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MPF investigará suposta ação de Michelle Bolsonaro para favorecer amigos

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

01/10/2021 16h50Atualizada em 01/10/2021 19h13

A Procuradoria da República no Distrito Federal irá investigar suposta ação de Michelle Bolsonaro junto à Caixa Econômica Federal, após denúncia feita pela revista "Crusoé" de que a primeira-dama teria agido para favorecer empresas de amigos na busca por créditos de programas emergenciais da Caixa, durante a pandemia do novo coronavírus.

A informação sobre a investigação foi confirmada pela assessoria de imprensa ao UOL. O MPF, no entanto, explicou que o tema será investigado dentro do inquérito que já apura as irregularidades na Caixa.

O UOL entrou em contato com a assessoria do Palácio do Planalto e aguarda posicionamento.

Sob o título "O Balcão de Michelle", reportagem da revista "Crusoé" publicada na edição de hoje diz que documentos indicam que Michelle tratou do tema pessoalmente com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Um e-mail divulgado pela publicação mostra uma assessora da primeira-dama avisando sobre o envio de "documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado créditos a juros baixos". A mensagem ainda faz referência a uma conversa telefônica entre Michelle e Pedro Guimarães sobre o assunto.

A revista diz que a Caixa chegou a abrir uma apuração interna depois que o sistema de controle detectou um "fato estranho". A auditoria, ao analisar processos de concessão de empréstimo, identificou a sigla PEP (acrônimo para 'pessoa exposta politicamente") e chegou a uma lista de indicações feitas pela primeira-dama, que incluía pessoas próximas a ela como a dona de uma rede de confeitarias de Brasília.

Segundo a Crusoé, os integrantes da lista aprovados foram enquadrados no Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e não há indícios de que os valores liberados extrapolassem os limites previstos pela lei.

Porém, diz a publicação, o processo para obtenção de crédito contrariou o fluxo normal, recebendo uma espécie de "tratamento vip". A maioria das operações de crédito se deu em uma mesma agência, em Taguatinga, que segundo a reportagem foi visitada por auditores que descobriram uma pasta "Indicações" no sistema de computadores. Ela concentraria os pedidos enviados por superiores do banco a respeito destas demandas.

Além da confeiteira, a lista tinha uma empresa com duas lojas em Brasília que já teria sido promovida pela primeira-dama e outras marcas que fazem parte do que a revista chama de um "círculo pequeno de gente bem relacionada" e de indicados por eles.

O Pronampe foi instituído em 2020 como medida emergencial de enfrentamento ao impacto econômico da pandemia da covid-19. Segundo a Caixa, foram concedidos R$ 22 bilhões em empréstimos a mais de 240 mil micro e pequenas empresas.

Em contato com o UOL, a Caixa disse que "submete as empresas ao seu rigoroso processo de governança, compliance e análise de riscos", que é feito mediante processo totalmente automatizado, independente e sem interação humana". (Leia a nota abaixo)

Porém, a empresa não respondeu diretamente sobre a investigação interna citada pela revista e não esclareceu se os prazos de liberação de crédito para as empresas indicadas por Michelle respeitaram o rito normal.

Deputado aciona MPF

Mais cedo, o líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), anunciou que acionou o MPF (inistério Público Federal) para que Michelle fosse investigada por tráfico de influência.

"Acabo de acionar o MPF para que Michelle Bolsonaro seja investigada por tráfico de influência", declarou o parlamentar no Twitter hoje. "Michelle Bolsonaro interferiu na Caixa Econômica para que empresários bolsonaristas fossem favorecidos com empréstimos do governo. Vamos exigir investigação", afirmou em outra publicação.

Veja na íntegra a nota da Caixa:

A CAIXA informa que a concessão de crédito para empresas no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (PRONAMPE) exige obrigatório enquadramento prévio pela Receita Federal do Brasil, de onde advém, portanto, a lista de empresas que podem ser analisadas.

A partir da lista da Receita Federal, a CAIXA submete as empresas ao seu rigoroso processo de governança, compliance e análise de riscos.

O rito de análise de riscos na CAIXA ocorre mediante processo totalmente automatizado, independente e sem interação humana.

A CAIXA concedeu mais de R$ 22 bilhões de empréstimos pelo PRONAMPE, para mais de 240 mil Micro e Pequenas Empresas (MPE), todos eles obedecendo ao mesmo rito interno.