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Bolsonaro quer proteger filhos sobre fundo eleitoral, diz vice da Câmara

Do UOL, em São Paulo*

19/07/2021 13h29Atualizada em 19/07/2021 19h06

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao atacá-lo, "agiu claramente" para proteger os seus filhos em relação ao voto sobre o fundo eleitoral. A declaração ocorreu em entrevista à GloboNews.

Tanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) quanto o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) votaram a favor da aprovação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2022 pelo Congresso, que fez com que o fundo eleitoral, conhecido como Fundão, voltasse ao centro do debate público brasileiro. O texto do relator, deputado federal Juscelino Filho (DEM-MA), aumentou o valor do fundo de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,7 bilhões.

"O presidente agiu claramente para proteger os filhos, pegou muito mal para seus filhos que são as únicas pessoas do país por quem ele tem consideração, o voto a favor do fundão eleitoral", disse Marcelo Ramos.

O vice-presidente da Câmara ainda rebateu o argumento de Eduardo Bolsonaro, que alegou ter votado a favor da LDO, mas que esperava a votação dos destaques — que não ocorreu — para se posicionar contra o valor destinado ao fundo eleitoral (veja mais abaixo).

"Meu papel é só de encaminhar, de coordenar os trabalhos. O fato incontroverso é que os filhos do presidente votaram a favor do Fundão tanto na Câmara como no Senado", disse Marcelo Ramos.

"O membro da Câmara ainda pode dizer que queria votar o destaque e não deu porque foi simbólico, mas logo depois teve a votação no Senado e outro filho votou a favor. O presidente tem que assumir a responsabilidade dele, dos filhos e não transferir para terceiros", completou.

Bolsonaro volta a criticar Marcelo Ramos

Depois de ontem dizer, ao receber alta do hospital onde estava internado para tratar de uma obstrução intestinal, que o Marcelo Ramos deveria ser cobrado "em primeiro lugar" pelo aumento do valor, Bolsonaro voltou a atacar o deputado hoje, em conversa com apoiadores.

Segundo Bolsonaro, Ramos é "insignificante" e atropelou o Regimento Interno da Câmara para não permitir que votassem em separado o dispositivo sobre aumentar o fundão eleitoral. "Agora cai para mim sancionar ou vetar. Tenho 15 dias úteis para decidir", completou o presidente.

O aumento do Fundão contou com apoio maciço de partidos do centrão, que formam a base do governo Bolsonaro no Congresso, e de alguns partidos de esquerda.

Ontem, Marcelo Ramos, argumentou que quem encaminhou a LDO com previsão de fundo eleitoral para o Congresso foi o Executivo e quem articulou o valor foram os líderes do governo.

"Só presidi a sessão e quero lembrar que não houve protestos pelos líderes do governo nem pelo líder do partido do filho dele contra a votação simbólica. Ainda vale lembrar que nem voto nessa matéria, porque só presidi a sessão. Quem votou a favor foram os filhos dele, tanto na Câmara como no Senado. Essas palavras jogadas ao vento não vão transferir responsabilidades, presidente. Assuma as suas", acrescentou.

O Fundão foi criado em 2017 para financiar as campanhas eleitorais depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu as doações de empresas.

Votação nominal foi negada

Na votação no Congresso, depois de aprovada a LDO, as bancadas do Novo na Câmara e do Podemos no Senado apresentaram um destaque para retirar o trecho que amplia o fundo eleitoral. O Novo pediu votação nominal e orientação de bancada. Marcelo Ramos, que presidia a sessão, negou os dois pedidos. O destaque também foi rejeitado.

Logo depois que o destaque foi derrubado, Novo, Cidadania, Podemos, PSOL e PSL e um grupo de deputados federais, em sua maioria governistas, pediram para registrar que eram contra a ampliação do fundo eleitoral nos termos da LDO. Naquele momento, no entanto, o efeito prático deste registro já era nulo.

*Com informações da Estadão Conteúdo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.