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Sakamoto: Depoimento de advogada reforça que governo é sócio da morte

Do UOL, em São Paulo

28/09/2021 13h16Atualizada em 28/09/2021 14h46

Para Leonardo Sakamoto, colunista do UOL, o depoimento à CPI da covid de Bruna Morato, advogada dos médicos que denunciam a Prevent Senior por uma série de infrações, mostram um alinhamento da operadora com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"O depoimento da Bruna Morato reforça que o governo Bolsonaro é sócio de um esquema de dinheiro e morte", disse Sakamoto ao UOL News, programa do Canal UOL.

"Ela afirmou que os experimentos do plano de saúde foram uma peça fundamental no governo de Jair Bolsonaro para forçar os brasileiros a voltarem às ruas. Essa política, segundo a Bruna Morato, alinhava-se aos interesses do Ministério da Economia", prosseguiu Sakamoto.

No depoimento de hoje, Bruna Morato relatou ter tido o escritório em que trabalha invadido após as denúncias contra a Prevent terem se tornado públicas e demissões de médicos que se recusavam a entregar a pacientes kits de medicamentos ineficazes contra a covid-19.

Impacto de experimentos

Na avaliação do colunista, se a insistência na cloroquina e na hidroxicloroquina não tivesse existido por parte do governo, o Brasil não estaria tão próximo de registrar, hoje, 600 mil mortes pela covid-19, e nem a economia estaria tão fragilizada.

"A Prevent Senior não apenas ministrou esses remédios como ministrou em massa. Eles têm 500 mil assegurados no plano e ele é importante, porque atinge os idosos. Muita gente consumiu remédios ineficazes contra a covid-19 no sonho de não se contaminar", afirmou.

O colunista também destacou o aspecto econômico das ações denunciadas. "A Prevent ganhou dinheiro com isso. Você tem oito comprimidos em um kit distribuído para centenas de milhares de pessoas, e pessoas nos hospitais também tomando", acrescentou.

"Não é uma questão de negacionismo puro: é de dinheiro", afirmou Sakamoto, dizendo que a Prevent Senior "brincou de Deus" e colocou diversas pessoas em risco enquanto lucrava com tratamentos comprovadamente ineficazes contra a doença.

"A economia está essa desgraça que está agora não por causa da pandemia. É claro que a pandemia afeta, mas o presidente estendeu a pandemia por mais tempo que deveria, exatamente promovendo essas porcarias que não funcionam", exclamou.

A avaliação de Joel Pinheiro, colunista do UOL News e também presente no programa, foi na mesma linha da de Sakamoto. "Se (o caso da Prevent Senior) não resultar em prisões, nós não temos um país sério", afirmou.

"Se houve participação direta do governo (nos experimentos), não estamos falando de impeachment, apenas: a gente está falando de prisão, e prisão dura, para todos que participaram disso", declarou.

Contexto

Reportagem veiculada pela GloboNews ainda este mês mostra que a Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que, sem conhecimento, participaram, de um denominado estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina contra a covid-19.

As acusações contra o plano de saúde constam em um dossiê repassado para a CPI da Covid, no Senado. Na peça, médicos e ex-médicos da Prevent Senior disseram que o experimento é resultado de um acordo entre o plano e o governo Bolsonaro.

Em meados de abril de 2020, Bolsonaro foi ao Twitter para divulgar os supostos resultados positivos da pesquisa da Prevent Senior, afirmando que, nela, foram registradas cinco mortes entre pacientes que não tomaram cloroquina e nenhum óbito entre os que ingeriram as medicações.

Na semana passada, reportagens da revista Piauí e do jornal O Estado de S. Paulo, respectivamente, apontaram que o plano ocultou, nos atestados de óbito, que as mortes de Anthony Wong, médico, e de Regina Hang, mãe de Luciano Hang, ocorreram em decorrência da covid-19.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.