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Haddad diz que centrão governa país: 'Aquele Congresso é um atraso de vida'

Do UOL, em São Paulo

21/07/2021 10h53Atualizada em 21/07/2021 15h59

O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou hoje que são os partidos de centro que têm governado o Brasil e que a configuração atual do Congresso Nacional é um "atraso de vida". Ele participou do UOL Entrevista, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e as colunistas Thaís Oyama e Carla Araújo.

Se a democracia vencer em 2022, podemos fazer uma grande reflexão sobre que tipo de governo avançado, moderno, é possível no país. Basta olhar para o Congresso para ver que os limites são enormes. Aquele Congresso é um atraso de vida impressionante.
Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo

Haddad afirmou que, caso os partidos do campo democrático percam nas eleições de 2022, será "daqui para pior". "Imagina a arrogância de Bolsonaro, o que não vai fazer [em um eventual segundo mandato]", disse o ex-prefeito. "Vai ter que haver um repensamento desse processo. O PT e o PSDB acreditaram muito que o atraso estava vencido, que o passado tinha sido virado, e não virou. Todas as mazelas retornaram com Bolsonaro, e com muito vigor."

Segundo ele, o centrão hoje está no que eles entendem que é o paraíso. "Não são mais atores coadjuvantes de governos. Eles sempre foram tanto do PSDB quanto do PT, iam a reboque dos governos que tinham projeto. Agora, não. O projeto é deles, eles estão desenhando o país à sua imagem e semelhança. O sonho do centrão é acontecer o que está acontecendo".

"Depois de tudo que remamos, onde fomos parar? Na praia do passado, que queríamos ter superado. De coadjuvante virou ator principal. Ciro Nogueira, Arthur Lira, Ricardo Barros... Essa gente que está mandando no país ou não? Eles vão estar na base de Bolsonaro até o fim. Eu apostaria inclusive que Bolsonaro deve se filiar ao PP", disse Haddad.

Alianças partidárias e eleições de 2022

Na entrevista, Haddad preferiu não se definir como pré-candidato do PT ao governo de São Paulo e defendeu que as forças progressistas do estado —que, segundo ele, incluem partidos como PSOL, PT e PCdoB— devem se unir e colocar um projeto de governo acima de "ambições pessoais" para as próximas eleições.

"Não recuso a possibilidade, mas não é o que está presidindo minhas ações nesse momento. Mais importante do que o nome é o projeto e a viabilidade de vencer as eleições do ano que vem", declarou o ex-prefeito, que disse já ter conversado com nomes como Márcio França (PSB), Orlando Silva (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).

O petista afirmou ainda colocar "em pé de igualdade" os candidatos que considera mais progressistas. "Pela primeira vez em 30 anos há uma real possibilidade de vitória das forças progressistas em São Paulo devido ao desgaste do governo [João] Doria", avaliou Haddad.

Para ele, o anúncio dos nomes para a disputa pelo governo paulista virá somente com a definição das alianças nacionais —sejam elas por parte dos partidos de esquerda e do chamado setor progressista ou por parte da ala governista. "O governo também tem candidato e vai tentar alianças. Isso vai determinar até onde você vai no plano estadual, com qual objetivo e com as especificidades de cada estado", declarou.

Vice de Lula deve ser nome que 'amplie'

Para Haddad, quem vier a ocupar o lugar de vice na chapa de Lula para a disputa pela Presidência em 2022 deve ser um nome que represente "ampliação". Segundo ele, a "fórmula de 2002" —quando o empresário José Alencar foi lançado como vice de Lula como parte de uma estratégia de diálogo com o mercado— "não agrega tanto quanto se fosse uma pessoa da política".

Questionado sobre quem ele defenderia, Haddad não cravou um nome. O petista disse considerar o governador do Maranhão, Flavio Dino (PSB), um nome "maravilhoso", mas que não representaria "ampliação". Quanto ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (sem partido), disse apenas que "aí é com o Lula, ele tem que se sentir confortável".

O ex-prefeito, no entanto, afirmou que a "ampliação" deve ir até o centro, e não até a centro-direita, campo em que ele incluiu partidos como o Democratas. "A centro-direita tem candidato, acho difícil eles abrirem mão da agenda do [ministro da Economia, Paulo] Guedes", disse.

Antibolsonarismo e anti-Doria 'mais fortes' que antipetismo

Haddad disse considerar ainda que, hoje, o antibolsonarismo e o que ele classificou como um sentimento anti-Doria estão mais fortes do que o antipetismo, em especial no estado de São Paulo.

"O anti-Doria é forte e o Lula lidera as pesquisas, inclusive em São Paulo. É um cabo eleitoral importante em qualquer candidato. Vai ter impacto em todos os estados, inclusive aqui", disse o ex-prefeito.

Impeachment de Bolsonaro

Haddad também afirmou ser favorável à abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro. Hoje, mais de cem pedidos de impeachment contra o presidente estão nas mãos do presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL).

"Acho que o Brasil ganharia [com o impeachment], e o PT junto. Porque aí você vai discutir na eleição de 2022 tudo o que interessa, sem desviar a atenção para coisas que o Bolsonaro vai criar", afirmou.

Segundo o petista, Bolsonaro é "especialista em criar factoides contra as pessoas" e faz uso de uma rede de disseminação de narrativas falsas para seu benefício.

As pessoas perdem um tempo enorme se defendendo daquilo que não fizeram. Bolsonaro cria narrativas. E ele tem uma rede social muito forte, muito comprometida com essa estratégia de criação de narrativas.
Fernando Haddad

Ele citou como exemplos narrativas falsas que apareceram nas eleições de 2018, como a de um suposto "kit gay", que na verdade nunca foi distribuído em escolas. "Aí você fica discutindo essas coisas e o povo passando fome, sem emprego, com as universidades, a cultura, a ciência sem dinheiro, a Amazônia indo pro espaço, em vez de discutir o que interessa. O Bolsonaro não ganha discutindo o que interessa", afirmou.