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Dono de empresa que negociou vacinas diz que foi enganado por representante

Herman Cardenas, dono da Davati Medical Supply - Reprodução/TV Globo
Herman Cardenas, dono da Davati Medical Supply Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

01/08/2021 23h39

O dono da Davati Medical Supply, Herman Cardenas, disse que foi enganado pelos parceiros brasileiros da empresa, que tem sede no Texas, nos Estados Unidos. O policial militar Luis Paulo Dominghetti se apresentou como representante da Davati quando negociou a venda de 400 milhões de doses da vacina contra covid-19 com o Ministério da Saúde.

Ao programa Fantástico, da TV Globo, Cardenas disse que o empresário Cristiano Carvalho, que já se apresentou como procurador da Davati no Brasil, enviou a ele uma foto com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmando que tinha acabado de sair de uma reunião com o governante —o que depois se mostrou falso.

Cristiano demonstrava estar numa reunião com o presidente do Brasil. Hoje a gente sabe que a foto deve ser fake. Eu mal posso acreditar que alguém usaria uma imagem de 2019 para dizer que estava presente ali, como se fosse em 2021."
Herman Cardenas, empresário

Além disso, segundo Cardenas, Carvalho também mentia em seu currículo, dizendo ter feito doutorado na Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas instituições dos Estados Unidos. Ao Fantástico, a defesa de Cristiano Carvalho negou que ele tenha mentido no currículo e afirmou que a foto enviada, que era uma montagem, não passou de uma brincadeira.

Empresa conseguiria vacina por 'alocação'

Dominghetti ofereceu doses da vacina AstraZeneca/Oxford ao ministério. Perguntado sobre a origem dos imunizantes, Cardenas não explicou detalhadamente, mas disse que sua empresa as conseguiria em uma "alocação".

Ele afirmou que confiou nos intermediários brasileiros e não sabia que algo estava errado na negociação. "De agora em diante, vamos querer conhecer melhor os nossos parceiros antes de fazer negócios com eles", disse o empresário.

A oferta das vacinas da AstraZeneca/Oxford por meio da Davati veio a público a partir de uma entrevista de Dominghetti à Folha de S.Paulo, em que ele alegou que ex-integrantes do Ministério da Saúde pediram propina de 1 dólar por dose de vacina para fechar o negócio.

Herman Cardenas também entrou diretamente em contato com o Ministério da Saúde para oferecer imunizantes da Janssen. Posteriormente, tanto a Janssen quanto a AstraZeneca esclareceram que não usam intermediários e só negociam vacinas de covid-19 diretamente com governos.

Tanto Dominghetti quanto Carvalho já foram ouvidos pela CPI da Covid.

No caso de Dominghetti, mesmo após horas de depoimento, senadores governistas e oposicionistas continuaram sem entender como um cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, que dizia ter começado a vender insumos e medicamentos há um ano e meio, tinha sido responsável pela oferta de negócio bilionário.

Em seu depoimento, Carvalho disse que atuou "só como vendedor no Brasil", não negociou propina e não tinha vínculos empregatício com a Davati.