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Justiça federal anula prisão de Roberto Dias determinada por Aziz na CPI

O ex-diretor do Departamento de Logística, Roberto Ferreira Dias, fala durante sessão da CPI da Covid - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
O ex-diretor do Departamento de Logística, Roberto Ferreira Dias, fala durante sessão da CPI da Covid Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Beatriz Gomes e Rafael Neves

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

20/08/2021 09h56Atualizada em 20/08/2021 10h46

A Justiça Federal de Brasília anulou a prisão do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias determinada pelo presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM).

Dias foi preso durante o seu depoimento, no dia 7 de julho. Segundo Aziz, o ex-diretor cometeu "perjúrio" — violação ao juramento feito de dizer a verdade — ao negar que havia combinado um encontro com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti.

A decisão do juiz Francisco Codevila, da 15ª Vara Federal Criminal de Brasília, também exige a restituição da fiança de R$ 1.100 paga por Dias no mesmo dia da prisão para a sua liberação. Codevila considerou que a prisão de Dias foi ilegal porque não havia "situação de flagrância que autorizasse a segregação".

A prisão de Dias havia sido justificada pelo fato de que ele, na condição de testemunha, era obrigado a dizer a verdade. Para Codevila, porém, essa condição "não é suficiente para a decretação da prisão por falso testemunho, na medida em que revelou-se nítido o propósito de verificar se o flagranteado teria participado de algum esquema de compra irregular de vacinas".

Para o magistrado, apesar do juramento de dizer a verdade, Dias foi "efetivamente tratado, na condução do seu depoimento, como investigado, tanto assim, que a CPI já dispunha de material decorrente da quebra de sigilo telemático para confrontá-lo em seu depoimento, inexistindo, portanto, obrigação de responder às perguntas que lhe foram dirigidas".

"E se não tinha a obrigação de respondê-las, também pelo teor das respostas não poderia ser incriminado por perjúrio", ponderou Codevila.

Defesa de Dias comemora

A defesa de Dias comemorou a decisão e afirmou ao UOL que desde o início acreditou que o judiciário "não iria fechar os olhos e tolerar os excessos de ilegalidade e abusos de autoridade" praticados por Aziz na comissão.

"O judiciário não iria fechar os olhos e tolerar os excessos de ilegalidade e abusos de autoridade que vem sendo praticado pelo Presidente da CPI. Portanto, não haveria outro caminho, finalmente foi decretada a nulidade da prisão e um basta aos poderes daquela Comissão."

Decisões de Codevila

O juiz Francisco Codevila, responsável pela decisão, já foi acionado em outros processos recentes envolvendo o governo, em casos nos quais os envolvidos não têm foro privilegiado. Em geral, o magistrado vem adotando medidas em defesa dos investigados, contra ou a favor de Bolsonaro.

Em fevereiro, ele rejeitou uma denúncia por injúria feita pelo MPF (Ministério Público Federal) contra a ativista Sara Winter, por ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Na ocasião, ele argumentou que acusações por crimes contra a honra, como a injúria, não são compatíveis com a Constituição.

Em abril, porém, Codevila também arquivou um inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar uma professora que mandou instalar, no Recife, um outdoor chamando Bolsonaro de "senhor da morte" e responsabilizando o presidente pelas mortes na pandemia.

O inquérito havia sido aberto a pedido do então ministro a Justiça André Mendonça, hoje indicado por Bolsonaro para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Ao analisar o caso, Codevila concordou com o entendimento do MPF de que o outdoor não era passível de criminalização.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.