CPI da Covid

Luana Araújo é formada em medicina pela UFRJ e mestre em saúde pública pela Universidade Johns Hopkins - Leopoldo Silva/Agência Senado
Luana Araújo é formada em medicina pela UFRJ e mestre em saúde pública pela Universidade Johns Hopkins Imagem: Leopoldo Silva/Agência Senado

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

02/06/2021 18h57Atualizada em 02/06/2021 22h30

A médica infectologista Luana Araújo ocupou a cadeira de secretária extraordinária de combate à covid-19 durante pouco mais de uma semana. Seu desligamento em 22 de maio motivou sua convocação à CPI da Covid, onde se posicionou firmemente contra o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 — e criticou colegas de profissão que a prescrevem —, explicou questões médicas com clareza e defendeu a ciência, ganhando elogios de senadores e do público que a acompanhou pela TV.

Mineira, Luana é formada em medicina pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e mestre em saúde pública pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Durante seu depoimento à comissão, ela contou ter aprendido a ler e escrever sozinha, aos 2 anos, e entrado na primeira série do ensino fundamental aos 5. Formou-se no ensino médio dez anos depois, aos 15.

Em seu blog, chamado de "Des-infectando", Luana se descreve como "apaixonada pela medicina, por doenças infecciosas e pela possibilidade de tornar esses dois mundos mais acessíveis para todo mundo".

"Este blog se utiliza das fontes científicas mais atualizadas e seguras para traduzir as últimas descobertas de forma confiável, apolítica, e ética, para que você nunca mais se perca em fake news nestes assuntos", diz um trecho de uma postagem. "Aqui, o mais importante é ninguém ficar em dúvida. Informação é a arma de prevenção mais importante que existe."

Sua participação na CPI também lhe rendeu milhares de novos "fãs" nas redes sociais. Pela manhã, a médica tinha cerca de 9 mil seguidores no Instagram; agora há pouco, por volta das 18h40, ela já tinha passado de 60 mil.

Parlamentares também a exaltaram por seus discursos claros, didáticos e pautados pela ciência. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por exemplo, disse em uma rede social que o Brasil perdeu muito com a não nomeação de Luana. "O governo poderia ter feito mais! E uma das ações boas seria não vetar a nomeação da doutora", defendeu o vice-presidente da CPI.

Confira algumas das principais frases de Luana à CPI da Covid:

"Tratamento precoce" contra a covid-19

Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. Quando eu disse há um ano que nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu, infelizmente, ainda mantenho isso. Nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que lado da borda da terra plana a gente vai pular.

Possibilidade de veto a sua nomeação por razões políticas

Essa hipótese me deixa, nem frustrada, mas extremamente envergonhada. Me coloquei à disposição do atual governo para que a gente, juntos, chegasse a uma solução. Se o veto ao meu nome foi por conta da minha posição científica técnica, necessária, a mim só me resta lamentar. Eu não sei se foi, mas se foi, eu considero isso trágico.

"Corrupção mata"

Corrupção mata. Simples. Corrupção rouba dinheiro da onde ele deveria ser investido. Isso é resposta de uma cidadã, não estou falando como técnica. Se esse dinheiro é desviado de áreas que são cronicamente subfinanciadas, isso é ainda mais complexo. Então, a resposta curta e direta é que corrupção mata.

Ciência versus opinião

Ciência não tem lado. Ciência é bem ou mal feita. (...) Ciência não é opinião. Posso juntar a opinião de 1 milhão de pessoas, mas elas ainda assim vão ser opiniões. Ciência é método, ciência é feita com o desenvolvimento de atividades específicas que se encadeiam para que a gente tire de nós a responsabilidade de arcar com fatores de confusão.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.