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Antes de carta: 7 vezes em que Bolsonaro recuou ou negou o que havia dito

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já recuou de outras declarações após repercussão negativa - Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já recuou de outras declarações após repercussão negativa Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

10/09/2021 17h21

O "calor do momento" alegado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como justificativa pelo discurso golpista no 7 de setembro é artifício recorrente na trajetória do político para amenizar a repercussão negativa de seus atos. Mais de uma vez Bolsonaro relativizou, se desculpou ou mesmo negou ter dado declarações preconceituosas, polêmicas ou antidemocráticas.

O UOL listou sete vezes em que Bolsonaro, assim como na carta aberta publicada ontem, tentou se retratar de alguma forma por falas que não foram bem aceitas fora do seu círculo de apoiadores.

No texto de ontem, o chefe do Executivo alegou que nunca teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes", frase desmentida pelo UOL Confere. A redação do comunicado contou com o auxílio do ex-presidente Michel Temer (MDB), que já minimizou atos de Bolsonaro em outra ocasião, conforme relatado abaixo.

Confira, a seguir, sete situações em que Bolsonaro negou ou recuou de declarações controversas:

Fuzilamento de FHC

Enquanto deputado federal pelo PPB (que depois virou PP), em 1999, Bolsonaro declarou em uma entrevista que o Congresso Nacional deveria ser fechado e defendeu o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Diante da repercussão e do risco de cassação do mandato, Bolsonaro enviou uma carta a Temer, que ocupava a presidência da Câmara, se desculpando pelos excessos. Diante da leitura, Temer defendeu que Bolsonaro fosse apenas advertido pelas declarações. A carta foi citada em matéria do jornal "O Globo" de 26 de maio de 1999.

Gripezinha

Em novembro de 2020, Bolsonaro declarou nunca ter chamado a covid-19 de "gripezinha": "Não existe um vídeo ou áudio meu falando dessa forma". Em março do mesmo ano ele já havia tratado a doença pejorativamente em mais de uma oportunidade; numa delas, afirmou que "depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar".

O UOL já fez um compilado em vídeo desmentindo o chefe do Executivo com registros do próprio Bolsonaro chamando o coronavírus de "gripezinha".

Vacina contra a covid

A mudança de postura do presidente em relação à vacina contra a covid-19 também entra na lista de recuos. No dia 3 de abril, declarou à imprensa em frente ao Palácio do Alvorada que, caso recomendado por terceiros, acataria a possibilidade de se imunizar: "Se acharem que devo vacinar, vacino, não tem problema".

A frase contradiz o que Bolsonaro defendeu durante meses, alegando direito de recusar as doses. Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, em dezembro passado, ele deu uma declaração afirmando que mesmo se outras pessoas achassem que deveria se vacinar, não receberia o imunizante.

"Eu não vou tomar vacina e ponto final. Se alguém acha que minha agenda está em risco, o problema é meu, ponto final", disse.

Centrão

Com o anúncio de que Ciro Nogueira (PP-PI) seria ministro da Casa Civil, Bolsonaro justificou em vídeo que sempre teve aliança com os partidos que integram o bloco: "Eu sempre fui do Centrão".

No entanto, o presidente tentou se descolar do Centrão em diversas oportunidades, desde a campanha eleitoral até mesmo depois de eleito. Em junho de 2018, enquanto pré-candidato à Presidência pelo PSL, ele afirmou no Twitter que o Centrão estava contra ele e que tudo não passava de "desespero ante a possibilidade de serem apeados do Poder".

Já durante entrevista à TV Record em 26 de maio de 2019, disponibilizada pelo próprio canal oficial de Bolsonaro no YouTube, ele chegou a dizer que o apelido "Centrão" virou um palavrão e que nunca tinha sido procurado por congressistas ligados ao bloco para negociação de cargos.

"Agora, os parlamentares precisam encontrar uma maneira de uma maneira de se desvincular disso daí, porque é bastante complicado você ser pejorativamente enquadrado a um Centrão que quer negociar tudo, segundo eu vejo pela mídia aí. Comigo, o Centrão nunca, ou melhor, os parlamentares do dito Centrão nunca me procuraram para discutir partilha de ministérios, estatais ou bancos oficiais", afirmou o presidente.

Pedido de desculpas por fake news

"São fatos e realidades que devem ser mostradas", disse Bolsonaro no Twitter, em abril passado ao compartilhar um vídeo com a falsa informação de que havia desabastecimento no Ceasa (Central de Abastecimento) de Contagem (MG) por causa das medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores no combate à pandemia.

Poucas horas depois, o vídeo foi apagado e Bolsonaro pediu desculpas publicamente por ter divulgado uma informação falsa.

"Não houve a devida checagem do evento, pelo que parece aquela central de abastecimento estava em manutenção", disse ele em entrevista à Band.

Pedido de desculpas por frase homofóbica

Durante sua primeira visita oficial ao Maranhão, em outubro passado, o presidente deu uma declaração homofóbica após dar um gole do Guaraná Jesus, refrigerante local.

"Agora eu virei 'boiola'. Igual maranhense, é isso?", afirmou ele, em referência à coloração rosa da bebida.

No dia seguinte, em live nas redes sociais, ele pediu desculpas aos ofendidos pelo que considerou ter sido "uma brincadeira".

"Se alguém se ofendeu, me desculpa, eu fiz uma brincadeira com a cor do guaraná Jesus, que é cor-de-rosa", declarou.

Declaração sobre igualdade salarial

"Me achem um áudio, uma imagem minha dizendo que mulher tem que ganhar menos do que homem. Não existe", declarou Bolsonaro enquanto candidato do PSL à Presidência em entrevista à Band, em setembro de 2018.

Ainda deputado, em 2014, Bolsonaro disse ao jornal Zero Hora que é compreensível que a mulher tenha salário inferior ao do homem pelo risco de poder engravidar.

"Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? 'Poxa, essa mulher está com aliança no dedo. Daqui a pouco engravida. Seis meses de licença-maternidade'. Quem é que vai pagar a conta?", declarou ele, acrescentando que, com a soma da licença ao período de férias, a mulher trabalharia por apenas cinco meses.

A fala continuou com Bolsonaro dizendo que haveria "perda de produtividade".

"Por isso que o cara paga menos para a mulher. É muito fácil eu, que sou empregado, falar que é injusto, que tem que pagar salário igual", disse.