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Trento admite ida a Las Vegas; CPI suspeita de viagem com Flávio Bolsonaro

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

23/09/2021 16h03Atualizada em 23/09/2021 17h19

O diretor institucional da Precisa Medicamentos, Danilo Trento, admitiu hoje que viajou a Las Vegas, nos Estados Unidos, em depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal. Senadores da comissão suspeitam que ele tenha ido à cidade com o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Trento, porém, fez uso do direito ao silêncio com base em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e não revelou o nome do parlamentar que o teria acompanhado nem a data da viagem. Disse, contudo, que viajou em voo comercial.

Depois, senadores da CPI revelaram que houve uma viagem aos Estados Unidos a pedido de Flávio Bolsonaro, em 23 e 24 de janeiro de 2020, segundo os parlamentares.

A ida teria o objetivo de "acompanhar a comitiva do Instituto Brasileiro de Turismo - Embratur em reuniões institucionais com o Carnival Group e a Royal Caribbean International, em Miami, e com o presidente e CEO do Las Vegas Sand Corporation, Sheldon Adelson, em Las Vegas", de acordo com o requerimento que apresentou na época, afirmaram senadores.

Participaram da viagem os senadores Flávio Bolsonaro e Irajá Abreu (PSD-TO), o deputado federal bolsonarista Hélio Lopes (PSL-RJ) e o atual ministro do Turismo, Gilson Machado, então presidente da Embratur, de acordo com registros da época da imprensa e do próprio governo federal.

"O voo saiu de Guarulhos - o senhor estava nesse voo de Guarulhos - para os Estados Unidos, destino Las Vegas, no dia 23 de janeiro do ano passado. E o senhor voltou no dia 27 de janeiro, ou seja, quatro dias nos Estados Unidos, numa agenda de que a gente também tem informações aí pelo trabalho da imprensa brasileira, que conseguiu informações da agenda. E foi uma comitiva do Senado Federal, junto com a Embratur, inclusive com o atual Ministro do Turismo", disse o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Ao lado de Humberto Costa (PT-PE), Girão foi um dos principais senadores a questioná-lo sobre o assunto.

A viagem da comitiva do Senado foi autorizada em 17 de dezembro de 2019 pelo então presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), informou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

"Há um requerimento oficial no Senado que, com autorização, com deslocamento as custas do senado para essa viagem. Isso aconteceu em dezembro de 2019 e a viagem aconteceu em janeiro. Isso é fato", disse o senador Randolfe Rodrigues em coletiva após a sessão da CPI.

Por meio de nota, a assessoria do senador Flávio Bolsonaro negou que o parlamentar tenha viajado com Trento e disse que alguns senadores "distorcem fatos e criam narrativas" para atacar o filho do presidente Jair Bolsonaro e sua família.

"O senador nunca se reuniu com Danilo Berndt Trento em Las Vegas, nem possui vínculo de qualquer espécie com o mesmo. O senador esteve na referida cidade em missão oficial e suas agendas estão publicadas no site do Senado."

Mais cedo, Trento negou que a Precisa Medicamentos tenha relações com Flávio Bolsonaro. Afirmou, porém, já ter participado de eventos públicos com o senador. A Precisa foi a responsável por ter intermediado a negociação para a compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde, envolta em suspeitas de irregularidades.

Além de diretor institucional da Precisa, Trento é também sócio da Primarcial Holding e Participações. Segundo Randolfe Rodrigues, a empresa tem sede em São Paulo e no mesmo endereço da empresa Primares Holding e Participações. As duas empresas fazem parte do grupo liderado por Francisco Maximiano, dono da Precisa, afirma o senador.

"Recebemos também informações de que Danilo e Maximiano viajaram juntos à Índia para as negociações em torno dos testes de covid e da vacina Covaxin", disse Randolfe no requerimento de convocação de Trento.

Após uma série de suspeitas e denúncias de irregularidades no caso Covaxin virem à tona, o contrato para compra de 20 milhões de doses da vacina (ao custo de R$ 1,6 bilhão) foi cancelado. O acordo havia sido firmado em fevereiro deste ano.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.