Topo

CPI aprova convocar secretário de saúde de SP sobre suspeitas da Prevent

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

23/09/2021 16h44Atualizada em 23/09/2021 18h50

A CPI da Covid aprovou hoje convocar o secretário estadual de saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, para que fale sobre suspeitas de subnotificação de casos e mortes por covid-19 por parte da operadora Prevent Senior.

Ainda não há data marcada para o depoimento na CPI. No entanto, parte dos senadores defende que já seja ouvido na semana que vem.

"Temos que analisar isso criteriosamente para que tenha os dados reais. Tanto na [eventual] subnotificação quanto na supernotificação. Não estamos aqui dizendo, mas, concretamente, o que temos é o depoimento ontem", afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Em depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou que a empresa tenha ocultado mortes por covid-19, rebateu acusação da CPI de que fez "estudo clínico" para balizar a aplicação do chamado kit covid e responsabilizou médicos vinculados à operadora por suposta manipulação de dados e divulgação indevida de prontuários de pacientes.

Contudo, Batista Júnior confirmou que houve a orientação para que os médicos modificassem o CID (código de diagnóstico) de pacientes que deram entrada com covid-19, após 14 ou 21 dias, a depender do caso de cada um.

Ele alegou que a medida foi tomada para que se identificassem pacientes que não representariam mais riscos de transmissão do novo coronavírus. Senadores da CPI, porém, enxergaram uma tentativa de manipulação e subnotificação de casos e mortes.

"O senhor realmente não tem condição de ser médico com a desonestidade que eu vi agora. Sinceramente, sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune o senhor", declarou Otto Alencar (PSD-BA).

"O que está acontecendo é que eles consideram que, depois de 14 dias, esse paciente não tem mais covid ou que, depois de 21 dias, ele não tem mais covid. Essas pessoas que morreram de complicações de quê? De covid! Então, é covid!", disse Humberto Costa (PT-PE).

Esses dois senadores também são médicos.

Para o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), é "óbvia a falsificação que foi levantada aqui".

O pedido de convocação de Jean Gorinchteyn foi apresentado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Mais cedo, a CPI aprovou também convocar o empresário Luciano Hang, dono da varejista Havan. O empreendedor é apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defensor contumaz das pautas e interesses do chefe do governo federal.

Segundo Omar Aziz, a oitiva será realizada na próxima quarta-feira (29), às 10h.

Os congressistas ainda aprovaram a convocação da advogada Bruna Morato, que atua em favor de médicos e ex-médicos da operadora de saúde Prevent Senior. Os profissionais entregaram à CPI um dossiê com denúncias. De acordo com o documento, a empresa utilizou, sem consentimento, seus pacientes para realizar um suposto estudo com o intuito de fundamentar o uso do chamado "kit covid" (medicamentos sem eficácia no tratamento da doença).

Desde o ano passado, de acordo com a CPI, Hang fez declarações favoráveis ao uso desses remédios, como a hidroxicloroquina, ivermectina e outros. O empresário foi identificado ao longo da apuração do colegiado como membro do chamado "gabinete paralelo".

O gabinete paralelo seria uma estrutura de assessoramento informal ao Palácio do Planalto, formado por personagens sem vínculo com o Ministério da Saúde e sem respaldo da comunidade científica.

O grupo teria sido responsável, afirmam senadores da comissão, por realizar estudos e coletar material com o intuito de balizar teorias defendidas pelo presidente Bolsonaro, como o uso de medicamentos, a tese de imunização de rebanho, entre outras.

Em nota divulgada após a convocação, Hang disse que "será um prazer estar presente e falar de todo o trabalho que nós fizemos, visando ajudar no enfrentamento da pandemia, buscando auxiliar na saúde do povo brasileiro e também na economia".

"Desde o princípio falamos que era preciso cuidar da saúde, sem descuidar da economia. Estou totalmente à disposição para esclarecer qualquer questionamento", acrescentou.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.