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Senadores da oposição suspeitam que Dominguetti foi 'plantado' na CPI

Fábio Castanho, Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/07/2021 12h42Atualizada em 01/07/2021 17h25

Senadores de oposição afirmaram, durante a sessão da CPI da Covid de hoje, que suspeitam que o representante da empresa Davati Medical Supply Luiz Paulo Dominguetti Pereira foi "plantado" na comissão.

Dominguetti foi convocado para depor sobre a acusação feita, em entrevista à Folha de S.Paulo, sobre um suposto esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde. Ele disse que o governo pediu propina de US$ 1 por dose.

Porém, durante a sessão, ele exibiu um áudio sugerindo que o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) também havia tentado adquirir vacinas com a Davati. Não é possível ter certeza sobre quais assuntos tratavam na ocasião.

Luis Miranda afirma que o áudio é antigo e não se refere à negociação de vacinas, mas, sim, de luvas cirúrgicas.

O deputado depôs à CPI na última sexta-feira (25) para falar sobre outra questão: a suspeita de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

Senadores da oposição disseram estranhar o fato de que o vendedor, na contramão do que vinha sendo o foco da CPI durante a reunião hoje —cobrança de propina por gestores do governo—, decidiu revelar o fato de que Miranda teria supostamente atuado na intermediação para compra de imunizantes.

"Com todo respeito, essa testemunha foi plantada. Olha aí qual a conversa, esse áudio se refere a quê?", disse o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

Já o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), questionou as intenções de Dominguetti. "O depoente traz um áudio com mazelas que poderiam envolver Luis Miranda, Em nome do quê? A CPI não vai aceitar este tipo de coisa", disse.

Segundo o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), Luis Miranda negou que estivesse negociando vacinas no áudio exibido por Dominguetti.

Luís Miranda, em seu depoimento, disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) associou Ricardo Barros (PP-PR) às supostas irregularidades identificadas na negociação pela compra das vacinas Covaxin. Ele falou aos senadores ao lado do irmão Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde. Segundo os irmãos, Luis Ricardo teria sofrido uma pressão anormal para aprovar a importação de doses da Covaxin.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou postagens em que o vendedor de vacinas defende o presidente Jair Bolsonaro e critica políticos e partidos de oposição.

Segundo o senador, Dominguetti teria chegado ao governo pelo coronel Criscuoli, da chamada Abin Paralela, grupo de informantes que o presidente da República afirma manter para não depender dos órgãos oficiais de informação. "Me parece que a entidade que o apresenta, que é ligada a clubes de tiros e indústria de armas, e o senhor entrou no negócio a pedido".

Dominguetti afirma ter chegado ao Ministério da Saúde por meio do tenente-coronel Marcelo Blanco.

Rogério Carvalho também questionou o áudio de Luis Miranda levado à comissão e o verdadeiro papel de Dominguetti na CPI.

"Ele aqui diz que é representante de uma empresa e que se diz 'vender vacina'. É importante dizer aos brasileiros que o governo do Brasil - para não pairar dúvidas - não precisa de intermediação para aquisição de vacinas com nenhum laboratório", declarou o senador.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e o filho de Bolsonaro e senador, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), contestaram as falas de Carvalho. Este último disse serem um "delírio".

Outra desconfiança dos senadores em relação a Dominguetti também se dá pelo fato de ele ser policial militar de Minas Gerais e, aparentemente, não ter uma ligação oficial com a Davati. Dominguetti disse trabalhar como representante de produtos hospitalares como forma de ganhar uma renda extra.

Além disso, um ponto nebuloso, na avaliação dos senadores, é o fato de a AstraZeneca ter negado trabalhar com intermediários no Brasil e ter ressaltado somente fechar negócio diretamente com o governo federal na pandemia.

Inicialmente, a Davati negociou cada dose do imunizante ao preço de US$ 3,50 cada uma. Depois passou a US$ 15,50.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.