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Randolfe quer convocar Facebook e YouTube na CPI contra lives de Bolsonaro

Thaís Augusto e Gabriel Toueg

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

18/06/2021 10h28Atualizada em 18/06/2021 14h01

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse hoje que vai protocolar pedidos de convocação das plataformas Facebook e YouTube, que transmitem as lives semanais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em live publicada ontem, Bolsonaro voltou a defender que a contaminação pelo vírus é mais eficaz do que a vacina. "O senhor presidente da República tem o direito de falar a besteira que quiser, só não tem o direito de produzir o aumento desses números [mortes por covid], de cada vez mais disseminar notícias sem lastro na ciência", disse Randolfe.

Segundo o senador, o pedido será apresentado na terça-feira para votação dos membros da CPI. "Não pode esse tipo de irresponsabilidade das plataformas [em permitir as lives do presidente]".

Por muito menos, o Twitter e o Facebook baniram o senhor Donald Trump [então presidente dos Estados Unidos]. Repito: não se trata de censura, o presidente pode falar as besteiras que quiser, onde quiser, só não pode comprometer a vida dos brasileiros."
Randolfe Rodrigues na CPI da Covid

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), concordou com Randolfe. "Tem que acabar com esse negócio de live. Votaremos o mais rápido possível, até cancelaremos alguém que está... Isso é de importância muito grande [convocação de plataformas na CPI] porque [Bolsonaro] propaga a mentira e a inverdade [nas lives]".

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, disse que a live de ontem do presidente Bolsonaro é a "reiteração de um crime". "Temos a continuidade criminosa da defesa da imunidade de rebanho, o desdém da eficácia da vacina e o exemplo do próprio presidente de que ele era a imunização natural porque havia contraído o vírus", afirmou.

O presidente continua a fazer o que sempre fez dessa forma irresponsável, utilizando indevidamente as plataformas, as mídias sociais para induzir os brasileiros ao erro e à morte com mentiras, falsidades. Nós jamais esperávamos chegar [a esse ponto] no Brasil."
Renan Calheiros na CPI da Covid

Redes sociais

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Facebook disse hoje que não vai comentar o anúncio de requerimento para falar à CPI da Covid. Questionada sobre a mecânica de banimento de quem propaga fake news nas redes sociais, a empresa disse que "Facebook e Instagram contam com uma parceria com agências independentes de verificação de fatos, para que elas revisem conteúdos denunciados pelas pessoas", além de explicar que essas agências podem, por conta própria, identificar conteúdos para verificação.

Ainda de acordo com a empresa, conteúdos identificados pelas agências de verificação como falsos "terão sua distribuição reduzida de forma significativa no feed de notícias, em cerca de 80%", bem como páginas que compartilham o conteúdo.

Os conteúdos que são marcados como falsos ou parcialmente falsos por uma agência de checagem de fatos também são rotulados para que as pessoas possam decidir por elas mesmas o que querem ler, acreditar e compartilhar
Facebook, em nota enviada ao UOL

O Facebook, entretanto, reconheceu que conteúdos divulgados por políticos "em geral não são submetidos à verificação de fatos", mas não quis comentar casos específicos, como do presidente Bolsonaro. "Nossa abordagem se baseia na crença fundamental do Facebook na liberdade de expressão, no respeito ao processo democrático e de que o discurso político é de interesse público e o mais analisado que existe, especialmente em democracias maduras com uma imprensa livre", afirmou.

A ação do Facebook, no caso de conteúdos falsos divulgados por políticos, se restringe, como a empresa afirmou, a "quando um político compartilha um conteúdo específico que já foi marcado como falso anteriormente". "Se limitássemos o discurso político, deixaríamos as pessoas menos informadas sobre o que os representantes eleitos estão dizendo e diminuiríamos a responsabilidade dos políticos por suas palavras", disse o Facebook.

Procurado, o Google, empresa proprietária do YouTube, disse apenas que não comentaria o assunto pelo momento e não respondeu ainda sobre o processo de checagem de conteúdos na rede social.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.