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Digitais da corrupção de Bolsonaro estão em telefonema à Índia, diz Renan

Rai Aquino

Colaboração para o UOL, no Rio

20/09/2021 10h59Atualizada em 20/09/2021 15h44

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), disse hoje no UOL Entrevista que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crime de corrupção no caso da tentativa de compra da Covaxin. Para o senador, o presidente ainda prevaricou em relação às denúncias na negociação da vacina indiana pelo Ministério da Saúde.

"Entendo (que o presidente praticou corrupção) e as suas digitais estão no telefonema que fez ao primeiro-ministro da Índia pedindo para reservar 20 milhões de doses da vacina. E depois o crime óbvio de prevaricação, quando prometeu tomar providências com relação à investigação", disse Renan.

O contrato de R$ 1,6 bilhão para aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin é alvo de investigação da CPI. O documento foi firmado em fevereiro deste ano pelo Ministério da Saúde com a indiana Bharat Biotech, por intermédio da Precisa Medicamentos.

De acordo com o contrato, o governo federal pagaria 1000% mais caro por dose da vacina do que anunciado seis meses antes pela própria Bharat Biotech. O documento só foi cancelado em julho, depois de virar alvo da CPI.

O detalhamento da investigação, as circunstâncias, os elementos probantes, tudo isso leva a crer que ele (Bolsonaro) terá que ser responsabilizado sim por crime de corrupção e que isso deverá constar do relatório (da CPI)
Renan Calheiros

A suspeita de prevaricação (quando um funcionário público retarda, deixa de praticar ou pratica indevidamente algo relativo às suas funções) por parte de Bolsonaro se deu a partir de notícias de que o deputado federal Luís Claudio Miranda (DEM-DF) afirmou ter informado ao presidente, em março, sobre um suposto esquema ilegal em torno da compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde.

Segundo o parlamentar, durante a reunião, Bolsonaro disse que sabia que um deputado da base do governo estava envolvido no caso e que levaria a denúncia ao delegado-geral da Polícia Federal, o que não foi feito. O deputado em questão seria o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), conforme informou o irmão de Miranda, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, em depoimento na CPI no dia 25 de junho.

Apenas em julho, após pedido da Procuradoria-Geral da República, é que a PF abriu um inquérito sobre o caso. Na ação, o presidente Jair Bolsonaro aparece investigado por prevaricação.

"Aliás, crime esse que deve ser repartido com o próprio general Pazuello, que também não encaminhou providência nenhuma, absolutamente", afirmou Renan, sobre o ministro da Saúde na época das denúncias.

Bolsonaro em Nova York

Ainda sobre Bolsonaro, o relator da CPI disse que o presidente não mudou sua postura em relação à pandemia mesmo após tantos questionamentos. Ele afirmou que a ida do chefe do Executivo federal a Nova York para discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU poderá ser usada na comissão.

Bolsonaro foi aos Estados Unidos sem se vacinar contra o coronavírus e ontem protagonizou uma cena que repercute. Em fotos divulgadas nas redes sociais pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, o presidente e sua comitiva aparecem comendo pizza em pé, na rua. Como não está imunizado contra a covid, o presidente não pode entrar em nenhum estabelecimento da cidade, que exige a vacinação para seus frequentadores.

É uma clara demonstração de que ele não mudou. Ele continua pensando exatamente igual, diferentemente de outros chefes de Estado
Renan Calheiros

'Pazuello de jaleco'

Sobre o relatório da CPI, Renan afirmou que ele poderá ficar pronto a partir desta quinta-feira, 23, mas sua apresentação só deverá acontecer nas próximas semanas.

"A partir de quinta-feira, estaremos em condição de apresentar, a qualquer momento, o relatório. Mas há um esforço em função de desdobramentos óbvios dos últimos dias de que possamos ter mais uma ou duas semanas de trabalho. Nessas condições, só vamos apresentar o relatório depois do último depoimento", disse o senador.

O senador afirmou que o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deverá ser apontado no documento. Queiroga é um dos 26 investigados pela comissão.

Sua presença no ministério significou em, português claro, uma contradição. Tanto que em vários momentos da CPI brinquei que ele tinha se transformado em uma espécie de Pazuello de jaleco, em função das maneiras como aceitava as loucuras sugeridas pelo Bolsonaro. Uma delas foi a suspensão das vacinas para adolescentes, a partir de mentiras, e ele próprio reconheceu que tinha aceitado uma sugestão do presidente da República, o que agrava muito mais a sua situação
Renan Calheiros

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito afirmou que Queiroga "já evoluiu para a condição de indiciado".

"E deverá ser responsabilizado por suas práticas também, como os demais que serão responsabilizados pela comissão", afirmou o senador.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.