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Em sabatina, Aras diz que PGR não se omitiu sobre ataques às eleições

Rafael Neves, Leticia Lázaro e Stella Borges

Do UOL, em Brasília e São Paulo

24/08/2021 12h56Atualizada em 24/08/2021 15h25

O procurador-geral da República, Augusto Aras, defendeu em sabatina no Senado a sua atuação em processos que questionam a integridade do sistema eleitoral. Em resposta ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator do processo que avalia a recondução de Aras para o cargo, o PGR afirmou que "não é comentarista político" e que a instituição não se omitiu.

"Não faltou em nenhum momento a atuação do procurador-geral", afirmou Aras aos parlamentares na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que "compareceu aos trabalhos" no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que atestaram a segurança das urnas. Também afirmou que a PGE (Procuradoria-geral Eleitoral), que faz parte da PGR, "manifestou-se claramente pela idoneidade do sistema de votação utilizado, ante a falta de comprovação de fraudes".

Desde o fim do mês passado, Aras vem sofrendo pressões crescentes para agir diante dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral. O PGR foi cobrado por três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para que se posicionasse sobre as declarações do presidente, sem provas, de que houve fraude em eleições anteriores.

Um grupo de cerca de 30 procuradores no topo da carreira, que se opõem ao comando do PGR, também cobrou providências. No último dia 16, Aras enfim informou à ministra Cármen Lúcia ter aberto uma Notícia de Fato (investigação preliminar) sobre as condutas do presidente, mas não se manifestou sobre o conteúdo delas.

Na sabatina, Aras declarou que que não pode se manifestar na Justiça da mesma forma que políticos. "O procurador-geral não é comentarista político. Não pode estar todo dia respondendo uma demanda que é típica de quem tem mandato", afirmou.

O PGR fala aos parlamentares desde as 10h30. A CCJ tem 27 membros, mas todos os senadores têm direito a fazer perguntas ao PGR. Ao final da sabatina, a comissão votará o parecer de Braga, que foi favorável à aprovação de Aras. Seja qual for o resultado dessa análise, a decisão caberá ao plenário do Senado. Aras precisará de apoio da maioria absoluta da Casa, ou seja, de 41 dos 81 votos possíveis.

"Instituições estão funcionando"

Aras afirmou não ver prejuízo às instituições nas recentes brigas entre os Poderes Executivo e Judiciário. O PGR considera que "as instituições estão funcionando normalmente", mas vê perigos à democracia na "polarização permanente" que diz enxergar na sociedade.

O que estamos vivendo é uma polarização permanente, gravíssima para o país, para as instituições democráticas, que faz com que todo dia haja um novo fato, que provoque uma investigação avulsa"

Questionado sobre um suposto "alinhamento" com Bolsonaro, Aras afirmou que a PGR não é "leal a Estado ou a governo nenhum", e que "trata-se de um Ministério Público leal à Constituição".

"Quando se fala em alinhamento, ou não, está a se desconhecer que o PGR, e o MP como um todo, deve agir dentro da técnica jurídica formal não pode se igualar a quem recebe um mandato eletivo, tem que trabalhar dentro da Constituição e das leis", afirmou Aras.

Segundo o PGR, "quando eventualmente o procurador ou o MP manifesta-se pelo não conhecimento de uma ação, e em outro parecer manifesta-se no mérito, não significa, num caso ou no outro, defender uma posição".

Ataques à Lava Jato

Em pronunciamento inicial, ainda antes das perguntas dos senadores, Aras acusou a força-tarefa da Lava Jato de cometer uma "série de irregularidades que vieram a público" e alfinetou o ex-PGR Rodrigo Janot, que ocupou o cargo no auge da operação.

"Talvez, se nós tivéssemos a cada duas grandes operações por mês divulgado, feito o vazamento do seletivo das operações dos investigados, talvez, eu estivesse numa posição de muito elogio como quem distribuiu flechadas para todo o Brasil criminalizando a política", declarou Aras, em alusão a Janot.

"Mas, assim não o fiz, porque me comprometi com vossas excelências de cumprir a minha função constitucional com parcimônia, sem escândalo, sem estrépito, mas com a dignidade que cada político merece como representante do povo brasileiro", completou.

Aras também defendeu a dissolução das forças-tarefa que atuavam no caso. Na gestão dele, a PGR passou a apurar a Lava Jato e outros casos de corrupção por meio dos Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). O PGR defendeu a mudança de modelo de investigação no Ministério Público.

As forças-tarefa, como modelo de investigação e acusação, geraram disfuncionalidades a partir da pessoalização, que gerou distorções e uma criminalização da política, para manter os alvos em estado de atenção"

Pandemia e CPI

Aras também foi questionado sobre a atuação da PGR durante a pandemia, inclusive em episódios críticos como a falta de oxigênio em Manaus, em janeiro desse ano. Aos senadores, Aras citou números de reuniões feitas para tratar do assunto e ofícios enviados às autoridades, pedindo providências e explicações.

"Eu perdi algumas noites dialogando com autoridades e com a White Martins para prover a região Norte de oxigênio", declarou Aras, em resposta a um questionamento do senador Eduardo Braga (MDB-AM).

Aras evitou dar uma opinião direta sobre a CPI da Covid, e afirmou apenas que a PGR fará dentro do prazo legal de 30 dias a análise do relatório final, que é elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). "Tenham certeza de que o PGR, qualquer que seja ele, à época do recebimento do relatório, já terá uma equipe estudando todos os elementos coligidos. E assim será muito mais fácil em 30 dias examinar os milhares de páginas que hoje já compõem a CPI", disse.

Eu ratifico o meu compromisso com essa casa de bem cumprir a Constituição e as leis do meu país e assim farei ao receber o relatório da CPI da Covid"