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PM que ofereceu vacina ao governo já falava de sobrepreço em 8/02, diz TV

"Se depender dele, povo morre", diz Luiz Dominghetti sobre Roberto Dias, ex-servidor do Ministério da Saúde - Edilson Rodrigues/Agência Senado
"Se depender dele, povo morre", diz Luiz Dominghetti sobre Roberto Dias, ex-servidor do Ministério da Saúde Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

06/07/2021 22h48Atualizada em 06/07/2021 22h56

Uma troca de mensagens entre o policial militar Luiz Paulo Dominghetti e um coronel da PM identificado como "Romualdo" indica que ao menos desde 8 de fevereiro já se falava de um suposto superfaturamento na compra de vacinas contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde. As conversas foram obtidas após apreensão do celular de Dominghetti, que depôs em 1º de julho à CPI da Covid, e reveladas hoje pelo "Jornal Nacional", da TV Globo.

O PM se apresenta como vendedor de vacinas e representante da Davati Medical Supply. No fim do mês passado, Dominghetti disse à Folha de S.Paulo que Roberto Ferreira Dias, então diretor de logística do Ministério da Saúde, teria pedido propina para fechar a compra de 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca em 25 de fevereiro.

As trocas de mensagens divulgadas hoje pelo "JN", porém, indicam que a ideia de superfaturamento dos valores negociados já estava em pauta pelo menos 17 dias antes, em 8 de fevereiro. Na ocasião, Dominghetti fala a Romualdo que "parece que vamos conseguir o que é justo", mas "já falei que, [para] coisa errada, não conte comigo".

Depois, acrescenta que "queriam que eu superfaturasse o valor da vacina para US$ 35". No primeiro contrato do Brasil com a Pfizer, a título de comparação, o preço acordado foi de US$ 10 por dose.

Confira a transcrição do trecho da troca de mensagens exibido pelo telejornal:

print - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

6 de fevereiro

Romualdo: Passei para frente a sua demanda.

8 de fevereiro

Romualdo: Aquele assunto evoluiu?
Dominghetti: Parece que vamos conseguir o que é certo e justo. Porém já falei que, [para] coisa errada, não conte comigo.
Romualdo: O camarada lá no MS [Ministério da Saúde] recuou?
D: A atravessadores, sim. O que eles queriam é loucura.
R: Importante ver quem está nesse esquema lá no MS, identificar o servidor, para monitorá-lo.
D: Sim
R: Passei essa situação para frente no fim de semana... Estão me pedindo mais detalhes
D: Hoje me ligaram e disseram que iam avançar, mas não posicionaram nada ainda.
R: Para coisa chegar no presidente... Tem que ter informação correta [não fica claro se estão falando de Bolsonaro]Dominghetti encaminha uma imagem de outra conversa.
D: CMT absurdo! Queriam que eu superfaturado [sic] o valor da vacina para 35 dólares. Falei que ninguém fazia.
R: Absurdo
D: Tá assim lá neste momento.R: Você me falou de um Dias no MS... Será esse? [+ link para reportagem do Correio do Povo sobre cancelamento da indicação de Roberto Dias para a Anvisa]

D manda uma imagem de Dias. Depois: Se for este, matou a charada

D: Ele quem assina as compras e contratos no ministério
R: Pilantra
Dominghetti: Bem, vamos ver o que eles resolvem lá. Se depender dele, povo morre. Se ele não receber o dele por fora

Quem é Dominghetti

Luiz Paulo Dominghetti foi convocado para depor na CPI da Covid após afirmar à Folha de S.Paulo que o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina para fechar a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. O pedido teria sido feito em um jantar no Brasília Shopping, em 25 de fevereiro.

A AstraZeneca nega que a Davati a represente, e a empresa já chegou a ser desautorizada pela farmacêutica no Canadá. Dias, por sua vez, teve sua exoneração anunciada em 29 de junho, mesmo dia em que a reportagem da Folha foi publicada.

Paralelamente, reportagens publicadas na imprensa mineira indicam que a Davati pode estar fraudando o processo de aquisição de vacinas. A empresa teria negociado com várias prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção demonstrando interesse na compra de vacinas da AstraZeneca. Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.