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'Fomos usados', mas 'tenho culpa': veja frases do reverendo Amilton na CPI

Do UOL, em São Paulo

03/08/2021 16h30Atualizada em 03/08/2021 20h07

Mesmo em um depoimento cheio de imprecisões, o reverendo Amilton Gomes de Paula confirmou hoje à CPI da Covid que atuou como um dos elos para que a Davati Medical Supply — empresa americana representada no Brasil pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti — conseguisse ofertar ao Ministério da Saúde um suposto lote de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Em 29 de junho, Dominghetti foi à imprensa para denunciar um suposto pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina por parte de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde — acusação depois ratificada em depoimento à CPI. Amilton, porém, negou que soubesse de qualquer irregularidade.

O reverendo também afirmou aos senadores que a entidade evangélica privada Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), da qual é líder, foi usada de "maneira ardilosa" no processo. Ao final, ele chorou e disse se sentir culpado por "ter estado nessa operação das vacinas", acrescentando que só queria "contribuir com o Brasil".

Veja frases do depoimento do reverendo Amilton de Paula à CPI:

Senah "foi usada"

Hoje, com a série de eventos divulgados, entendemos [Senah] que fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios e que desconhecemos. Vimos um trabalho de mais de 22 anos de uma ONG, entidade séria, voltada para ações humanitárias, educacionais, jogado na lama, trazendo prejuízo na sua credibilidade e atingindo seus integrantes nas relações profissionais e familiares.

(...)

Olha, o que foi colocado na mídia, o que foi... Eu me sinto hoje uma... Eu não tenho palavras, nobre senador [Eduardo Braga (MDB-AM)]. Eu sou de Brasília, o meu pai trabalhou nessa construção da capital do Brasil, eu estou aqui sem palavras.
Reverendo Amilton, sobre se sentir "usado"

Elcio e Dominghetti

Nós apresentamos uma proposta. Essa proposta foi a proposta dos 400 milhões de doses. Estava, na reunião, o coronel Elcio Franco. Ele apresenta essa demanda. Nós apresentamos essa demanda, mas, de uma certa forma, foi muito rápida essa reunião. (...) Estava, nessa reunião, Luiz Paulo Dominghetti Pereira, estava o Cristiano Carvalho, o secretário Elcio Franco. Eu estava também presente.

(...)

O meu advogado é ex-delegado da Polícia Civil. Então, ele conversou também com o Dominghetti. Ele pediu para ter cuidado com as credenciais de Dominghetti, mas nós, por essa sensibilidade que o Brasil estava vivendo [pandemia], demos andamento na questão da vacina.

"Bravata"

"No dia seguinte, 16 de março, o senhor mandou uma mensagem para Dominghetti dizendo: 'Ontem falei com quem manda. Tudo certo. Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas'. A quem é que o senhor se referia quando disse 'era quem manda'?", perguntou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Reverendo Amilton, então, respondeu:

É, isso aí foi uma bravata.

Suposta propina

Eu desconheço esse preço de US$ 1 [por dose de vacina] que ofereceram, eu desconheço. Nós não... Não é da apresentação em que nós estávamos. (...) A nossa motivação era colocar essa demanda de vacina para o Brasil.

Trabalho da Senah

No ano passado, em janeiro, nós começamos a fazer um trabalho, direta e indiretamente, na distribuição de cestas básicas, também de máscaras. No estado de São Paulo, nós distribuímos marmitas quentinhas na rua com a Senah São Paulo. Fizemos um trabalho, nas ruas, também de orientação, com panfletos para o uso de máscara e nas redes sociais também, juntamente com... Nas redes sociais, falamos sobre esse cuidado.

(...)

Nós não recebemos nenhum valor do governo brasileiro, nem do governo do Distrito Federal.

Lágrimas e perdão

Creio que foi o maior erro que cometi foi abrir a porta da minha casa aqui em Brasília. Eu abri a porta da minha casa num momento assim em que eu estava enfrentando a perda de um ente querido da minha família, e eu queria vacina para o Brasil. Eu me sinto... Tenho culpa, sim. Hoje de madrugada, antes de vir para cá, eu dobrei os meus joelhos, orei, e aí eu peço desculpas ao Brasil. O que eu cometi não agradou primeiramente aos olhos de Deus.

(...)

Foi um erro que, se pudesse voltar atrás, eu voltaria. Peço perdão a todos os senadores, a todos os deputados, e o que eu puder fazer para melhorar a vida de alguém... Para quem me conhece como pastor e hoje está me assistindo, está dizendo: 'Esse eu conheço'. Jamais fraudei ou tirei algo de alguém, e estou aqui para contribuir com o Brasil sempre.
Reverendo Amilton, em meio a lágrimas

(...)

Eu abri a porta da minha casa. Eu sou aqui de Brasília. Essa porta da minha casa que eu abri é uma porta, é uma casa que eu cuidei com carinho, com amor. Depois que eu abri essa porta, eu me expus de uma forma que, nessa demanda, a vacina não tinha tanta, eu não tinha tanta experiência e eu estava, assim, inclinado para que a vacina chegasse ao povo brasileiro.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.