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PSOL aciona PGR contra Bolsonaro por áudio de ex-cunhada sobre rachadinhas

Luciana Amaral e Juliana Dal Piva

Do UOL e colunista do UOL, em Brasília e no Rio de Janeiro

05/07/2021 15h36Atualizada em 05/07/2021 16h26

A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados protocolou hoje uma representação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na PGR (Procuradoria-Geral da República) devido às gravações de Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro, que indicam um envolvimento direto dele em um esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele era deputado federal, conforme revelou a colunista do UOL Juliana Dal Piva.

As chamadas rachadinhas configuram crime de peculato e ocorrem quando funcionários públicos, que integram o gabinete do político, entregam parte do salário aos que os nomearam.

As gravações reveladas pelo UOL indicam que Bolsonaro participava diretamente do esquema e que chegou a demitir funcionários que se recusavam a entregar parte dos salários à família.

A líder do PSOL na Câmara, Talíria Petrone (RJ), afirmou estarem "cada vez mais evidentes os desvios envolvendo a família Bolsonaro".

"Agora as suspeitas recaem sobre o presidente da República, que parece ser pioneiro no conhecido esquema da rachadinha. Toda semana é um novo escândalo. Bolsonaro e seus filhos precisam ser investigados por todos as denúncias que existem contra eles", afirmou.

Em três reportagens publicadas hoje na coluna da jornalista Juliana Dal Piva, o UOL mostra gravações que revelam o que era dito no círculo íntimo e familiar do presidente.

A primeira reportagem mostra que familiar que não quis devolver valor combinado do salário foi retirado do esquema. A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário como assessor.

"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'.

A segunda reportagem revela que, dentro da família Queiroz, Jair Bolsonaro é o verdadeiro "01". Em troca de mensagens de áudio, a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, chamam Jair Bolsonaro de "01". Márcia afirma que o presidente "não vai deixar" Queiroz voltar a atuar como antes.

Já a terceira reportagem descreve como recolher salários não era uma tarefa exclusiva de Fabrício Queiroz. Ex-cunhada do presidente diz que um coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), atuou no recolhimento de salários da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Ao ser informado sobre as gravações de Andrea Siqueira Valle, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022.

Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".

No documento encaminhado ao procurador-geral da República, Augusto Aras, os nove deputados federais do PSOL afirmam que as "matérias e gravações implicam o presidente Jair Bolsonaro diretamente no esquema de corrupção das rachadinhas".

"Bolsonaro, e toda a sua família, está envolvido em uma miríade de crimes. É indisfarçável a participação do Presidente da República nos atos ilícitos, de forma que é fundamental que os poderes constituídos tomem as providencias cabíveis para investigar os responsáveis e não assistam inertes os permanentes e reiterados crimes contra a administração pública", diz trecho da representação.

Para a bancada, "a se confirmar tais fatos, que estão bem delineados, o presidente da República (e sua família) teria praticado condutas incompatíveis com a legalidade, moralidade e probidade administrativa, e percebidas vantagens indevidas, além de outros ilícitos previstos na legislação penal".

A bancada cita, por exemplo, os crimes de peculato e prevaricação, além da necessidade de se investigar se houve cometimento de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Os deputados pedem que a representação contra Bolsonaro, entre outros eventuais envolvidos, seja acolhida com o devido trâmite dentro da PGR, incluindo eventual encaminhamento para as instâncias cabíveis.

Ainda, pedem que seja determinada a verificação, pelo Ministério Público Federal, das ilegalidades relatadas e que, uma vez eventualmente confirmadas, que sejam tomadas as providências administrativas, civis ou penais, cabíveis contra o presidente da República.