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"Se alguém quiser trocar, troco agora", diz Bolsonaro sobre presidência

Do UOL, em São Paulo

11/09/2021 16h55Atualizada em 13/09/2021 13h33

Após usar tom aparentemente mais brando contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e sinalizar momento de pacificação entre os Poderes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que vida de mandatário não é fácil e que, se alguém quiser trocar de lugar, ele "troca agora". A declaração foi feita por Bolsonaro durante discurso na Expointer, feira agropecuária realizada no Rio Grande do Sul.

A vida do presidente não é fácil. Se alguém quiser trocar comigo, troco agora. Mas entendo que é uma missão de Deus pra gente redirecionar esse país. Aos poucos, ele vai mudando."
Jair Bolsonaro

Em meio a sorrisos, completou: "Junto com Onyx [Lorenzoni], que está comigo bem antes das eleições, nós vamos acompanhando a transformação das cores desse país. Não podemos fazer as coisas como muitos querem. Temos Três Poderes que têm que ser respeitados e buscar a melhor maneira de nos entendermos para que o produto do nosso trabalho seja estendido aos 210 milhões de habitantes".

Na última quinta-feira (9), Bolsonaro divulgou carta aberta —intitulada 'Declaração à Nação'— momentos após uma reunião com ex-presidente Michel Temer, em Brasília. No encontro, um dos assuntos tratados foi a paralisação de caminhoneiros, que o governo tenta controlar —em 2018, quando era presidente, Temer lidou com uma greve da categoria.

No documento, Bolsonaro suaviza o tom ao citar em meio à grave crise institucional com STF e o Congresso, além de citar o nome do ministro Alexandre de Moraes, alvo principal dos seus ataques no feriado da Independência.

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer: 1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar. 2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news. 3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de "esticar a corda", a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia."
Trecho da nota divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro

Marco temporal

Durante visita à Expointer, o presidente também voltou a criticar a possibilidade de o STF rejeitar a tese do marco temporal, que prevê que indígenas só poderiam reivindicar terras que ocupavam à época da promulgação da Constituição em 1988, e repetiu alegações já desmentidas por autoridades do próprio governo.

O relator do caso no STF, ministro Edson Fachin, foi o único a votar até o momento e rejeitou a tese do marco temporal. O julgamento foi suspenso e deve ser retomado na quarta-feira. Faltam os votos de nove ministros.

"Temos um problema pela frente que tem que ser resolvido. O Supremo volta a discutir uma data diferente daquela fixada há pouco tempo, conhecida como marco temporal. Se a proposta do ministro Fachin vingar será proposta a demarcação de novas áreas indígenas que equivalem a uma Região Sudeste toda, ou seja, o fim do agronegócio", disse Bolsonaro.

Ambientalistas e defensores dos direitos indígenas afirmam, no entanto, que as áreas indígenas atualmente reivindicadas e que poderiam ser demarcadas caso seja rejeitada a tese do marco temporal têm uma extensão bem menor do que aponta Bolsonaro. Apontam ainda que as áreas indígenas sofrem menos desmatamento e que a adoção do marco temporal para a demarcação de terras privará os povos originários do direito a terras ancestrais que não ocupavam à época da promulgação da Constituição e trará insegurança aos territórios ocupados atualmente.

Além disso, a tese que a derrubada do marco temporal acabaria com o agronegócio, como diz o presidente, foi rechaçada pelo diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Sergio De Zen. Segundo ele, a rejeição do marco temporal não deve afetar a expansão de produção agropecuária prevista para o Brasil, pois o agronegócio deve crescer com foco em produtividade e não somente por meio da expansão de áreas.

*Com informações da agência Reuters