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'Desculpa esfarrapada' de Bolsonaro não vai colar, diz Otto Alencar

Do UOL, em São Paulo*

29/06/2021 08h44Atualizada em 29/06/2021 09h36

O senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da CPI da Covid, disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deveria ter registrado oficialmente as suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e que 'desculpas esfarrapadas' não vão colar.

Em entrevista ao UOL News, Otto Alencar disse que era obrigação do presidente ter encaminhado as denúncias apresentadas pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) em março para algum órgão de fiscalização ou ter enviado ofício para o Ministério da Saúde averiguar as alegações de irregularidade.

"Essa apuração de dizer vai lá e apure não confirma absolutamente a iniciativa do presidente querendo apurar um fato desta natureza. Ele deveria ter registrado isso no Ministério da Saúde, ou então acionar o CGU (Controladoria Geral da União), tantos órgãos de fiscalização que estão à vontade do presidente da República, assim como a PF', disse Otto Alencar, para quem apenas avisar o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não era o suficiente.

O senador lembrou que Pazuello estava de saída do ministério, sendo que Marcelo Queiroga foi nomeado na semana seguinte.

Essa posição dele, essa desculpa esfarrapada na minha opinião, não vai colar, absolutamente
Senador Otto Alencar

Otto Alencar ainda comentou a mudança de postura do presidente em relação ao caso. Ontem, Bolsonaro disse a apoiadores que não têm como saber o que acontece em todos os ministérios.

"Presidente diz uma coisa, depois não confirma e ele muda de opinião. Muda de opinião como muda de camisa. Ele disse recentemente que não tinha corrupção nos ministérios. E ontem disse que não dá para fiscalizar e saber o que acontecia em todos os ministérios. Isso já vem de forma recorrente", disse.

Bolsonaro foi acusado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) de ignorar alertas para supostas irregularidades no contrato de aquisição do imunizante Covaxin, como superfaturamento e favorecimento indevido à empresa responsável pela intermediação.

O irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, é o autor da denúncia. Em depoimento à CPI da Covid, o servidor de carreira da pasta, disse ter informado ao presidente três nomes de pessoas que o pressionaram a efetuar a importação da Covaxin.

Segundo relatos, o presidente teria dito que o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), seria o responsável pela condução das tratativas de compra da vacina.

Segundo avaliação de Otto Alencar, Bolsonaro precisa se posicionar em relação a Ricardo Barros.

"Luis Miranda foi textual quando disse que citou Ricardo Barros, seu líder, e além disso Miranda desafiou o presidente, dizendo que se ele negar, tem elementos de provas. Isso é mais grave ainda", disse.

Reação de Bolsonaro

Otto Alencar ainda disse ter estranhado a reação de Bolsonaro com o tema. O senador lembra que geralmente o presidente é agressivo com quem o confronta, mas dessa vez optou por uma postura diferente diante das suspeitas levantadas por Luís Miranda.

"O que chamou atenção é que o presidente silenciou, ficou muito calmo, muito tranquilo. Geralmente é muito agressivo quando provocado, na do Luis Miranda ele praticamente silenciou e veio muito moderado, dizendo que não dá para saber o que está acontecendo na organização estrutural do Ministério. Mas todas as pessoas eram da extrema confiança do presidente", disse.

*Com informações do Estadão Conteúdo

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.