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Na CPI, Terra nega 'gabinete paralelo' e diz não ter poder sobre Bolsonaro

Afonso Ferreira e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília*

22/06/2021 11h49Atualizada em 22/06/2021 16h53

O deputado federal e médico Osmar Terra (MDB-RS) negou, em depoimento à CPI da Covid, a existência de um suposto "gabinete paralelo" para aconselhar o presidente Jair Bolsonaro sobre o enfrentamento à pandemia. Disse ainda que "de vez em quando" o presidente "lhe pergunta alguma coisa".

Questionado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se aconselhava Bolsonaro sobre o que falar em público, Terra disse que o Presidente da República fala o que pensa e que não tem poder sobre suas declarações.

O presidente fala o que ele quer falar, ele fala o que ele entende. Eu não tenho poder sobre o presidente: 'o senhor vai falar isso ou aquilo', isso não existe. Se eu tivesse esse poder, eu seria o presidente e ele, deputado. Não tem cabimento uma coisa dessas, querer imputar um poder sobrenatural às pessoas
Osmar Terra, em depoimento à CPI da Covid

O deputado afirmou que Bolsonaro, por não ser médico, ouve a opinião de pessoas da área da saúde para formar um juízo, mas isso não comprova a existência de um gabinete paralelo.

"O presidente da República não pode fazer isso? Ele pode! Isso não significa que tem gabinete paralelo, que tem estruturas paralelas, isso é uma falácia", declarou.

O deputado tem opiniões semelhantes às do presidente Bolsonaro, entre elas o isolamento vertical, que seria uma quarentena apenas para pessoas do grupo de risco —como idosos e comorbidades—, enquanto o restante da população seguiria com suas atividades normais.

Sobre o tema, Terra disse que ouviu o termo pela primeira vez por parte de Bolsonaro e que eles têm uma visão coincidente em "muitos pontos", mas que o presidente forma as próprias opiniões.

"A primeira vez que ouvi a palavra 'quarentena vertical' foi do presidente, eu nunca falei isso, nunca vi isso, ele cunhou esse termo, é da cabeça dele. Ele tem uma visão, que nós coincidimos em alguns pontos —muitos pontos, aliás— que quarentena e lockdown não funcionam, que destruía a economia do país para salvar vidas, e não salvou", afirmou.

Estudos publicados em revistas científicas de prestígio atestam que medidas de distanciamento e isolamento social funcionam para conter o vírus, entre elas o lockdown, que é a medida mais restritiva de isolamento.

Terra ainda disse que tem uma relação de amizade com o presidente, assim como outros deputados, e que tem simpatia por ele. "Quando, de vez em quando, o presidente me pergunta alguma coisa ou eu acho que tenho que falar alguma coisa, eu falo", completou.

Terra também afirmou à CPI que a tese de imunização de rebanho seria consequência natural de qualquer pandemia e, sem base em dados ou provas, disse que que as medidas de restrição, como o isolamento social e o lockdown, não salvaram sequer uma vida durante a crise sanitária provocada pela covid-19. Evidências científicas mostram justamente a importância deste tipo de medida para conter a disseminação do coronavírus.

O parlamentar buscou ainda minimizar erros cometidos por ele ao tentar prever, no ano passado, o número de mortes decorrentes do coronavírus.

Em uma de suas apostas, Terra disse que o país teria cerca de 2.000 óbitos. No último sábado (19), o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil vidas perdidas.

*Colaboraram Bernardo Barbosa , Fábio Castanho e Juliana Arreguy, do UOL em São Paulo, e Beatriz Montesanti, colaboração para o UOL em São Paulo

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.