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Em viagem ao Nordeste, Lula marca espaço e tenta refazer pontes para 2022

Paulo Câmara, Lula e João Campos: diálogo no Recife abre portas novamente entre PT e PSB - Ricardo Stuckert/Divulgação
Paulo Câmara, Lula e João Campos: diálogo no Recife abre portas novamente entre PT e PSB Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

21/08/2021 04h00

"Não estou aqui como candidato." O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu esse mesmo discurso nesta semana no Recife, em Teresina e em São Luís, as três primeiras cidades visitadas por ele no giro que o petista faz pelo Nordeste.

Apesar de negar, a visita do ex-presidente é parte de uma estratégia para marcar espaço para sua candidatura em 2022 na região e tentar refazer pontes visando a eleição de 2022.

Em primeiro lugar, Lula quer tornar a sua candidatura em evidência na região. Em segundo lugar, a viagem serviu para que ele pudesse se articular com o PSB, sabendo que o partido é uma força aqui em Pernambuco, mas também tem uma força nacional.
Adriano Oliveira, cientista político da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

A viagem começou pelo destino mais importante neste momento: Recife, onde foi recepcionado pelo governador Paulo Câmara (PSB) e pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB).

PT e PSB vivem uma eterna saga de idas e vindas em Pernambuco. Em 2020, os dois partidos travaram uma intensa disputa pela Prefeitura do Recife, com uso explícito do antipetismo na campanha de João Campos contra Marília Arraes (PT). O episódio deixou marcas, e o próprio governador chegou a dizer, no dia da eleição, que a parceria em âmbito estadual deveria ser avaliada.

Mas Câmara não só demonstra que as rusgas são coisa do passado, como deixa isso explícito em publicação no Twitter, com uma foto com Lula e a defesa de "uma frente ampla do campo progressista para derrotar Bolsonaro".

Um dos nós para o acordo vem do provável sucessor do PSB na disputa ao governo, o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio, que não foi ao jantar com Lula e em falas públicas tem defendido o nome de Ciro Gomes (PDT) ou uma candidatura própria do PSB à Presidência.

Ainda em Pernambuco, Lula foi recebido pela cúpula do PDT e de outros partidos, visitou um assentamento sem-terra e conversou com juristas.

Ele esteve acompanhado da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que disse ao UOL que as conversas não têm como foco 2022.

"O objetivo não é estruturar alianças para 2022, não estamos colocando isso como meta [nessa viagem]. Lula quer ouvir as lideranças que querem defender o campo democrático, para conversar sobre o futuro do Brasil, garantir que tenhamos um processo livre e democrático. É possível que alguns deles estejam com a gente [em 2022]? É, mas não é esse o objetivo aqui", afirmou à reportagem.

E o centrão?

No Piauí, Lula foi recebido pelo governador, o petista Wellington Dias. Lá, o provável candidato ao governo é o secretário da Fazenda, Rafael Fonteles, que teve direito a fotos e fala longa ao lado de Lula no dia da entrevista coletiva. Em suas redes sociais, ele explorou ao máximo a imagem do ex-presidente.

Na capital piauiense, Lula disse que seu ex-aliado Ciro Nogueira (PP), atual chefe da Casa Civil do presidente Jair Bolsonaro, deve ser um "casamento breve".

O centrão não é um partido político. Eles se juntam ocasionalmente, como se juntaram agora para tentar salvar o Bolsonaro, mas nem eles vão conseguir, porque Bolsonaro é ingovernável. Vocês vão ver que muitos [que hoje estão com Bolsonaro] vão pular do barco, eles vão olhar para os seus estados.
Lula, ex-presidente, em viagem pelo Nordeste

"Essas lideranças usaram essa visita para marcar um espaço do Lula em um estado que foi muito beneficiado pelos governos do PT com políticas sociais e para população mais pobre e vulnerável", diz o cientista Vitor Sandes, da UFPI (Universidade Federal do Piauí).

No Maranhão, onde o governador Flávio Dino (agora no PSB) é aliado de longas datas, as arestas a serem aparadas estão na base de apoio.

Pelo menos três nomes estão de olho no apoio de Lula na sucessão do Palácio dos Leões, entre eles, dois de partidos que devem candidatos à Presidência: o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) e o senador Weverton Rocha (PDT).

Quem também corre por fora é o secretário de Educação do Maranhão, o petista Felipe Camarão. Todos usaram e abusaram da imagem de Lula.

Lula também aproveitou a ida ao Maranhão e participou de um jantar com o ex-presidente José Sarney, ao lado de Roseana Sarney e Edison Lobão. "Foi um encontro extraordinário. Eu não esqueço as pessoas que foram justas comigo. Eu não fui conversar política, fui por cordialidade", disse Lula.

Ainda no giro pelo Nordeste, um dos "testes" foi quanto aos acenos dos políticos do "centrão". Na região, por conta da popularidade de Lula, muitos deixaram claro que querem o apoio a suas candidaturas em 2022.

"O presidente Lula está fazendo uma articulação política no Nordeste com os partidos que nós chamamos de centrão, como PP e PSD, que são partidos que nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul teriam uma dificuldade em apoiar o ex-presidente. E Lula vem com o objetivo de tentar construir o apoio desses partidos para com a candidatura dele a partir do Nordeste", avalia o cientista Adriano Oliveira.

Desde ontem, Lula está no Ceará, onde fica até a segunda-feira, quando parte para o último destino da viagem: o Rio Grande do Norte.