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Dono da Precisa diz que intermediária dos Emirados Árabes fraudou documento

Do UOL, em São Paulo

19/08/2021 15h55Atualizada em 19/08/2021 16h34

O sócio-administrador da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, culpou hoje uma intermediária dos Emirados Árabes por documentos fraudados que foram entregues ao Ministério da Saúde durante a negociação da vacina Covaxin. A declaração foi dada durante depoimento hoje na CPI da Covid.

Maximiano foi questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) sobre o motivo de uma das suas viagens à Índia após indícios de irregularidades no contrato com a Bharat Biotech, laboratório que produz a vacina.

"Fui à Índia apresentar evidências e provas de que recebemos documentos da Envixia, parceiro deles [laboratório Bharat Biotech], eleito no processo deles", afirmou Maximiano que, em seguida, reafirmou que a intermediária era culpada pelas fraudes.

O senador rebateu e afirmou ter provas de que fraude ocorreu dentro do Ministério da Saúde, mas o advogado de Maximiano interrompeu e disse que o arquivo original encaminhado pela Precisa contém dados da Envixia.

"Esse documento provavelmente foi baixado, depois enviado e com isso ter ganhado metadados do Ministério da Saúde, mas o arquivo original tem metadados da Envixia", explicou o advogado.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) ironizou a resposta da defesa e de Maximiano: "A Envixia é dos Emirados Árabes e sabe escrever português perfeitamente. Muito interessante essa tese".

Não tem como fugir da responsabilidade. Até que se prove o contrário, a Precisa é responsável pela falsificação de, no mínimo, 4 documentos. Não podemos esquecer das notas fiscais, do invoice."
Simone Tebet, senadora, na CPI da Covid

Fabricante diz que documentos são fraudados

Dois documentos enviados pela Precisa Medicamentos para o Ministério da Saúde, com carimbo da Bharat Biotech, assinatura de um suposto diretor-executivo e papel timbrado, foram fraudados, afirmou o laboratório indiano em julho, quando também anunciou a extinção imediata do acordo com a Precisa, que intermediaria a compra da Covaxin com o governo federal.

O UOL confirmou que as duas cartas de autenticidade contestada pela Bharat Biotech constam nas 1.008 páginas do processo de compra da Covaxin. Ambas são datadas de 19 de fevereiro deste ano, seis dias antes da assinatura do contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa para fornecimento de 20 milhões de doses da Covaxin.

O valor de cada dose, US$ 15, foi o mais alto contratado pelo Brasil, totalizando um compromisso de pagamento de R$ 1,6 bilhão.

Pelo menos uma das cartas foi solicitada pelo Ministério da Saúde à Precisa para avançar no processo de negociação —uma "Declaração de Inexistência de Fatos Impeditivos" por parte da Bharat Biotech.

Uma versão da declaração foi enviada por email pela diretora técnica da Precisa, Emanuela Medrades, para o Ministério da Saúde, em 19 de fevereiro, junto com outros documentos. No mesmo dia, o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, enviou um despacho "urgente" solicitando a lavratura do contrato.

Maximiano é considerado personagem central de uma das principais linhas de investigações do colegiado sobre eventuais irregularidades praticadas pelo governo federal ao longo da pandemia: a compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.