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Adotados na ditadura investigam se foram sequestrados na Argentina

Cristiane Gimenez Palacios, Daiani Quinhones Teixeira e Cristina Strassburger buscam descobrir se foram bebês roubados pela ditadura argentina Imagem: Yasmin Ayumi/UOL

Eduardo Reina

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/08/2021 07h00

Pelo menos quatro brasileiros investigam, por conta própria, se foram sequestrados na Argentina durante o período de ditadura militar naquele país (1976-1983) e trazidos ilegalmente para o Brasil.

Aqui, eles foram adotados por famílias de militares ou de políticos. São três mulheres e um homem que nasceram na década de 1970, quando o Brasil também vivia sob um regime de ditadura militar. As famílias que ficaram com eles são dos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo.

A organização Avós da Praça de Maio busca no Brasil bebês roubados na ditadura argentina.

Os quatro casos brasileiros fazem parte de pesquisa do autor desta reportagem que resultou no livro "Cativeiro sem Fim". Lançado em 2019, o livro revela a existência de 19 casos de bebês e crianças, filhos de militantes políticos, sequestrados de seus pais biológicos e adotados por famílias de militares ou ligadas aos militares nas décadas de 1970 e 1980. Destes, 11 estão relacionados à guerrilha do Araguaia (1969-1974).

O governo da Argentina iniciou no fim de julho uma campanha que busca os bebês roubados pelos militares naquele país entre os anos de 1976 e 1983, durante o período de ditadura militar.

Ao todo, na Argentina, foram sequestrados cerca de 500 bebês e crianças. Aproximadamente 350 ainda não foram recuperados.

Procurado por email e telefone, o Ministério da Defesa brasileiro informou que a situação envolvendo militares do país é uma causalidade porque poderia ser famílias de arquitetos, por exemplo, ou outra profissão qualquer envolvida na adoção de bebês e crianças argentinas naquele período. Trata-se, prossegue a resposta, de uma questão civil, que não permite que o Ministério da Defesa se manifeste. A orientação do ministério seria buscar os órgãos judiciais competentes.

Exames de DNA

A suspeita dos quatro brasileiros que podem ter sido roubados na Argentina e adotados no Brasil foi levantada nos três últimos anos. São três mulheres e um homem.

Leia os relatos sobre o caso de cada um neste link.

Daiani Quinhones Teixeira, Cristiane Gimenez Palacios e Cristina Strassburger Imagem: Yasmin Ayumi

Todos já procuraram a organização argentina Avós da Praça de Maio para fazer exame de DNA no Banco Nacional de Dados Genéticos, que guarda os perfis genéticos das famílias que tiveram entes presos, torturados, desaparecidos e filhos e netos sequestrados pela repressão argentina.

As Avós da Praça de Maio já identificaram 130 netos roubados. Há casos uruguaios, chilenos e alguns com dupla cidadania em países do Cone Sul.

Os casos brasileiros, em andamento, são de Daiani Quinhones Teixeira, adotada por família de militar do Rio Grande do Sul em 1974. O pai adotivo, Hermes Dornelles Teixeira, era do Serviço Nacional de Informações (SNI).

Outro é de Cristina Strassburger, adotada por Ethel Strassaburger, integrante de família tradicional do Rio Grande do Sul, proprietária de antiga fábrica exportadora de calçados, cujo dono, Cláudio, foi deputado federal (1978), vice-governador do Estado (1983-1987) e responsável pela criação de Cristina.

Ao todo, na Argentina, foram sequestrados 500 bebês e crianças durante a ditadura militar Imagem: Yasmin Ayumi

Há um terceiro caso também registrado no Rio Grande do Sul envolvendo L., nascido em 1980 em Cruz Alta. Ele foi adotado por família envolvida com políticos da Arena e militares.

Já as terras paulistanas são a localidade da história de Cristiane Gimenez Palacios, adotada pelo ex-coronel da Polícia Militar e ex-deputado estadual por São Paulo Sydney Gimenez Palacios.

Os familiares de todos os indicados na reportagem foram procurados, mas não responderam até a publicação desta reportagem.

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