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'Mourão atrapalha, mas vice é como cunhado: tem que aturar', diz Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

26/07/2021 18h33Atualizada em 26/07/2021 22h14

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que seu vice, general Hamilton Mourão (PRTB), foi escolhido "em cima da hora" nas eleições de 2018. Segundo Bolsonaro, Mourão atrapalha "um pouco" o governo, mas faz seu trabalho e tem independência, e, por isso, é preciso "aturá-lo".

"No meu [caso], [a escolha do vice] foi feita meio a toque de caixa, mas o Mourão faz o seu trabalho, ele tem uma independência muito grande. Por vezes, atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado: você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado, não pode mandar o cunhado embora", disse o presidente em entrevista à rádio Arapuan FM, da Paraíba.

Bolsonaro não confirmou se vai ou não tentar a reeleição em 2022, nem se, caso concorra, Mourão será seu candidato a vice. Mas o presidente reforçou que o vice é uma pessoa "importantíssima" para conquistar a simpatia dos eleitores.

"Alguns falam que um bom vice poderia ser de Minas Gerais, ou de um estado do Nordeste, ou uma mulher... Um outro perfil mais agregador pelo Brasil. Isso está no radar de qualquer candidatura majoritária no Brasil", minimizou. "Estamos com Mourão, sem grandes problemas, mas o cargo dele é muito importante para angariar simpatias".

A escolha do meu vice na última [eleição] foi muito em cima da hora, assim como a composição das bancadas, em especial para deputado federal. Você viu que muitos parlamentares, depois de ganharem as eleições com nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos. A gente não quer sofrer desse mesmo problema por ocasião das eleições do ano que vem, caso venha [a ser] candidato a presidente.
Jair Bolsonaro, à rádio paraibana

Mourão "palpiteiro"

Não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro critica publicamente Hamilton Mourão. No fim de janeiro, após o vice sinalizar que o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, poderia ser trocado em uma eventual reforma ministerial, Bolsonaro disse não precisava de um "palpiteiro" no governo.

A declaração foi feita em conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Na ocasião, ele disse que "quem troca de ministro é o presidente da República" e que, se alguém quiser fazer isso, que se candidate na próxima eleição.

"O vice [Mourão] falou que eu estou para trocar o chefe do Itamaraty. Eu quero deixar bem claro uma coisa: tenho 22 ministros e um que é interino. Aí é que nós podemos ter um nome diferente ou a efetivação do atual. Não é nada mais além disso. Eu lamento que gente do nosso governo passe agora a dar palpites", afirmou Bolsonaro.

O que nós menos precisamos é de palpiteiro de ministro. Se alguém quiser escolher ministro, que se candidate em 2022 e boa sorte.
Jair Bolsonaro, em 28 de janeiro

Relação distante

Declarações feitas pelo vice-presidente Hamilton Mourão em junho indicam que sua relação com Bolsonaro anda um pouco distante. No dia 15 daquele mês, o general negou que tenha sido convidado para uma reunião com ministros e autoridades e disse sentir falta de se encontrar com o presidente.

"Não, não fui convidado. Sinto falta [de me reunir com Bolsonaro]. A gente fica sem saber o que está acontecendo, né?", lamentou o vice a jornalistas, acrescentando que considera importante saber de mais detalhes do governo. Ele ainda ironizou a situação, que contrasta com a sua vontade particular: "Paciência, 'c'est la vie' [é a vida], como dizem os franceses".

Depois, em 20 de junho, Mourão afirmou a O Estado de S. Paulo que não tem condições de substituir Bolsonaro em uma eventual ausência — função de um vice-presidente — por não saber o que tem sido pautado internamente pela gestão federal.

É muito chato o presidente fazer uma reunião com os ministros e deixar seu vice-presidente de fora. É um sinal muito ruim para a sociedade como um todo. Eu, como vice-presidente, fico sem conhecer, sem saber o que está sendo discutido. Isso não é bom, não faz bem. Eventualmente, eu tenho que substituir o presidente e, se não sei o que está acontecendo, como vou substituir? Não há condições.
Hamilton Mourão, vice-presidente