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'Eu sou gay. Não tenho nada a esconder', diz governador Eduardo Leite

Do UOL, em São Paulo

01/07/2021 21h20Atualizada em 02/07/2021 14h10

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), de 36 anos, declarou que é homossexual. O anúncio foi feito em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo.

Eu sou gay, eu sou gay e sou um governador gay. Não sou um gay governador, tanto quanto Obama nos EUA não foi um negro presidente. Foi um presidente negro. E tenho orgulho disso. Não trouxe esse assunto, mas nunca neguei ser quem eu sou. Nunca criei um personagem.
Eduardo Leite

Ele vem sendo alvo de críticas nas redes sociais e decidiu encerrar as especulações. "Como ser humano que sou, também tive as minhas inseguranças, os meus questionamentos, mas foi um processo, para mim, de aceitação, de entendimento, afinal também fui criado dentro de uma cultura que tentou dizer para mim e pra todas as pessoas que isso era errado", disse.

"Passado esse processo e uma vez que eu tinha entendido isso para mim, na política, eu nunca criei um personagem. Nunca disse as outras pessoas que não era gay. Eu simplesmente não falava sobre assunto. A minha orientação sexual toca na minha vida e a política é como eu posso tocar na vida dos outros. O que eu posso transformar as pessoas é com a minha capacidade como gestor e não por ser ou não gay", completou.

Leite continuou: "O Brasil passa por um processo onde tentam rotular, estigmatizar, resumir uma pessoa a um atributo ou outro. Por isso achei que nesse momento era importante que isso ficasse claro, resolvido. Porque uma coisa podem saber: as pessoas que estão comigo, que me acompanham no projeto político, elas sabem exatamente com quem elas estão."

"Entendo que as pessoas já têm muita frustração com os políticos, porque eles parecem ser uma coisa e são outra. E muito deles tem muita coisa a esconder. Não é isso, não é a minha orientação sexual, que não é algo de errado, que vai ser escondido", completou.

Nesse Brasil com pouca integridade nesse momento, a gente tem de debater o que se é. Para que se fique claro e não se tenha nada a esconder.

Pedro Bial classificou o momento como histórico. "Tenho 40 anos de jornalismo e um fato desse podia há 20 anos acabar com a carreira de um político. Olha como o mundo mudou, que bom que o mundo mudou."

"Ataques de adversários"

Eduardo Leite aparece como um dos pré-candidatos à eleição para presidência da República no ano que vem. Em junho, a Executiva Nacional do PSDB definiu as regras para as prévias que vão escolher o candidato do partido ao pleito. Leite disputa com o governador de São Paulo, João Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

"Agora, como a minha participação nessa política nacional, nesse debate nacional começa a despertar talvez maiores ataques por conta de adversários, alguns vêm com piadas, ilações, como se eu tivesse algo a esconder. Pois bem, que fique claro, não tenho nada a esconder. Tenho orgulho dessa integridade de poder aqui dizer também sobre a minha orientação sexual, quem eu sou, embora devêssemos viver num país em que isso fosse uma 'não-questão', mas, se é, está aqui claro", disse ele.

Eleito governador do RS aos 33 anos, com 53,40% dos votos válidos, em 2018, Leite se tornou o mais jovem a ocupar o cargo desde a redemocratização. Antes disso, em 2012, o tucano foi eleito o prefeito mais jovem da história de Pelotas, com 27 anos.

Fator de promoção?

Eduardo Leite contou que, ao tomar a decisão de tornar pública sua orientação sexual, temeu que isso passasse a ser visto pelas pessoas como um "fator de promoção".

"Até hoje eu não trazia esse assunto porque eu queria falar mais das coisas que eu podia fazer do que aquilo que eu sou do ponto de vista de ser gay. Eu também fiquei preocupado com como falar sobre isso sem parecer que era promoção. Porque do outro lado, tem uma militância que trabalha para abrir frentes para homossexuais, transsexuais, e eu sempre apoiei essa causa embora não tivesse falado publicamente sobre a minha orientação sexual."

Apoio da família

O governador do Rio Grande do Sul contou ter recebido o apoio da família quanto a decisão de revelar que era gay.

"Eu tenho o privilégio de ter uma família que tem muito carinho uns pelos outros. Eu nunca parei pra ter a conversa com eles, o papo cabeça. 'Oh, vamos sentar, preciso contar uma coisa. Aconteceu com naturalidade, apresentei um namorado que tive no passado para eles e foi absolutamente tranquilo. E agora, na hora de falar publicamente, eles me deram todo o apoio de também tá aqui contigo falando sobre isso e eu sabia que teria (o apoio)'.

Leite votou em Bolsonaro, conhecido por falas homofóbicas

A declaração de Leite ocorre três anos após ele ter divulgado que votou em Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018. O presidente é conhecido por suas falas homofóbicas e é alvo constante de protestos de grupos LGBTQI+.

Em julho de 2020, Leite deu uma entrevista ao Roda Viva na qual o governador disse não se arrepender de ter votado em Bolsonaro. À época, o tucano declarou: "Não tenho arrependimento porque, dadas aquelas circunstâncias, acho que seria muito ruim o retorno do PT ao poder, depois de tudo que tinha acontecido".

Já em outubro de 2018, o governador ainda escreveu em seu Twitter que o voto em Bolsonaro não foi por conveniência, mas pelo que acredita.

"A posição que assumimos, no segundo turno, não é por conveniência e sim pelo que acredito. Temos algumas ressalvas com posições antigas que o @jairbolsonaro tomou, mas entendo que é a melhor alternativa nesse momento."

Repercussão

Nas redes sociais, a conta oficial do PSDB postou o trecho da entrevista e parabenizou o político pela iniciativa de revelar publicamente a sua orientação.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se manifestou sobre o assunto: "admiração e respeito ao meu amigo Eduardo Leite".

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que também é assumidamente gay, disse em mensagem enviada ao governador.

"Parabenizo ao governador Eduardo Leite pela bravura! Sei a dor que é a prisão do armário, sobretudo num ambiente conservador como a Política, e cada um deve descobrir seu momento certo para esse gesto. Seja feliz e siga seu ótimo trabalho: a vida será mais leve!"