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Servidor diz ter relatado a Bolsonaro pressão para importação de vacina

Luciana Amaral, Hanrrickson de Andrade e Gilvan Marques

Do UOL, em Brasília e São Paulo

25/06/2021 17h47

Em depoimento à CPI da Covid, nesta sexta-feira (25), o servidor Luis Ricardo Miranda disse ter relatado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que três superiores do Ministério da Saúde haviam o pressionado para agilizar os trâmites de importação de vacina.

Ele citou os nomes de Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde; tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde e coronel Marcelo Bento Pires, ex-diretor de Programa do Ministério da Saúde.

Na ocasião, Luís Ricardo revelou que Bolsonaro se comprometeu em apresentar à Polícia Federal os fatos para serem investigados. A conversa ocorreu no dia 20 de março, com ele estava o irmão, o deputado Luiz Miranda.

Ainda durante a sessão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) também revelou mensagens de áudio do irmão dele, o servidor Luis Ricardo Miranda, citando as falhas na última nota fiscal do contrato firmado para compra da vacina Covaxin. Segundo o parlamentar, a mensagem foi repassada ao ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro.

Em uma das mensagens, Luis Ricardo fala sobre a quantidade de doses (que seria inferior ao acordado), o pagamento adiantado por todo o volume negociado e o fato de a empresa fabricante não estar no contrato.

A gente vai ter tudo isso, áudios - eu quebrei meu sigilo, meu telemático, minhas conversas, inclusive com o meu irmão, desse dia fatídico. Deputado Luis Miranda (DEM-DF), em depoimento à CPI

O parlamentar também disse que avisou ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que tinha levado uma denúncia para o presidente. No entanto, ele disse que não tratou do problema específico da Covaxin com o ex-ministro da Saúde. Segundo ele, Pazuello o respondeu dizendo haver várias denúncias.

"Expliquei para o Pazuello de forma resumida, ele olhou com cara de descontentamento e disse que não duraria mais uma semana, que seria exonerado. Ele disse que por não compactuar com determinadas situações é que seria exonerado", disse o deputado.

Denúncias de irregularidades

Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo divulgou o depoimento sigiloso de Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, e irmão do deputado federal Luís Miranda. Ele disse ao Ministério Público Federal em Brasília que recebeu uma "pressão atípica" para agilizar a liberação da Covaxin, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.

A compra de 20 milhões de doses da vacina colocou o governo federal em meio a suspeitas de crime na negociação do imunizante. Ontem (23), a polêmica esquentou com a insinuação de que o presidente Jair Bolsonaro foi informado de possíveis irregularidades.

No dia anterior, o deputado Luís Miranda disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ter alertado Bolsonaro e o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin.

Em entrevista coletiva ontem, o ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou que o presidente determinou à Polícia Federal que investigue a declaração de Miranda.

"Trata-se de uma compra muito suspeita, não apenas pelas denúncias graves de pressão para que a compra ocorresse rapidamente, mas por todos os elementos que cercam essa compra", disse Molon, destacando, entre outras questões, o preço do imunizante.

Documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou a vacina por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante.

O Brasil aceitou pagar o valor de US$ 15 a dose pela vacina indiana Covaxin, bem acima do valor das demais vacinas contra a covid-19 adquiridas pelo país, segundo apuração do UOL. As vacinas da Jansen e parte das vacinas da Pfizer, por exemplo, custaram US$ 10 a dose. Já a Coronavac, vendida pelo Instituto Butantan, custou menos de US$ 6 a dose.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.