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Socialismo, Deus e Amazônia: 10 frases do discurso de Bolsonaro na ONU

Jair Bolsonaro discursa na 76ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) - Eduardo Munoz-Pool/Getty Images
Jair Bolsonaro discursa na 76ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) Imagem: Eduardo Munoz-Pool/Getty Images

Lucas Borges Teixeira e Rai Aquino

Do UOL, em São Paulo e Colaboração para o UOL, no Rio

21/09/2021 12h45Atualizada em 21/09/2021 13h16

Na abertura da 76ª Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou passar uma imagem positiva do Brasil.

No discurso de 12 minutos, Bolsonaro passou algumas informações questionáveis ou mentirosas. Ele disse que o país está "livre da corrupção" desde que ele assumiu o cargo, citou uma sólida política ambiental, estendeu a mão às nações em conflitos —como o Afeganistão—, além de insistir em seus próprios protocolos de combate ao coronavírus.

O Brasil é o segundo país com mais mortes pela doença no mundo —são quase 600 mil— atrás apenas dos Estados Unidos.

Veja dez frases do discurso de Bolsonaro na ONU:

Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção".

A frase foi dita logo no começo do discurso. O combate à corrupção é uma das bandeiras de Bolsonaro desde a campanha eleitoral, mas há investigações de denúncias que envolvem integrantes de seu governo e sua família.

A CPI da Covid se debruça sobre casos envolvendo compra de vacina e outras atividades ilegais no combate à pandemia.

O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo."

O trecho é voltado para os seus apoiadores, grande parte defensora dos ideais conservadores, mesmo que o Brasil nunca tenha chegado "à beira do socialismo".

Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos."

O presidente não citou fontes, mas um ranking da própria ONU indicou que este novo Brasil é velho: divulgado em junho, a lista mostrou que o investimento estrangeiro no Brasil em 2020 despencou para níveis de 20 anos atrás, diante da dificuldade de controlar a pandemia de covid-19 e das incertezas sobre os rumos econômicos e políticos do país.

Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior. Qual país do mundo tem a política de preservação ambiental como a nossa?"

De fato, o presidente está certo: o Brasil tem uma das legislações de proteção ambiental mais elaboradas do mundo. O problema é a prática, em especial em seu governo.

Bolsonaro disse que o desmatamento caiu 32% apenas em agosto. Na verdade, entre janeiro e agosto de 2021, o desmatamento foi de 6.026 km² —queda de 32% em relação ao mesmo período no ano anterior. Mas o dado foi apresentado sem contexto. A área desmatada é quase o dobro da registrada entre janeiro e agosto de 2018, antes do início desta gestão (3.336 km²).

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e jovens."

Duas semanas depois da tomada da capital Cabul pelo Talibã, em 15 de agosto, 97 países estabeleceram um acordo com o grupo extremista para a retirada segura de cidadãos estrangeiros e afegãs com visto. O Brasil não participou.

As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo."

O presidente sempre foi um ávido opositor das medidas de isolamento social. Antes, ele dizia que estas restrições não funcionavam. Hoje, diz que prejudicaram a economia. Não há comprovação que isso tenha acontecido.

O que há comprovação é que imposições como o lockdown funcionaram em todos os lugares que as implementaram corretamente e ajudaram a diminuir o ritmo de casos e aumentar mortes.

A pandemia pegou a todos de surpresa em 2020. Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo."

A pandemia de fato pegou o mundo de surpresa. Mas Bolsonaro foi o único chefe de Estado entre as principais economias do mundo, no entanto, a debochar dela, referindo-se ao covid como "gripezinha" e reclamando, em novembro de 2020, que este era "um país de maricas", pois "tudo agora é pandemia".

Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial."

Na verdade, o chamado tratamento precoce, feito no Brasil com cloroquina e ivermectina, não só já foi comprovadamente considerado ineficaz pela ciência, como pode ser prejudicial aos pacientes.

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina."

A vacinação contra a covid-19 sempre foi um tema complicado para Bolsonaro. No fim do ano passado, quando países da Europa iniciaram a imunização em massa, ele dizia não ter pressa.

Depois, descobriu-se que isso era verdade: em agosto de 2020, seu governo ignorou e-mails da farmacêutica Pfizer para compra de 70 milhões de doses. Quando a vacinação avançou, neste ano, Bolsonaro passou a defender que ela não se torne obrigatória.

Segundo levantamento da BBC, Bolsonaro é o único dos presidentes do G20 sem vacina na Assembleia Geral da ONU.

No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo."

Os atos golpistas de 7 de setembro deste ano, planejados por meses e apoiados publicamente por Bolsonaro, foram considerados uma frustração para o governo, com baixa adesão popular.

Não há registro de nenhuma cidade que tenha chegado a 1 milhão de pessoas. Em São Paulo, que foi mais gente, estimou-se 125 mil apoiadores.