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Mãe de Luciano Hang morreu em decorrência da covid, diz advogada de médicos

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

28/09/2021 13h09Atualizada em 28/09/2021 16h41

Bruna Morato, advogada dos médicos que denunciam a Prevent Senior, confirmou hoje que a mãe do empresário bolsonarista e dono da rede varejista Havan, Luciano Hang, morreu em decorrência da covid-19. Ela informou ainda que Regina Hang recebeu o chamado 'kit covid', mesmo sem autorização no prontuário médico.

"A causa do óbito da senhora Regina é desassociada da informação. Ela morre de falência múltipla dos órgãos, segundo o atestado de óbito, decorrente de um choque hemorrágico. Contudo, a evolução do prontuário mostra que ela foi internada por covid e que todas as doenças que ela teve decorrentes da internação estão relacionadas à covid-19", explicou a advogada.

Bruna Morato também explicitou que essa divergência entre as informações infringe a determinação do Ministério da Saúde de informar a morte por covid-19 em documentos públicos.

Ela disse que não sabe exatamente quem ordenou a alteração das informações no atestado de óbito. De forma geral, no entanto, falou que os médicos a quem representa informaram que havia uma orientação de que, após 14 dias de internação, se fizesse a alteração do prontuário do paciente. O código de diagnóstico que identificava o paciente com covid era trocado por outro relacionado aos demais problemas que o paciente tinha. Segundo a advogada, isso acontecia à revelia dos médicos.

A advogada dos médicos ainda confirmou que Regina Hang recebeu quatro medicamentos que compõem o chamado 'kit covid', remédios comprovadamente ineficazes no tratamento da doença.

Regina morreu aos 82 anos em fevereiro de 2021 após ser internada com covid-19, mas o prontuário médico dizia que a morte foi em decorrência de uma pneumonia bacteriana.

Após a repercussão da possível alteração e do uso do 'kit covid', Luciano Hang disse ter "total confiança nos procedimentos adotados pela Prevent Senior" e afirmou que nunca ocultou o motivo da morte da mãe e que o episódio está sendo usado como "artifício político" pela CPI da Covid.

Em nota enviada à imprensa, Hang afirmou que a "covid passou, mas ficaram as complicações por conta das comorbidades e, por isso, infelizmente ela se foi".

"Tenho total confiança nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era possível foi feito. Deixei claro a causa do falecimento de minha mãe em várias manifestações públicas e nas redes sociais, nunca foi segredo."

CPI ouve Luciano Hang amanhã

A CPI da Covid ouvirá amanhã (29) Luciano Hang para esclarecer dúvidas referentes ao caso da Prevent Senior. Ele também será cobrado a responder questionamentos sobre disseminação de fake news e sua suposta participação no que tem sido chamado de "gabinete paralelo" —estrutura de assessoramento informal à Presidência da República durante a pandemia.

Há expectativa nos bastidores da comissão de que o depoimento será tenso e marcado por disputas e provocações. Ontem (27), o empresário postou um vídeo com ironia em relação à convocação para comparecer ao Senado. Ele aparece algemado e desafiou os parlamentares:

"Trabalho 24 horas por dia, então vou ter todo o tempo do mundo e, se por acaso não aceitarem o que vou falar, já comprei uma algema para não gastarem dinheiro. Vou entregar uma chave para cada senador e que me prendam", desafiou ele, em uma série de vídeos publicados no Instagram.

"Temos que ter muita tranquilidade para o depoimento de amanhã. Para todas as armadilhas que o depoimento de amanhã terá, pela característica do depoimento", afirmou hoje o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

As alegações contra a Prevent fazem parte de um dossiê entregue à CPI por um grupo de médicos e ex-médicos da rede de hospitais da operadora. A empresa nega o teor das acusações, as quais define como "sistemáticas e mentirosas".

O nome de Hang, empresário declaradamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defensor do governo, é citado ao longo do dossiê obtido pela comissão.

O que diz a Prevent Senior

Procurada pelo UOL, a Prevent Senior afirmou hoje que o depoimento da advogada Bruna Morato à comissão "confirma que se tratam de acusações infundadas, que têm como base mensagens truncadas ou editadas vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações". Disse ainda que "estranha o fato" de ela manter os autores da acusações sob anonimato e que não teve acesso aos autos da CPI para fazer sua ampla defesa.

A Prevent afirmou que a advogada já havia levado o "mesmo teor dessas imputações" à empresa antes da CPI para tentar fechar um acordo para não levar o caso à comissão.

À reportagem, Bruna confirmou a tentativa de acordo. Segundo ela, o acordo procurado não envolvia dinheiro. Segundo ela, a intenção era que a empresa reconhecesse dois pontos relativos a ações tomadas, como o estímulo ao chamado kit covid, e ajudasse os profissionais em eventuais processos que sofressem por conta do trabalho realizado na rede. Ou seja, os médicos também querem se defender de eventuais acusações de má conduta ética.

Na nota de hoje, a Prevent voltou também a dizer que sempre respeitou a autonomia dos médicos, "nunca demitindo profissionais por causa de suas convicções técnicas".

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.