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Lira e Braga Netto negam ameaça sobre eleições de 2022: 'É invenção'

Lucas Valença e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

22/07/2021 10h20Atualizada em 22/07/2021 12h10

Ao chegar no Ministério da Defesa, o representante da pasta, o general Walter Souza Braga Netto, negou ter ameaçado as instituições democráticas em uma mensagem golpista que teria sido encaminhada por um interlocutor do ministério ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e disse que a notícia é uma "invenção" e uma "mentira".

A afirmação de que o general teria ameaçado não permitir eleições democráticas, caso o voto impresso, desejado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não seja aprovado pelo Congresso Nacional, foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que relatou um "duro recado" que Braga Netto teria enviado a Lira.

O presidente da Câmara dos Deputados também rebateu a reportagem publicada hoje. Questionado sobre a reportagem pela agência Reuters, Lira e respondeu em uma mensagem de texto: "mentira".

Segundo o jornal, o militar teria pedido, acompanhado dos representantes militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, "para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável". Braga Netto, porém, teria desconsiderado o fato de que o voto da urna eletrônica já é auditável.

Pelo Twitter, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, comentou a notícia e disse que conversou com Braga Netto e com Arthur Lira pelo telefone e que ambos desmentiram "enfaticamente" a ameaça de um possível golpe contra as instituições democráticas e ao pleito eleitoral.

"Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia", escreveu.

Questionamentos sem provas

De acordo com a publicação, Braga Netto teria dado o aviso no dia 8 de julho. No mesmo dia, Jair Bolsonaro chegou a afirmar a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada que só haveria eleições em 2022 "se elas fossem limpas", insinuando que o pleito do ano que vem poderia não ocorrer.

Sem provas ou indícios, o presidente tem reiterado que o atual sistema eletrônico é passível de fraudes e que é preciso implementar o voto impresso. A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.

Ao contrário do que afirma Bolsonaro, o sistema eletrônico de votação é auditável e, desde a implementação da urna eletrônica em 1996, nunca foi comprovada uma fraude realizada em todas as eleições feitas desde então.

Ainda de acordo com O Estado de S. Paulo, Arthur Lira considerou o recado como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro para uma conversa na qual, segundo relatos, respondeu que não embarcaria em rupturas institucionais e não admitiria golpes.

No encontro, publica o jornal, o presidente repetiu que "respeitava as quatro linhas da Constituição" e nunca defendeu golpe, mas Lira reafirmou que o recado enviado a ele tinha sido muito claro.

Ao falar em um evento que acontecia no Ministério da Defesa sobre a proteção da Amazônia, Braga Netto leu uma nota oficial da pasta sobre a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O texto, porém, não desmente a afirmação de que os militares poderiam suspender as eleições. Veja a íntegra da nota:

Em relação à matéria publicada em veículo de imprensa, no dia de hoje, que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaças feitas por interlocutores a Presidente de outro Poder, o Ministro da Defesa informa que não se comunica com os Presidentes dos Poderes, por meio de interlocutores.

Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República, em um momento que exige a união nacional.

O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais, regulares e permanentes, comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do País e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro.

Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias.

A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo Governo Federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema.

(Com Reuters)